tag:blogger.com,1999:blog-19939673264501312232024-03-04T12:23:33.500-08:00Sistema Muito NervosoRico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.comBlogger247125tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-40944279962672990202024-01-01T16:28:00.000-08:002024-01-01T16:28:09.008-08:00O fim de ano e o fenômeno migratório da classe média<p>Pela segunda vez consecutiva, em 37 anos, evitamos o frenezi migratório da classe média que obriga todos os seus representantes a enfrentar sorrindo perrengues injustificáveis em áreas litorâneas, unicamente para se sentir inserido nos imperativos de diversão socialmente estabelecidos e exaustivamente massificados pela indústria do entretenimento para o período de fim de ano.</p><p>Trocamos as longas horas de estrada e estresse no trânsito por mais tempo efetivo e de qualidade com a família. Deixamos de nos preocupar com o preço do pedágio e da gasolina para desfrutar sem reservas do valor da convivência sem atropelos, dos raros instantes de livre preenchimento da ociosidade concedidos pelo capitalismo contemporâneo. Nos encontramos com a possibilidade de vida além do fluxo.</p><p>Ao mesmo tempo, continuamos a ser bombardeados pelo status quo. Suavizadas por narrativas de "renovação", "lei da atração" e "boas energias", práticas supersticiosas puramente alegóricas invadem o horário nobre dos meios de comunicação para alcançar e se cristalizar no inconsciente coletivo, ensinando os indivíduos a terceirizar a responsabilidade sobre os resultados de suas vidas ao relacionar ganhos financeiros, relacionamentos afetivos, saúde - e tudo o mais que for possível - aos astros, às cores da vestimenta, ao cumprimento de uma gincana de tarefas tão inócuas quanto estapafúrdias para atingir seus objetivos.</p><p>Assistimos, do conforto de nossa casa, se repetirem as mesmas reclamações e problemas de infraestrutura de cidades turísticas inchadas. Falta o básico: água, comida, segurança, sossego. São centenas de individualismos conflitantes, competindo pelo mesmo espaço nas faixas de areia e frequências sonoras das praias, rapidamente tornadas impróprias para banho e sanidade mental pelos próprios frequentadores.</p><p>Escapamos ainda das mesmas filas quilométricas do trajeto de volta (e das tristes estatísticas de acidentes de trânsito que povoam os noticiários pós-feriado). Inicio este novo ciclo - que não tem nada de místico e marca tão somente o tempo que este pálido ponto azul de forma geoide que habitamos leva para orbitar o Sol - da forma que mais me agrada: escrevendo. E lamentando que ainda haja tantos de nós que nem percebam o quanto estão presos a convenções e comportamentos irrefletidos. E pra não dizer que não falei das flores: um feliz (e livre) ano novo! </p><p><br /></p>Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-25494075703827124432023-12-23T17:08:00.000-08:002023-12-23T19:10:13.646-08:00Nada vai bater tão forte quanto a vida<p>Tá certo, eu admito que roubei esse título do discurso motivacional que o Rocky Balboa faz ao filho no último filme da franquia (por favor desconsidere os caça-níqueis da trilogia "Creed"). O fato é que, diferente do que pode parecer, não me considero propriamente um fã do trabalho do Sly, mas a metáfora do boxe como um campo de cultivo da persistência e aprimoramento pessoal constante, sempre presente nas sequências que acompanham os altos e baixos da carreira do <i>italian stallion</i> - com o perdão do trocadilho - me acerta em cheio.</p><p>Isso porque você não precisa ser um pugilista profissional para enfrentar suas batalhas, ser nocauteado e decidir se vai ficar no chão ou continuar lutando antes da contagem final. Todo e qualquer ser humano e, por definição, consciente, alguma vez na vida já se sentiu diante de situação desafiadora e, de alguma forma, semelhante.</p><p>Eu mesmo nunca subi num ringue. Mas batalhei a vida inteira com um corpo que não responde aos estímulos na mesma velocidade do meu intelecto. Tive de entender e aceitar o meu próprio tempo e mobilidade para criar soluções adaptadas às minhas particularidades e, dessa forma, chegar ao topo de cada escadaria que um dia me propus a vencer. </p><p>Os meus Dragos e Mr. Ts são muito mais do que punhos erguidos esperando uma brecha na defesa para me acertar. São a construção cotidiana da percepção interna de que, apesar de todas as limitações motoras, tenho comigo a capacidade de enfrentar um mundo que não foi pensado para pessoas como eu, que dificulta o acesso a todos os espaços públicos, opções culturais e ao ensino superior por falta das adaptações necessárias.</p><p>Contra esses adversários, minha resposta veio na forma de dois diplomas universitários e uma pós-graduação. Veio na conquista da CNH contrariando muitas expectativas. Ou ainda no exercício de ocupação compatível com minha formação e remunerada apropriadamente, de acordo com o trabalho realizado. </p><p>Minha intensão aqui não é a da autocongratulação (até porque basta que sejam oferecidas as condições necessárias para que toda e qualquer pessoa com deficiência possa alcançar resultados semelhantes ou ainda melhores que os meus). É antes a de desfazer a noção comum que associa a deficiência física (ou qualquer outra) com fraqueza, com debilidade. A verdade é que a maioria dos indivíduos que olham para o PCD com preconceito ou pena, não aguentaria 10 min. se fosse colocada em nossa realidade. Essas pessoas certamente jogariam a toalha ainda no primeiro round. </p><p>Você chamaria de fraco alguém que passou por uma cirurgia sem anestesia? Pois é, isso não é roteiro de filme, foi exatamente o que aconteceu comigo. Há muitos anos atrás, dei entrada em um hospital para a remoção de um abscesso. Com o tecido em torno do local inflamado, a anestesia aplicada não surtiu efeito, e mesmo com meus repetidos protestos e avisos de que estava sentindo todo o procedimento, o médico responsável seguiu com as incisões e raspagem. </p><p>A despeito da fúria e indignação sentida, na época o que me ajudou a superar toda a dor da experiência foi justamente um trecho do discurso que dá título a esse texto. Lembro de trazer à mente que, assim como no boxe, na vida "não se trata de bater duro, se trata do quanto você consegue apanhar e seguir em frente. O quanto você é capaz de aguentar e continuar tentando."</p><p><br /></p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/jF9_7OWogIE" width="320" youtube-src-id="jF9_7OWogIE"></iframe></div><br /><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-19265563087772984802023-12-17T11:25:00.000-08:002023-12-17T11:28:56.186-08:00O dia em que "salvei o mundo" junto com Clarice Herzog (e não fiz nenhum registro para provar)<p>Pois é, até bem pouco tempo atrás, acreditei que poderia mudar o mundo... Quem roubou minha coragem? Lá pelos idos de 2010-13, ao lado de um bando de malucos ambientalmente conscientes, integrava as fileiras do Ecoberrantes, sob a tutela da insubstituível jornalista e ativista Teresa Urban (1946-eterna).</p><p>Muito antes do "dia do fogo", do "ir passando a boiada" e do "aquecimento global é coisa de ecochato e impede o desenvolvimento da economia" que - olha só, quem diria? - tem culminado na oscilação extrema do clima que o mundo todo vem enfrentando nos últimos anos, nós, assim como tantos grupos que ousavam pensar no futuro climático, ocupávamos espaços públicos com intervenções artísticas, coleta de assinaturas e manifestações que já alertavam para a importância da floresta em pé, e para os riscos e consequências da flexibilização das leis ambientais no Brasil.</p><p>As atividades do nosso grupo na capital paranaense chamaram a atenção do S.O.S. Mata Atlântica, e por conta do barulho que estávamos fazendo, fomos convidados pelo Mário Mantovani para ir até São Paulo colaborar na elaboração da campanha "Floresta Faz a Diferença". E assim fizemos: colocamos as esperanças na mala e fomos - minha querida amiga Bianca e eu - integrar a reunião.</p><p>Uma vez lá, sentamos à mesa com pessoas muito especiais, entre elas o inspirador Rafael Jó Girão (que hoje é um dos diretores do <a href="https://agirambiental.org.br/">Instituto Agir Ambiental</a>) e, claro, Clarice Herzog, a incansável ativista que transformou a perda do marido Vladmir Herzog para os horrores e arbitrariedades da ditadura no Brasil, em propósito e força na busca pela verdade.</p><p>Essa mulher é tão forte e relevante para a história deste país que teve a sua história contada no livro "Heroínas desta História", organizado por Carla Borges e Tatiana Merlino e publicado pela Autêntica Editora, além de ser referenciada em uma das obras mais importantes da música brasileira: "O Bêbado e a Equilibrista", de Aldir Blanc e João Bosco, se tornando um símbolo de resiliência entre os que perderam familiares naquele contexto histórico.