"Sempre me disseram que os seres humanos não podiam voar... Porque não tinhas asas. Mas depois que conheci algumas pessoas, percebi que isso é um mero detalhe."
Começava assim um vídeo que fiz sobre mim mesmo na faculdade, como projeto de conclusão de semestre para a disciplina de "Produção Para TV e Cinema", ministrada pela talentosíssima Adalgisa Lacerda.
Minhas asas foram escritas em mim pela vida, muito antes de serem efetivamente tatuadas... E poucos, muito poucos, conhecem o peso de tudo o que representam. Achei mesmo que nunca escreveria sobre elas...
...
Houve um tempo em que as impossibilidades gritaram mais alto que o poder de subjugá-las. Houve um tempo em que a realidade esmagava cada nesga de esperança... e no vórtice insano da dualidade criada entre o sublime - e ao mesmo tempo humano - desejo de liberdade e o caminhar trôpego das curtas distâncias, deixei-me estar - e sentir-me abandonado.
Gradativamente, fui tornando opaco o brilho de tudo o que me orientava. Esqueci as cores do mundo, o acolhimento da família, o cuidado de Deus... Culminando nas impublicáveis linhas "ravenianas" do conto "O Anjo e o Espectro".
Afastei-me da minha natureza, procurei respostas que apenas justificassem minha descrença nascente, enquanto no peito buscava enterrar, o quão fundo fosse possível, a fragilidade de alguns sentimentos incompreendidos.
Fiz das letras rotas de fuga, fiz do exílio condição da existência... Orei - agora vejo - mesmo não querendo orar, através da poesia:
Grito Seu nome com todas as forças
Por que Sua face se esconde de mim?
Quero voltar, mas esqueci o caminho...
- Versos de "Filho Pródigo", de 2005
Mas enquanto eu duvidava, houve quem acreditasse. O Homem-Floresta armou seus esteios verdes ao me soprar verdades. Abriu a janela e fez escapar meus versos para o mundo. Encheu meu espírito de seus cantos silvestres e bombadillescos e me devolveu à mão a espada. Me pediu trovas ao invés de lágrimas e me rebatizou guerreiro.
Enquanto minhas letras diziam que anjos caídos não podem voar a Madre-Pássaro me fez lembrar que não há vergonha em cair, mas há covardia em não escolher levantar. Então, quando olhei no espelho, pude vê-las em formação, pluma sobre pluma, alvas no topo e chamuscadas na base. Como a sinalizar ascendência, como a dizer que o fogo dos dias havia passado e que a casa do Pai sempre esteve na direção do meu vôo.
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