</p><p>Pois bem, entre as lembranças que tenho daquela reunião, a mais marcante delas é a da própria Clarice me perguntando qual era o que identificávamos como o principal desafio de sensibilizar o público para as questões ambientais relacionadas à preservação da Floresta Amazônica. A minha resposta foi, na ocasião, que o principal desafio, para nós sulistas, era mostrar para as pessoas que, mesmo geograficamente distantes da floresta, nossas ações também têm impacto sobre ela, uma vez que as condições do meio-ambiente são afetadas por uma série de sistemas interconectados, um influenciando no equilíbrio do outro.</p><p>"Gostei da sua perspectiva, rapaz!", foi o que ela disse após o fim da minha fala. O desafio era mesmo fazer o público em geral compreender que todos nós temos o nosso quinhão de responsabilidade, seja pela forma como nos alimentamos, como consumimos os recursos naturais disponíveis e a forma como esses modelos de consumo definem os padrões adotados pela indústria. </p><p>Preciso dizer que o incentivo e a vivacidade presente nas palavras de alguém a quem eu tanto admirava (e sigo admirando) me fizeram uma pessoa diferente hoje, mais confiante e muito mais determinado a defender da mesma forma tudo em que acredito. Tenho certeza que sou apenas mais uma das pessoas que foram transformadas pelo contato com ela mas se um dia esse texto chegar até ela, gostaria que soubesse que mudou a minha vida.</p><p>Não tenho ciência de quantas reuniões mais foram feitas e nem quantos setores das sociedade foram ouvidos até a elaboração final da campanha, mas lembro de ter sentido muito orgulho ao ver personalidades da época portando cartazes e desenvolvendo falas em apoio à campanha que, de certa forma, ajudamos a estruturar. A única coisa que lamento é não ter tido coragem de pedir à Clarice uma foto, embora esse encontro tenha ficado gravado para sempre em meu coração.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht5USYdiwowcqrZl1CZxKKFP8EKXu5vKvcE9fcuZKns3IF7g94M2D0wc6CFHuTfT97qgxHK1x6o-odP6mHTQ4SCaEh81Hw3HGouHFBQRqguRqVsSVfA4vzweEtfAKKiVHGss2mSklkW0YJFztb6NZF8FEJMZdxrPTprrHjW_-n491CTM_g2czyeSN8v99I/s720/assinaturas.jpeg" style="display: inline; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="638" data-original-width="720" height="356" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht5USYdiwowcqrZl1CZxKKFP8EKXu5vKvcE9fcuZKns3IF7g94M2D0wc6CFHuTfT97qgxHK1x6o-odP6mHTQ4SCaEh81Hw3HGouHFBQRqguRqVsSVfA4vzweEtfAKKiVHGss2mSklkW0YJFztb6NZF8FEJMZdxrPTprrHjW_-n491CTM_g2czyeSN8v99I/w400-h356/assinaturas.jpeg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Esse aí sou eu colhendo assinaturas contra as alterações do Código Florestal, em 2011 (quanta ingenuidade)</div><p> </p><p> </p>Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-63329440591881169682023-12-13T19:25:00.000-08:002023-12-15T14:06:09.262-08:00A resposta que eu (não) dei... Em bom português <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1LWNhn8hmmQFejNTDF-afT4zcVuYSiSfCv7wA2CUiaPRkGyREn4jy9Lz3Oyr2nsz4-jA1ZTUMXbozFtisGQT2CTIbGshnbk7gql5IeOti2ool8jBJ66GX71K6ouo8HNKhn8UMEca-O_Kf_sG23PbYDmP-ksz2umaeTrvsLw-lmFYMowlm5DOtCtj77O8K/s963/viagem.jpeg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="963" data-original-width="963" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1LWNhn8hmmQFejNTDF-afT4zcVuYSiSfCv7wA2CUiaPRkGyREn4jy9Lz3Oyr2nsz4-jA1ZTUMXbozFtisGQT2CTIbGshnbk7gql5IeOti2ool8jBJ66GX71K6ouo8HNKhn8UMEca-O_Kf_sG23PbYDmP-ksz2umaeTrvsLw-lmFYMowlm5DOtCtj77O8K/s320/viagem.jpeg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Indo buscar o que Cabral levou... 🇵🇹</td></tr></tbody></table><br /><p><br /></p><p><br /></p><p>Há algum tempo atrás lembro de ter lido sobre a declaração de alguma personalidade política ou midiática (talvez ambos), que lamentava o fato de o povo brasileiro não ter o mesmo envolvimento com a cultura lusitana que os portugueses teriam com os nossos produtos de entretenimento para exportação. Pois, afinal, nas palavras dele, somos nações irmãs.</p><p>Muito que bem. Lanço então uma pergunta ao leitor: você chamaria de irmão alguém que 1) veio até a sua casa sem ser convidado; 2) questionou a legitimidade de sua posse - mais que isso, arbitrariamente se declarou o novo dono dela, ignorando seus laços históricos e culturais com a terra; 3) saqueou seus pertences; 4) tomou à força mulheres e filhas; 5) escravizou seus filhos; 6) trouxe guerras e doenças que dizimaram seus parentes e 6) promoveu ativamente o apagamento de sua herança cultural, impedindo suas práticas religiosas, tradições e a transmissão do idioma nativo? Eu não.</p><p>Embora meu DNA compartilhe pouco com o dos povos nativos brasileiros, procuro ativamente conhecer a história do meu país e reconheço o lamentável papel que meus ancestrais europeus tiveram na pilhagem que os livros de história chamaram de "descobrimento".</p><p>Por ter ciência desse contexto histórico, quando saí do pais pela primeira vez para conhecer Portugal, postei uma foto nas redes sociais com a seguinte legenda: "Indo buscar o que Cabral Levou". Obviamente, em tom de brincadeira.</p><p>Durante o período em que lá estivemos, fizemos amizade sincera com o guia que nos acompanhava e, claro, o adicionamos às nossas redes para contatos futuros. Em dado momento, ele chega até a postagem e, a partir dela, desenvolve-se uma conversa.</p><p>Com ar professoral, o português se esforça para reforçar a perspectiva oficial, argumentando que, naquele recorte histórico, aquela porção de terra (que depois viria a se descobrir que tinha dimensões continentais) não havia sido reclamada por nenhuma nação "civilizada", com um rei constituído e que, portanto, Portugal tinha o direito de fincar nela o seu marco.</p><p>A resposta que não dei naquela oportunidade - em parte para evitar qualquer ofensa ao meu amistoso interlocutor, em parte para evitar que uma contenda precoce afetasse negativamente minha experiência no pais estrangeiro - passava pela constatação de que a percepção dos povos originários como incivilizados é um absurdo fundado apenas na ignorância.</p><p>Não é intelectualmente honesto aplicar a mesma régua para traçar noções gradativas para a organização social, as relações de poder ou mesmo a complexidade das manifestações culturais de um grupo, utilizando assim apenas um critério comparativo, sem considerar as particularidades de cada contexto onde as civilizações foram formadas.</p><p>O fato de a relação dos povos com a terra e organização do poder no "Novo Mundo" se dar de forma diferente da que ocorria na lógica imperialista europeia da época, não pode ser utilizado como sinônimo de incivilidade. Perpetuar essa visão serve apenas para cristalizar a noção de que existia "o jeito certo" de viver, em contraste com aquilo que era visto como barbárie por falta de aprofundamento nos costumes e cultura locais, ou mesmo por uma deslegitimação deliberada da cultura nativa por parte dos colonizadores.</p><p>Para tornar a empreitada da colonização viável e economicamente lucrativa no Brasil recém descoberto, uma série de violências foram perpetradas contra a população nativa. Essas violências têm reflexo até nos dias de hoje, e não há como negar que a história desses povos e a nossa enquanto país teria sido muito diferente se o encontro entre as duas culturas tivesse sido o de troca de experiências e coexistência pacífica ao invés do massacre que nos contam os registros históricos </p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p> </p><p> </p><p><br /></p>Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-30960809458197414532023-12-11T16:44:00.000-08:002023-12-11T16:47:32.261-08:00O gringo que tentou comprar respeito - uma história lamentavelmente R($)eal<p> Faltava ainda a perna mais longa do trajeto para finalmente desembarcar em Portugal. Esperávamos - cerca de vinte pessoas bem sortidas -, na sala de embarque, pelo serviço terceirizado de auxilio deslocamento fornecido <b>gratuitamente</b> pelo aeroporto.</p><p>Alguns conversavam entre si, outros mergulhavam no torpor dos celulares para fugir da inércia da espera, quando entra em cena um gringo de compleição monumental, sendo empurrado em uma cadeira de rodas por uma funcionária com um terço das medidas corporais do homem, mas o dobro da determinação.</p><p>Ela interrompe o périplo por um instante e tenta explicar ao gringo que, para o maior conforto dele próprio, deveria aguardar cinco minutos, no máximo, pela a chegada de uma nova cadeira de rodas mais apropriada ao seu tipo físico. Tudo isso com toda a educação do mundo.</p><p>A pedra de Sísifo então se exalta e começa a dirigir impropérios à moça que, minutos antes, tracionava a cadeira como quem vence uma colina com o mundo nas costas. Com incredulidade, os presentes observam o desenrolar da celeuma.</p><p>Tentando acalmar os ânimos, outro funcionário vem ao socorro da colega. O novo contendor, mais enfático mas nem por isso menos educado, reforça que a medida é apenas um procedimento padrão e que visa apenas o bem-estar do passageiro. </p><p>Irredutível - e cada vez mais satisfeito com a atenção recebida -, o gringo dispara um sonoro "cale a boca, você está aqui para me servir, uma vez que paguei pelo embarque antecipado". À essa altura, a incredulidade dos espectadores involuntários se transformava em indignação. E já se ouviam vozes esparsas soltando um "gringo babaca" aqui, "deixa que se vire sozinho", acolá.</p><p>O atendente se impôs lembrando que aquele serviço, embora deva ser solicitado, não requer pagamento adicional do passageiro, que estava sendo conduzido da melhor forma possível - apesar da falta de educação que demonstrava - por cortesia, de forma gratuita. Ao que a pequena multidão aplaudiu.</p><p>Desencorajado pela manifestação dos terceiros, o individuo pareceu perceber o papel que desempenhava e amenizou o tom. Sendo propositadamente preterido em favor de outros passageiros, tentou se desculpar com os atendentes mas teve que amargar exatamente aquilo de que tentou fugir: a espera estendida.</p><p>Claro que em algum momento o passageiro foi embarcado com sucesso. Mas antes que fosse capaz projetar sua mesquinhez através do valor do seu dinheiro, teve ele de aprender que, sim, há virtudes que escapam da economia de trocas espúrias do capitalismo. </p><p> </p><p> </p>Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-67864081775856656092023-12-10T10:46:00.000-08:002023-12-11T14:34:42.083-08:00Por trás de todos os preconceitos está a mesma ignorânciaNão sei se já falei disso abertamente aqui mas eu sou PCD (Pessoa Com Deficiência, nesses termos, sem aquele eufemismo idiota e impreciso de "portador de necessidades especiais"). E, tendo experienciado essa condição desde que nasci, tive contato, cedo demais para compreender, com o pior do ser humano: o julgamento prévio das minhas capacidades, olhares penosos disfarçados, comentários depreciativos ditos sempre à meia voz, exclusão e até mesmo violência física. Esse combo de falta de virtudes pode ser aglutinado e traduzido em uma única pedra salgada: <b>preconceito.</b><div><br /></div><div>E o que é todo esse lixo senão a manifestação do mesmo comportamento primal residual, emergindo apesar de séculos de polimento civilizatório, que mantinha o diferente apartado para proteger o bando? A mente limitada do preconceituoso trabalha nos mesmos moldes animais de outrora, segmentando, diminuindo e isolando aquilo que não tem capacidade de compreender.</div><div><br /></div><div>Nesse sentido, me permitindo extrapolar a reflexão, pouco importa a "categoria" do preconceito. Étnico, de classe, de gênero, religioso (até mesmo astrológico ou futebolístico), todos compartilham da mesma origem, do mesmo mesmo medo. </div><div><br /></div><div>A complexidade do fenômeno do preconceito começa a surgir quando indivíduos maliciosos percebem que é possível operacionalizar esse medo comum, estimulando e se utilizando dele como ferramenta para manipulação da percepção pública, com vistas a alcançar objetivos sociais e financeiros para si ou para o grupo ao qual pertencem.</div><div><br /></div><div>Essa manipulação faz nascer na sociedade a ideia de que certos grupos não têm direito de acessar espaços, conquistar direitos, exercer funções, expressar crenças ou opiniões diferentes daquelas que são consideradas aceitáveis dentro da estrutura dominante.</div><div><br /></div><div>Para que o leitor não pense que tudo isso não passa de "baboseira ideológica", vamos a um exemplo prático. Há alguns anos, eu trabalhava produzindo conteúdo para um guia cultural e gastronômico online. Conversando com um proprietário de restaurante árabe sobre a acessibilidade do local, ouvi do meu interlocutor que não investiria nas adaptações necessárias porque "não queria que <b>esse tipo de gente</b> fosse ao estabelecimento dele". Não creio que teria feito qualquer diferença se tivesse dito que eu mesmo fazia parte daquele tipo de gente. Se hoje temos leis que asseguram o livre acesso da pessoa com deficiência a todos os espaços públicos, é porque muitos lutaram contra o preconceito do tipo de gente daquele empresário.</div><div><br /></div><div>Da mesma forma, também tiveram de lutar os negros para derrubar leis segregacionistas em muitos países que os impediam de frequentar quaisquer estabelecimentos, matricular os filhos em quaisquer escolas, sentar em qualquer lugar no ônibus.</div><div><br /></div><div>Assim como lutaram as mulheres para frequentar universidades, para ter o próprio negócio sem necessitar da aquiescência do marido, para expressar sua opinião política por meio do voto, para superar noções preestabelecidas de que seriam naturalmente menos aptas do que homens para a prática esportiva ou para atuar em diversas áreas.</div><div><br /></div><div>É importante lembrar que o caminhar da sociedade não é linear. Que apesar de todos os esforços e avanços traduzidos em politicas públicas inclusivas, ações afirmativas e da aparente intensificação dos diálogos sobre diversidade, grupos como o de pessoas trans têm a sua vida ameaçada diariamente pelo preconceito, e ainda luta pelo direito mais elementar: o de existir da forma como sentem que devem existir.</div><div><br /></div><div>Já ouvi, dentro da família inclusive, que não há como exigir das pessoas que não hajam de forma preconceituosa porque "elas sempre foram assim". Já ouve um tempo em que a escravidão era vista como algo aceitável; Já ouve um tempo em que tratamentos com "chá de livro velho", sangue-sugas ou lobotomia faziam parte das práticas médicas; as coisas mudam. </div><div><br /></div><div>Se você tem em seu convívio qualquer pessoa - um filho, um parente, um amigo - que possa se enquadrar em grupos que sofrem preconceito, procure conversar com ele, saber da experiência dele, do peso injustificado que a sociedade o obriga a carregar diariamente e ofereça acolhimento, compreensão, empatia. Aprenda com a vivência dele e procure estender a mesma compreensão que você dedica à pessoa que você ama aos demais grupos minoritários. </div><div><br /></div><div>Pois, como já vimos, o preconceito nasce do mesmo medo, da mesma ignorância, do mesmo ódio. E já é tempo de quebrar essa corrente. </div>Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-37608490569714177462023-07-08T07:57:00.004-07:002023-07-08T07:59:34.906-07:00Forma e Conteúdo<p>O conto que segue (poético demais e fantasioso de menos) foi recusado por uma coletânea de literatura fantástica pelo seu caráter não "tradicional". Aparentemente, a fantasia que presta, é somente aquela que se presta a falar de morte. Aquela que anda de mãos dadas com o grotesco, ou que se rende ao simulacro de tudo o que já se fez. </p><p>Então Tolkien não falou dos encantos da vida simples quando imaginou o Condado em O Hobbit? A jornada da Sociedade do Anel não é então uma ode ao companheirismo e à esperança na união dos homens para alcançar dias melhores? </p><p>Enfim, já estive nesse lugar e sei o quanto me custou. Aproveito então este espaço que é meu, para dividir com todos que se deixarem tocar por elas, as letras do jeito que elas mesmas decidiram ser. Com fantasia sim, expressa com suavidade e alguma reflexão.</p><p><br /></p><p>...</p><p><br /></p><p style="text-align: center;"> <span style="font-family: arial;">Forma e conteúdo</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-family: arial;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">Era um homem que gostava um bom bocado de conversa. Nas
maçãs do rosto, o tom cereja que lhe conferia sempre um sorriso em fogo brando,
mesmo depois do banho. Maria, que lhe pegava no pé, desde moleque, dizia dele: “este
tem melado na fala e nada na caçarola”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">A despeito de toda língua de sogra, gostava de ouvir o doce
ou amargo que fosse do cozer da vida alheia. Não para degustar daquilo que
normalmente se mantém escondidinho, mas para oferecer o conforto balsâmico de
um conselho agridoce aos humores destemperados.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">E enquanto se ocupava da redução dos dissabores do mundo,
tomava (e comia) para si o peso dos amores malpassados, da amizade que
desandou, da carreira sem consistência, da falta de cobertura moral, da vida
sem açúcar nem sal.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">Tentando sovar a massa excedente e se manter otimista, foi à
nutricionista. Ela, dos cabelos flambados e voz de canela, mais que cardápio e
tabela, quis saber dos sentimentos que botava na panela.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">Se serviu das palavras para pôr tudo em pratos limpos: “há
muito mais à mesa do que do que se pode digerir”, começou ele. E destrinchou
tudo o que lhe alimentava o espírito e avolumava o corpo.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">Com raiva entre os dentes, criticou a opulência do homem que
desperdiça a carne enquanto ao lado outros são obrigados a roer os ossos. Sentiu
na boca o fel da fome ao se compadecer do nativo desnutrido, da criança
esquálida, do pedinte desvalido.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">Ao marinar seus
pensamentos por um instante, se fez doce de repente. Lembrou que além do
azedume reinante, ainda há quem torne a vida mais al dente. Há quem doe preparo
e mantimento, há quem mantenha orgânico o sentimento.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">A especialista ouvia e se inspirava. Suas crenças às dele,
sem reserva, misturava. Enquanto trocavam receitas de vida, seus sentires davam
liga e um fenômeno incomum se processava. </span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">Como em uma massa que aos poucos vai absorvendo os
ingredientes, ela passou a se reconhecer nele. E ele passou a sentir em si
muito do que era dela. Seus sonhos, medos e membros lentamente se confundiram
em um produto doce e homogeneizado.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: arial;">O amor untou a forma
e o conteúdo garantiu o seu formato. De tanto se sentirem próximos, o casal se
transformou em bem-casado.</span></span></p>Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-26286405638971661142022-09-14T15:48:00.000-07:002022-09-14T15:48:01.216-07:00O homem turvo e a menina dos pés descalços<p>O homem se derrete sobre o travesseiro. Sua memoria muscular evapora e vai se condensar no teto de madeira. Escolhe não lembrar do quão vivo esteve um dia. E se abandona... As pálpebras estão forçosamente unidas por uma substância umectante e sem nome, misto de lágrima e autocomiseração.</p><p><br /></p><p>Balbucia, esse homem, o básico, menos que o básico, o mínimo, ou menos... Lutando em dizer o que resta em si: fome, dor, medo... e punção de morte. A vida teimando, ancorada em doses diárias de saúde sintética.</p><p><br /></p><p>A menina dos pés descalços se compadece e se desdobra em zelo. Acolhe quando outros guardaram sua humanidade para si. E estende os braços em todas as direções. É o esteio dos passos incertos, a digna mão que alimenta e afasta as impurezas do corpo, a oração que lava os excessos de uma vida derramados pelo chão.</p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-56781993811154710202020-09-21T17:31:00.001-07:002020-09-21T17:40:52.541-07:001.000 ao meu lado 10.000 à minha direita - Reflexões (quase) Metafísicas<p><br /></p><p><br /></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvfD501WdOnltRl5QOqrMWmFgev2fLLfMfTRAcKPD4M45cxgMIX_IadNIgDZ1_fFhqjFevJFE_Nrp1YiVZzakanjz5ToLsTsXvS9dxWUqbSKPjeaBY2oCabYiL0YWAUiizV3z_CLth7A34/s1920/e6dd5683215124eb2b2d94650fcd54b8.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1920" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvfD501WdOnltRl5QOqrMWmFgev2fLLfMfTRAcKPD4M45cxgMIX_IadNIgDZ1_fFhqjFevJFE_Nrp1YiVZzakanjz5ToLsTsXvS9dxWUqbSKPjeaBY2oCabYiL0YWAUiizV3z_CLth7A34/s320/e6dd5683215124eb2b2d94650fcd54b8.png" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br />Nem bem as primeiras reflexões metafisicas brotaram no solo arenoso onde agonizava minha semente de mostarda, a resposta padrão, o paraquedas reserva da fé cristã introjetado em minha mente durante toda uma vida foi acionado: "É tudo parte de um plano maior, um plano de tal forma miraculoso que a minha mente humana jamais seria capaz de alcançar". <p></p><p>Respiro fundo. Mas, ao invés de tirar os pés da água, mergulho...</p><p>Qual a finalidade ideológica dessa sentença? Ao que ela se presta realmente? Assim como a única lei do paraíso que mantinha o primeiro homem e a primeira mulher longe dos frutos da árvore da ciência do bem e do mal no mito fundador judaico-cristão - por que é isso que essa fábula é -, essa sentença busca manter o fiel aturdido, dominado pela ignorância. Pois um ser que se considere pequeno, insignificante demais diante do mistério, jamais vai se atrever buscar descortiná-lo, jamais vai buscar novas perspectivas de observação e interpretação do mundo que estejam de alguma forma em dissonância com a doutrina totalizante, que deseja penetrar cada aspecto de sua vida, que quer o seu tudo, que existe do rebanho nada menos que o sacrifício do intelecto.</p><p>Mordo a maçã... E antes de me mortificar como pecador, me liberto do pecado. Passo a existir não porque sou filho do criador, mas porque penso... E se penso... </p><p>E ao pensar sobre o plano de Deus - ou melhor, deus - recordo da passagem bíblica em que deus exige de Abraão o sacrifício de seu único filho somente para aplacar sua vaidade. O que é vendido há milênios como demonstração de fé, se tivesse lugar nos dias de hoje seria suficiente para por em dúvida a sanidade do pai e serviria de argumento para a perda da guarda do filho.</p><p>Perdas familiares também enfrentou Jó ao se tornar um joguete nas mãos de deus e o diabo. Suas virtudes foram postas na balança enquanto o diabo tomava do cervo de deus as posses, a saúde e toda a sua prole. Tendo se mantido fiel, deus multiplica suas benesses e concede a Jó uma nova descendência. Louvai e bem dizei? Eu sempre me perguntei se aquelas sete crianças e esposa que sofreram pestes sem razão aparente e morreram de forma precoce e por motivo torpe mereciam o destino que tiveram... </p><p>Pergunte o leitor também a qualquer pai que tenha perdido um filho (de forma precoce e por motivo torpe) se esse filho é de alguma forma substituível por outro que venha a nascer? Eu perdi um irmão, e posso lhe dizer, leitor, de cadeira, que essa é uma dor que jamais se cala no seio de uma família, não importa quanto tempo passe ou quantas benesses ela venha a experimentar.</p><p>Há ainda o servo de deus que buscou auxílio divino para que ursos devorassem 72 crianças que faziam troça de sua calvície... De que plano maior esse episódio grotesco pode fazer parte? Exemplos não faltam de "planos maiores", sobretudo nas páginas do antigo testamento.</p><p>Devo confiar então nesses planos enquanto há homens travando guerras, escravizando seus semelhantes, extorquindo fieis justamente em nome de deus? Quem sabe o meu distanciamento não seja grande demais para apreender o sentido da fé que me escapa? Outras doutrinas me trariam respostas melhores do que aquela que recebi de berço?</p><p>Resolvi peregrinar, conhecer de perto as diversas faces do divino, na esperança de encontrar alguma em que me encontrasse minimamente refletido e que fornecesse as respostas que eu procurava.</p><p>...</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/QVgZqnsytJI" width="320" youtube-src-id="QVgZqnsytJI"></iframe></div><br /><p><br /></p><p>Continua</p><p><br /></p><p><br /></p><p> </p><p> </p>Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-52106550911561085292020-09-18T18:59:00.006-07:002020-09-19T05:24:38.220-07:001.000 ao meu lado e 10.000 à minha direita... E ainda assim me tornei (e continuo) ateu<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEJARnsDyIlG05SfQfHknrlGUKf3XszOYnOjioq6SFVGMog1apZPf8UuV0BTkWrBR-DKQgI8lupsUsXpXApFKZVfczHvRXfzLi3h331SwMZOB4Q6mzGV6uC7MphEqNtb_qC_JhkZLqBkMb/s299/download.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="169" data-original-width="299" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEJARnsDyIlG05SfQfHknrlGUKf3XszOYnOjioq6SFVGMog1apZPf8UuV0BTkWrBR-DKQgI8lupsUsXpXApFKZVfczHvRXfzLi3h331SwMZOB4Q6mzGV6uC7MphEqNtb_qC_JhkZLqBkMb/w400-h226/download.jpg" width="400" /></a></div><br /><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span><p></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Já há muito tomei a decisão consciente de me <b><span style="color: #800180;">desligar de todo e qualquer rito</span></b> religioso irrefletido praticado unicamente em função do círculo familiar em que me encontro inserido. Mas mesmo antes de possuir qualquer ingerência sobre esse aspecto da vida, a religião quase custou a minha, furtando-me indiretamente a chance de existir.</span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Explico.</span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;">No ambiente rural em que minha mãe nasceu, havia pouco ou nenhum espaço para o <b><span style="color: #800180;">questionamento de ideias cristalizadas</span></b> pelo senso comum. Entre a lavoura, a pequena criação de animais, as tarefas da casa e o cuidado com os irmãos mais novos, o tempo se convertia em um bem escasso para dar uso a reflexões existencialistas e, quando elas vinham à luz, lá estava o catolicismo à espreita, com suas <b><span style="color: #800180;">respostas místico-morais</span></b> definitivas e inquestionáveis, capazes de abrandar a curiosidade natural - sem deixar de atemorizar a consciência - para desencorajar qualquer investida antidogmática futura.</span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;">E foi inspirada por esse ambiente - e por um desejo tão corajoso quanto revolucionário de <b><span style="color: #800180;">avançar nos estudos</span></b> além do ponto considerado suficiente para uma mulher do seu tempo e na sua condição social - que ela ingressou como interna em um colégio confessional. Nem é preciso dizer que esse caminho é incompatível com a maternidade.</span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Depois de estudar piano, latim e perceber que apenas farinha e água compunham a hóstia, a biologia falou mais alto que o chamado e eu pude conhecer o mundo. Não que essa "ruptura" tenha representado um lar menos impregnado de <b><span style="color: #800180;">símbolos, práticas e valores espiritualistas</span></b> durante minha tenra idade. Pelo contrário: na minha casa, sempre se orou e agradeceu "a tudo o que se tem e à aquilo que ainda vamos ter".</span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Cresci com o "santo anjo" na ponta da língua para penitências emergenciais de curto prazo e a sequência mecanizada do rosário pronta para remediar desvios maiores. </span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;">O principal da minha educação moral se construiu mesmo pelo <b><span style="color: #800180;">exemplo concreto</span></b>. A coerção pelo medo do flagelo divino, a condição de refém em uma guerra milenar entre <b><span style="color: #800180;">anjos e demônios</span></b> se digladiando pela pureza de minhas virtudes sempre me pareceu por demais <span style="color: #800180;"><b>fabulosa</b></span> - "fabulosa" aqui empregado em seu sentido literal - para realmente assombrar meus pensamentos e condicionar meus atos.</span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Aos 14 anos, porém, busquei a catequese de "adultos" para responder às convenções sociais e estreitar os laços com familiares pelos quais tenho muito amor e desde sempre quis chamar de padrinhos. </span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Salta à lembrança um episódio da época em que trouxe espanto à catequista ao perguntar a perspectiva bíblica sobre o ato da autossatisfação sexual. Foi interessante notar uma mulher adulta confrontando seus próprios tabus ao mesmo tempo em que buscava uma narrativa que reforçasse o seu <span style="color: #800180;"><b>papel socialmente esperado</b></span>.</span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"> Na escola - também confessional - a oração surgia como uma obrigação diária antes de adentrar ao conhecimento. Os mesmos dogmas, as mesmas doutrinas competindo com o darwinismo, a biologia, a física na tentativa da criação de uma <b><span style="color: #800180;">falsa simetria</span></b> que meus olhos infantes ainda não eram suficientemente imbuídos de ceticismo para notar. Minha afinidade com a palavra escrita me levou, inclusive, a entregar um poema ao bispo de Curitiba à época. Poema esse que nem uma cópia eu guardei.</span></p><p><span style="font-family: arial;"><span style="font-size: medium;">A <span style="color: #800180;"><b>fissura nesses alicerces</b></span> começou a aparecer somente muitos anos depois. Já na vida adulta, leitor contumaz, tomei contato com o livro <b><span style="color: #800180;">"</span></b></span><span style="background-color: white;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="color: #800180;">Éramos jovens na guerra: Cartas e diários de adolescentes que viveram a Segunda Guerra Mundial"</span></b><span style="color: #111111;"> (Sarah Wallis/Svetlana Palmer - Editora Objetiva). Um dos relatos me tocou profundamente, trazendo reflexões inevitáveis. </span></span></span></span></p><p><span style="font-family: arial;"><span style="background-color: white; color: #111111;"><span style="font-size: medium;">Um jovem judeu, prisioneiro na Polônia ocupada por Hitler, relata as agruras de </span></span></span><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: #111111;">Auschwitz e, em seu desespero, escreve: </span><b><span style="color: #800180;">"Se Deus existe, ele vai ter de implorar pelo meu perdão"</span></b><span style="color: #111111;">. </span></span></p><p><span style="background-color: white; color: #111111; font-family: arial; font-size: medium;">Após ser impactado pela dureza dessas palavras e, de certa forma, comungar dessa dor, deitei o livro ao colo e chorei.</span></p><p><span style="background-color: white; color: #111111; font-family: arial; font-size: medium;">A fé judaica é um dos principais elementos de união e distinção de um povo que, historicamente, foi alvo de muitas perseguições e esteve envolvido em disputas territoriais. Para que um de seus filhos abandonasse suas convicções mais basilares e fizesse tal registro, sua desesperança e sentimento de abandono devem ter sido lancinantes.</span></p><p><span style="background-color: white; font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: #111111;">Lembro que o pensamento que me dominou por semanas foi o seguinte: se existe uma providência, uma presença superior, de amor infinito que rege o universo e de tudo tem ciência mesmo antes de cada movimento de cada partícula viva, </span><span style="color: #800180;"><b>por que essa entidade permite a ocorrência de tais atrocidades passivamente</b></span><span style="color: #111111;">? </span></span></p><p><span style="background-color: white; color: #111111; font-family: arial; font-size: medium;">...</span></p><p><span style="background-color: white; color: #111111; font-family: arial; font-size: medium;">Continua... </span></p><p><span style="font-family: arial;"><span style="background-color: white; color: #111111;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></span></p><p><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><p><span style="font-size: medium;"><br /></span></p>Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-60421018167284149362020-07-19T19:42:00.001-07:002020-07-19T19:55:20.195-07:00Mortalha A urgência solitária da ambulância rasga a mortalha da noite<br />
Arfa o homem, tentando manter dentro de si os segundos que lhe escapam<br />
Pilulas de oração (e pós-verdade) conduzem os lamentos dos dias correntes<br />
<br />
<br />Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-61115366967994937092020-04-04T19:21:00.000-07:002020-04-04T19:21:12.922-07:00Eu lhe ofereço a palavra...Cada passo que arrisquei foi para ser lido. Reconheci-me como indivíduo, formulei caminhos mentais, organizei minha visão de mundo para ser lido. Mesmo antes de conhecer as letras, toda e qualquer construção física e social a que me submeti, consciente ou inconscientemente, teve como reflexo e objetivo germinar um artífice da palavra.<br />
<br />
Instrumento humilde da costura textual, emprego algum repertório de vivencia ou ruminação acumulado às divagações estilísticas da prosa ou poesia e nelas me reconheço. Mais que isso, através delas me ofereço ao escrutínio do mundo.<br />
<br />
Tiro de mim a luz que me anima e a estendo aos olhos do leitor. Acolho o júbilo, absorvo a crítica do mesmo modo: vulnerável, ansiando pela semente bem plantada, pela reflexão que encontra eco nas vibrações do receptor. Ou, quem sabe, pela experiência solitária e única do deleite.<br />
<br />
E quando a palavra encontra um modo de preencher o leitor de algo que lhe falte, ela então molda a si mesma, em sentido e contorno, a um novo universo interior e se torna recurso para criações particulares, em um fluxo de mutação continuo vivificante.<br />
<br />
Há, no entanto, o terreno estéril da indiferença. A semente de mostarda que míngua em solo arenoso. Infecunda, a palavra não lida deixa escoar no nada o seu sentido. É casa ornamentada em todas as suas minúcias mas vazia. É o rompimento do propósito do beletrista.<br />
<br />
Nesse momento, também eu sou lacuna, sou aquilo que poderia ter sido. Existo somente em potência porque morri em experiência.<br />
<br />
E me questiono. Se tenho eu o direito de continuar escrevendo, trazendo linhas ao mundo que jamais vão se ligar às vidas alheias. Há muitos anos, cada novo novo texto já nasce sendo o último. E eu me agarro à esperança implícita nas reticências... Antes do ponto final. Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-53048127813747606072020-03-21T19:44:00.000-07:002020-03-21T19:45:17.619-07:00Três linhas de solidão...O espaço urbano aproxima as solidões. Por entre as ranhuras do concreto luta o orgânico para semear as relações. O homem na rua veste máscara por sobre a máscara habitual.Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-72181202425032962362020-03-11T19:43:00.000-07:002020-03-11T19:43:35.111-07:00Propósito<span style="background-color: white; color: #4b4b4b; font-family: "arial" , "tahoma" , "helvetica" , "freesans" , sans-serif; font-size: 14.85px;">Preso na lógica robotizada dos dias correntes, percebe as luzes da iniquidade esmaecendo até mesmo seus fluidos internos. Houve um tempo em que o tempo podia ser medido pelos ciclos de pulsação de seu proposito. Hoje, apenas o seu silêncio é combativo.</span><br />
<br style="background-color: white; color: #4b4b4b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14.85px;" />
<span style="background-color: white; color: #4b4b4b; font-family: "arial" , "tahoma" , "helvetica" , "freesans" , sans-serif; font-size: 14.85px;">Nas ruas, um surto de conformismo se mistura ao regozijo tão asséptico quanto violento da impessoalização programática. O homem é o panóptico do homem.</span><br />
<br style="background-color: white; color: #4b4b4b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14.85px;" />
<span style="background-color: white; color: #4b4b4b; font-family: "arial" , "tahoma" , "helvetica" , "freesans" , sans-serif; font-size: 14.85px;">A verdade, desmembrada de todas as suas virtudes, confunde-se com os códigos binários geradores de entendimentos binários. Formula então o pensamento dominante, que esmaga as humanidades com mão invisível e coração estéril. O futuro deixou de acreditar em si mesmo.</span><br />
<br style="background-color: white; color: #4b4b4b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14.85px;" />
<span style="background-color: white; color: #4b4b4b; font-family: "arial" , "tahoma" , "helvetica" , "freesans" , sans-serif; font-size: 14.85px;">A queda crepitante do arbóreo envolvimento coletivo deu lugar a um céu enegrecido de contraproducências institucionalizadas. O Estado atrai para si, além do monopólio da violência, o monopólio do absurdo. O cotidiano não é mais que uma piada infrutífera diante das lentes do mundo.</span>Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-84173906840696786662018-12-28T11:55:00.000-08:002018-12-29T01:32:24.964-08:00Cada fração de vocêVivo uma urgência em fixar seus detalhes. Nunca, como agora, sua risada pareceu se dispersar no ar com tamanha brevidade. Busco entrelaçar as tuas silabas, o teu tom de voz, por entre esses dedos de beletrista, na esperança de que decidam acomodar-se côncavas na minha mão fechada e permanecer comigo para além do tempo.<br />
<br />
Aguço o olhar para apreender o minimo gesto nas prateleiras da memória. Procuro dar significado às amenidades, aos sonhos relatados à mesa do café, às anedotas repetidas somente para mantê-las frescas, vivas, coloridas pelo tempo em que puderem ser.<br />
<br />
Converto em abraços cada motivo minimamente plausível porque necessito carregá-los comigo quando a solidão chegar. E alcanço a conclusão (mais do que óbvia) de que não saberia enfrentar a frieza desse mundo sem teu coração pra me guiarRico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-5805196929631343382018-02-07T15:59:00.003-08:002018-02-14T06:47:56.027-08:00Simulacro do Pássaro de CordaO homem sentado no fundo do poço olhava as estrela por entre a abertura em formato de meia-lua. Outro caminhava despretensiosamente pelo mercado de histórias até ouvir o eco dos pensamentos do primeiro. Mesmo habitando mundos diferentes, <i>algo</i> parecia ligá-los profundamente, era impossível não atender ao chamado daquelas linhas difusas.<br />
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Enquanto os acontecimentos se seguiam e se avolumavam, a corda para o poço parecia alongar-se por vontade própria, dobrando-se sobre si mesma e produzindo embaraços grossos como raízes velhas e sonolentas, debruçadas sobre anos de história do mundo.</div>
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Hora a voz do Pássaro de Corda soava como a de um tenente desiludido com suas memórias e torturado pela longevidade e o peso da guerra, hora fazia crer que trazia a docilidade caótica da menina que fabricava perucas. A costura entre essas realidades se dava através de frases pinçadas entre o consciente e o subconsciente, mal entrelaçadas em relações de frágil estrutura.</div>
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<br /></div>
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Sentado à beira do poço, o curioso ouvia incrédulo as previsões da mulher com rabo de gato, as queixas da esposa maculada, as palavras mudas do menino que construiu um mundo ao redor de si. Com o próprio intelecto, se via obrigado a construir as pontes inacabadas cada vez que o interlocutor teimava em cruzar paredes e voltar fragmentado. </div>
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Embora as palavras ganhassem uma inventividade cilíndrica viajando na escuridão do poço, a coesão não resistia ao perfume de pólen do quarto 208 e se diluia nos mistérios do copo de whisky da mulher incógnita. </div>
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<br /></div>
<div>
Parecia haver no homem reminiscente - ou na mente por traz dele - uma necessidade de transbordar suas próprias impressões do mundo, de modo que, entre os delírios, se permitia bifurcar a narrativa e distribuir as palavras em labirintos não comunicantes, o que produziu, obviamente, um desgaste da relação entre narrador e ouvinte.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
De modo geral, o homem que ouvia admirou-se com a capacidade do outro de enredar a atenção através das palavras, mas observou que um discurso lacunoso pode facilmente ser compreendido como algo mais elevado do que realmente é devido à natureza da mente de preencher os espaços vagos (deixados propositalmente ou não). </div>
<div>
<br /></div>
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. </div>
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<br /></div>
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Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-67193677762265002292018-02-01T19:42:00.000-08:002018-02-02T11:35:16.235-08:00Como estar em casaOs pés recordam do caminho como se dele nunca tivessem se distanciado. Como é bom se deixar preencher daquele ar familiar. Cada desnível, cada gramínea, cada pequeno trecho de passeio, cada resquício do tempo parece impregnado de uma vida em suspenso, a esperar pelo encaixe de uma peça que lhe falta para que seja possível dar corda no andamento do mundo e restabelecer o cotidiano.<br />
<br />
O gosto dos doces se mistura ao sabor das reminiscências pueris da terceira infância, enquanto o caminhante resgata em si mesmo a melhor parte do que jamais pode voltar a ser. Permite, sente, dá espaço à experiência de se reconhecer parte daquele universo roubado prematuramente...<br />
<br />
E quando reconhece, ladeando a praça, a árvore de romã carregada de seus encantos sazonais, - os mesmos que pincelaram para sempre de um aroma escarlate as lembranças de seus mais vivos verões, - tem a certeza indelével de que é feito de única matéria chamada saudade Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-29240287841021846852016-09-13T13:22:00.001-07:002020-09-12T13:55:37.168-07:00Um Adeus DesajeitadoQue sorte temos nós. Tudo aprendemos: andar, falar, correr... Mas amar não, amar já nascemos sabendo. Assim como reconhecer quem nos ama verdadeiramente.<br />
<br />
Só assim se explica esse amor construído de tão poucos fragmentos de vivência. Vó Ignês era feita de gestos. Da chimia passada no pon, do bombom para afastar a saudade de casa, da cantoria em italiano depois do jantar. E foi tão fácil amar esses gestos, foi tão fácil dissolver a enorme distância no primeiro abraço...<br />
<br />
Um menino da cidade que aprendeu pelas tuas mãos descascar pera. E pelo teu talento culinário a amar polenta (daquelas que se corta com o fio, é bom que se diga). Como queria ter ouvido mais suas canções, como queria tê-la abraçado mais... Ter tido mais tempo para descobrir mais de você em mim, ter tido tempo de ser mais seu neto.<br />
<br />
Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-71886005948872542932016-09-06T05:59:00.003-07:002016-09-06T05:59:47.377-07:00Sobre a fragilidade das relaçõesO quanto de si mesmo você permite que o mundo veja? Talvez entre alguma fresta imperceptível que resida entre o seu personagem corporativo e os seus múltiplos indivíduos sociais você se permita um fragmento de "verdade". Aceitar essa premissa é quase como admitir que existe uma personalidade primordial em todo ser que se galvaniza e se confunde com as camadas superiores daquilo que se pretende ser na tentativa de sobrevivência dentro da dinâmica de forças sociais. Um "ser-em-sí"<br />
<br />
Não é o caso de buscar a metafísica. A indivisibilidade da "alma" é uma construção conceitual fundada na obscuridade - ingênua ou provocada - do entendimento dos processos fisíco-químicos e psicossociais que se acham na base da construção do indivíduo. Pronto, a partir deste momento você já pode me chamar de materialista.<br />
<br />
Ou talvez você prefira a abordagem do "papel em branco", onde a medida em que o indivíduo é exposto a uma série de experiências marcantes, capazes de moldar sua personalidade a medida em que, como foi dito, certas marcas se imprimem na estrutura psíquica do ser e passam a integrar sua visão de mundo e a determinar o filtro daquilo que é aceitável expor ao julgo alheio.<br />
<br />
Seja como for, o fato é que nunca - ou quase nunca - nos mostramos por completo. Cedendo ao jogo de forças do ambiente social, selecionamos porções de nós mesmos mais adequadas às ocasiões e finalidades que se apresentam externamente, o que torna o discurso padrão sobre "ser verdadeiro" uma espécie de "hipocrisia involuntária" que todos praticamos.<br />
<br />
Em face disso, não espanta a fragilidade das relações dentro da contemporaneidade (e na verdade dentro de toda história humana da vida em sociedade). Seja a pós-modernidade liquida ou apenas desinteressante o suficiente a ponto de se tornar incapaz de oferecer atrativos perenes à atenção dos indivíduos, o fato é que, cada vez mais são frágeis os laços que nos fazem reconhecíveis como comunidade, mesmo dentro de uma aldeia global. <br />
<br />
Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-1985820528407036802016-04-02T19:53:00.000-07:002016-04-02T19:53:07.257-07:00Matheus Nachtergaele se deixa refletir nos poemas da mãe<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEXNwtvKpYORnQmYZZVPwn9n6woBMociTdVFfuGLnJmWs_2iONZCHBu_EAuKke_62OpSqWM3FBWEu0qcNG3jnelM8L-YB9Bdz5mdKj0_7TROL_9YTY6Ba0oBcBGZBsUST3SK85vaNrGUMT/s1600/12806068_10208651035896408_6515936346788554560_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEXNwtvKpYORnQmYZZVPwn9n6woBMociTdVFfuGLnJmWs_2iONZCHBu_EAuKke_62OpSqWM3FBWEu0qcNG3jnelM8L-YB9Bdz5mdKj0_7TROL_9YTY6Ba0oBcBGZBsUST3SK85vaNrGUMT/s400/12806068_10208651035896408_6515936346788554560_n.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Foto: Reprodução Facebook</span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">O fato é implacavelmente doloroso. Mas é através da poesia que o
ator<b> Matheus Nachtergaele</b> escolhe encerrar o luto pelo suicídio da mãe. a
escritora <b>Maria Cecilia </b></span><b style="font-family: Arial, sans-serif;">Nachtergaele</b><span style="font-family: Arial, sans-serif;">, durante a peça "<b>Processo de Conscerto do
Desejo</b>", em cartaz no Teatro da Reitoria, neste sábado (2) e domingo (3),
como parte da programação do <b>Festival de Curitiba</b>.</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Vestindo um vestido preto
- uma referência ao traje que a mãe usaria no dia do batizado do filho, ao qual
não chegou a estar presente - o ator vai mais fundo e busca vestir também as
emoções da poetiza. Desnuda segredos e, através da palavra materna, reflete
também a si mesmo em um espelho postado no palco.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Com as mãos, desata os nós
do assunto intocado enquanto oferece ao público uma carga emocional gigantesca,
que contrasta com luz e sombra, enlevadas pelos acordes do violonista <b>Luã Belik</b>
e do violinista <b>Henrique Rohrmann</b>. Em trinta poemas, o ator passeia
cuidadosamente entre as nuances do existencial lírico, entrecortadas pelo
pragmatismo - muitas vezes constrangedoramente cômico do cotidiano maternal.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Carregado de <b>saudade</b>, Matheus desenha os sentimentos por sobre a superfície espelhada, como
se transbordando e dividindo com os espectadores a profundidade de cada
experiência. Há também o processo lento da <b>superação</b>. O direito à ingenuidade
da infância, os traços marcantes da madrasta, o esconder a dor - ou amortizá-la
- nos afazeres que se assomam, a libertação da expressão pela arte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Nas mudanças de
andamento das músicas, as oscilações performáticas eram retratos do humor e do
<b>expurgo</b> das causalidades. Não mais o personagem, mas o próprio individuo </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Matheus Nachtergaele vai se recompondo diante dos olhos
encantados da plateia, que o vê percorrer as fileiras para declarar-se livre da
busca pessoal pela <b>clareza</b>. Depois de tamanha entrega e coragem, resta apenas ao
público o mais sincero aplauso.</span><span style="font-family: Gotham; line-height: 24px;"> </span> <br />
Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-62429234405818411502016-03-18T17:48:00.001-07:002016-03-18T18:07:26.720-07:00"Aforismo Americano"O ano é 1868. O 17º presidente americano Andrew Johnson enfrenta um processo de Impeachment aberto pela Câmara dos Deputados (e que fracassa no Senado).<br />
<br />
Na contramão da instabilidade política, talvez como reflexo do término da Guerra Civil, a Décima Quarta Emenda - que garante direitos iguais a todos os nascidos e naturalizados nos Estados Unidos, que residam sob sua jurisdição (<b>exceto os indígenas</b>) - passa a integrar a Constituição daquele país.<br />
<br />
As fronteiras dos estados ainda não estão consolidadas, com os colonizadores europeus travando violentas batalhas territoriais com povos Cherokees, Arapahos, Kaiwas, Dakotas, Navajos e toda a miríade de etnias nativas norte-americanas. Massacres como o de Sand Creek já haviam deixado marcas de sangue nos campos de caça que dormiam sob A Lua Onde os Morangos Crescem.<br />
<br />
Próximos do rio Arkansas, os "honrados" homens do general Custer desfilam por Fort Cobb com os escalpos de 103 Cheyennes, sendo 53 mulheres e crianças. Ato intensamente louvado por outro estrelado: General Sheridan.<br />
<br />
Foi da boca deste segundo que, após aceitar a rendição forçada do líder Comanche Tosawa, foi proferida a frase: "Os únicos índios bons que já vi estavam mortos"<br />
<br />
...<br />
<br />
As ideias não estão presas ao tempo, muito menos reconhecem fronteiras. Mais de 140 anos depois, fragmentos residuais do mesmo ódio calcado sobre o preconceito e a intolerância saem dos escombros das memórias genéticas para assumir nova forma em outra máxima bastante constante nas bocas das elites (ou pseudoelites) brasileiras: "bandido bom é bandido morto".<br />
<br />
Afora décadas de colonização cultural, não parece absurdo dizer que mesmo a deficiência moral característica do pensamento utilitarista e neoliberal bastante arraigada na sociedade norte-americana possa ser "importada" para formar o escopo ideológico sob o qual se assentam os comportamentos sociopatas e\ou xenofóbicos de uma parcela crescente da sociedade brasileira...<br />
<br />
Essa mesma parcela se mostra tão degeneradamente preguiçosa e dependente que não é capaz de formular sozinha seus próprios vícios de personalidade. Até mesmo o preconceito tupiniquim é fabricado e vendido em série...Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-58637867818016676852015-12-23T02:12:00.000-08:002015-12-23T11:42:40.544-08:00As ruínas do leprosário<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6oGVF7HPA6P7WurvFcAFGXtYwNzeuD__RbqO6WxE787vJciUVJnGVdb2OmXfbx_eg7vD_MA6xr8aYN7rjEH8mf5Oww2xXmCHsvztFJAYnoyD2avztNkvOnSy2K9xv0Fm1r2e9Q5EhS9S7/s1600/paricatuba02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="342" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6oGVF7HPA6P7WurvFcAFGXtYwNzeuD__RbqO6WxE787vJciUVJnGVdb2OmXfbx_eg7vD_MA6xr8aYN7rjEH8mf5Oww2xXmCHsvztFJAYnoyD2avztNkvOnSy2K9xv0Fm1r2e9Q5EhS9S7/s400/paricatuba02.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
Cada ranhura cresceu na agonia. Um passado que grita entre os vãos decrépitos das janelas mortas. Nos degraus, o peso do andar do abandono, da morada compulsória, da solidão doente... A medicina cega, patogênica, produzia e propagava a segregação e a doença ao invés de curá-la.<br />
<br />
Nas ruínas de leprosário, o tempo jogou seus esporos e fez germinar o verde. Troncos ondulantes contorcem-se entre as brechas do passado para se acomodar e filtrar as vibrações que nas paredes ecoam. Mas nem tudo pode ser purificado. Há ainda o impacto do liceu-presídio-leprosário tentando esconder seu vergonhoso legado histórico, lutando contra o turista que, ao contrário quer vê-lo, deduzi-lo, desnudá-lo do melhor ângulo possível.<br />
<br />
Foi-se a pompa, a soberba dos primeiros anos (1898), restaram os ecos da pretensa profilaxia entre os lucros da pequena comunidade. Talvez aí esteja uma pequena redenção... Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-43536091621856183212015-12-17T17:38:00.003-08:002015-12-17T17:38:44.800-08:00O amor dos botosNão quis obedecer à lenda. Amava os botos todos os dias, mesmo nos que não eram tomados pela música, pelos festejos. Em seus carinhos curativos, adentrava às águas com amor de irmã, fazendo de si toda mesura e cuidado do mundo.<br />
<br />
O fogo dos cabelos amornavam o rio-mar e, com sua presença, o Sol fazia reverência antes de ir se deitar. E quando os curumins da água vinham os pés lhe acarinhar, tinha para eles aventuras a ensinar.<br />
<br />
Todo o zelo, todo o mimo, toda a fluidez se confundiam com a coloração rosácea do entardecer... E ela, o amor dos botos, apenas podia desejar que crescessem livres para que da mesma cor pudessem eles se tornar.Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-53859911398483341042015-12-16T06:54:00.002-08:002015-12-16T08:45:30.494-08:00Retorno...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZfrKnBsc6f8cm197k7Y21blj7TiBPxWy1NAXuIZDEJ2KccqvWGjnvYT4Gh4iMh6MJgZY1CHXh9PbhqVbM4XZ2EKtVQmnB7YgYFezr2SikueaGuUTVZRZUnHrzUyZM3vWzzUeCpBZsI_Js/s1600/12360405_10201123576207975_7637124598850093010_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZfrKnBsc6f8cm197k7Y21blj7TiBPxWy1NAXuIZDEJ2KccqvWGjnvYT4Gh4iMh6MJgZY1CHXh9PbhqVbM4XZ2EKtVQmnB7YgYFezr2SikueaGuUTVZRZUnHrzUyZM3vWzzUeCpBZsI_Js/s400/12360405_10201123576207975_7637124598850093010_n.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Como devolver um espírito arbóreo à "normalidade cinzenta"? Uma vez tendo retornado à sua condição seivática, não há como restabelecer-se por completo ao concreto do cotidiano. Os olhos que plumaram em harmonia cromática com as aves, já não se aquietam com o minguar das tonalidades urbanas.<br />
<br />
<br />
Não que não haja beleza nas lágrimas plúmbicas do céu desta terra mas há qualquer coisa de magnética nas pluri-possibilidades matizadas - quase semânticas - que a floresta oferece. Perdulária de suas belezas, não há economia de encantos diante dos olhos acostumados ao comedimento protocolar do simulacro, do artificial em que decidimos nos enclausurar.<br />
<br />
Há também, em terras tão superiores, os homens que estendem a mão sem ressalva. As mulheres feitas da mesma matéria deste infinito. Um acolher vivo, desinteressado, um convite à prodigalidade do afeto (e por que não da lascívia). Uma plenitude expressa no sorriso plantado nos rostos das gentes.<br />
<br />
A mesma boca, letrada na arte de sorrir, que sabor guarda no beijo! De tucumãs são feitos os lábios das morenas. Convidativos ao encontro de culturas, de línguas que capazes de versar todos os idiomas, envolvendo, encantando, conduzindo a um limiar de tesouros indizíveis...<br />
<br />
Volta o caminheiro... Mas volta sem o coração, pois este, entregou à floresta. Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1993967326450131223.post-4610357510190107392015-10-09T11:50:00.003-07:002015-10-09T11:50:40.993-07:00Mostra independente “Rusé” foge dos grandes espaços<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfW1eX9ZsKrH-b0Qij0YtN72kWoBaTPIou6wyAijORvFyCNFfeD1fBb08FQO6zA9Bt_pKOZUNZQBIAjNMy4roZsg7EKSaYkVJPIhdlFZL7C9TrAB_ADkekR3VpiaXoU2hlqEYCObyI079K/s1600/_F7A7491-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="346" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfW1eX9ZsKrH-b0Qij0YtN72kWoBaTPIou6wyAijORvFyCNFfeD1fBb08FQO6zA9Bt_pKOZUNZQBIAjNMy4roZsg7EKSaYkVJPIhdlFZL7C9TrAB_ADkekR3VpiaXoU2hlqEYCObyI079K/s400/_F7A7491-1.jpg" width="400" /></a></div>
<h2 class="c-sumario" itemprop="alternativeHeadline" style="border: 0px; box-sizing: border-box; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 1em; font-stretch: inherit; font-weight: inherit; line-height: 20.8px; margin: 0.5em 0px 1em; padding: 0px; text-align: center; vertical-align: baseline;">
<br /></h2>
<h2 class="c-sumario" itemprop="alternativeHeadline" style="border: 0px; box-sizing: border-box; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 1em; font-stretch: inherit; font-weight: inherit; line-height: 20.8px; margin: 0.5em 0px 1em; padding: 0px; text-align: center; vertical-align: baseline;">
<br /></h2>
<h2 class="c-sumario" itemprop="alternativeHeadline" style="border: 0px; box-sizing: border-box; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 1em; font-stretch: inherit; font-weight: inherit; line-height: 20.8px; margin: 0.5em 0px 1em; padding: 0px; text-align: center; vertical-align: baseline;">
Coletivo de artistas de múltiplas linguagens inaugura mostra nesta sexta (9)</h2>
<div>
<br /></div>
<div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; font-family: arial, sans-serif; font-stretch: inherit; line-height: 22.4px; margin-bottom: 0.75em; margin-top: 0.75em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Astutos e inquietos, artistas do Coletivo Arte Livre se organizam para fazer a sua arte chegar a diferentes espaços e, consequentemente, a diferentes públicos. Na próxima sexta-feira (9), inauguram a exposição “Rusé” – que ganha espaço no Café Teatro Toucher La Lune – e permanece em cartaz até o dia 20 de outubro.</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; font-family: arial, sans-serif; font-stretch: inherit; line-height: 22.4px; margin-bottom: 0.75em; margin-top: 0.75em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="line-height: 22.4px;">Artistas independentes, dedicados às mais diferentes formas de expressão artística – desde desenhos, litogravuras e xilogravuras – são altamente imersos no ambiente virtual, organizando mostras e outras iniciativas de cunho cultural, em detrimento dos meios tradicionais de promoção da arte.</span></div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; font-family: arial, sans-serif; font-stretch: inherit; line-height: 22.4px; margin-bottom: 0.75em; margin-top: 0.75em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Segundo a curadora da mostra Karen Matias “Os grandes espaços não apresentam critérios muito claros para a escolha do acervo. Devido a isso, o artista muitas vezes encontra barreiras para apresentar seus trabalhos”. Na busca de soluções para essa situação, artistas que compartilham entre si momentos similares na carreira, buscam caminhos alternativos.</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; font-family: arial, sans-serif; font-stretch: inherit; line-height: 22.4px; margin-bottom: 0.75em; margin-top: 0.75em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Igor Oliver, desenhista destaque dessa edição do evento, destaca que a interação entre os artistas deve prevalecer em relação ao isolamento e, por isso valoriza iniciativas como essas “A troca de ideias, técnicas e perspectivas, nos transforma enquanto artistas e fortalece a cena como um todo”, comenta.</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; font-family: arial, sans-serif; font-stretch: inherit; line-height: 22.4px; margin-bottom: 0.75em; margin-top: 0.75em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
O artista tem na essência de sua arte muito do conceito do evento em si, Fascinado pela figura do coelho, busca retratar através dele a ingenuidade se contrapondo à astúcia. Relação aliás que dá nome à mostra: a palavra rusé, em francês, significa “astuto”.</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; font-family: arial, sans-serif; font-stretch: inherit; line-height: 22.4px; margin-bottom: 0.75em; margin-top: 0.75em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Outro artista que se destaca é João Zoccoli – que se utiliza da xilogravura para retratar aspectos da cultura indígena e sua situação na contemporaneidade: “Escolhi a xilogravura por ser uma linguagem mais rústica, que se adapta melhor à proposta”, comenta. Quando perguntado sobre a possibilidade de expor seu trabalho coletivamente, ele pondera: “Tem tudo a ver com a temática indígena, onde dentro de uma irmandade fazem tudo juntos e crescem juntos”.</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; font-family: arial, sans-serif; font-stretch: inherit; line-height: 22.4px; margin-bottom: 0.75em; margin-top: 0.75em; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
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Matéria originalmente publicada na <a href="http://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/artes-visuais/mostra-independente-ruse-foge-dos-grandes-espacos-cogiiowvhjytqg569rlxqj2um" target="_blank">Gazeta do Povo</a></div>
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Rico Boschihttp://www.blogger.com/profile/15563153721916104759noreply@blogger.com0