Texto originalmente publicado no portal Gaz+ da Gazeta do povo
Um fim de semana na Rio + 20
Enrico Boschi
O mundo volta os olhos para a conferência da ONU para o desenvolvimento sustentável que ocorre no Brasil entre os dias 14 e 22 de junho. Em celebração aos vinte anos da Eco 92, a Rio +20
é composta por diversos eventos paralelos e simultâneos correlacionados
que formam a densa agenda de debates, reflexões e propostas para a sustentabilidade. Por intermédio da SPVS – Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem, nós, do grupo de debate e conscientização ambiental paranaense Ecoberrantes, tivemos a oportunidade de participar de alguns dos eventos, ocorridos entre os dias 16 e 17 de junho.
Cúpula dos povos
De todas as iniciativas que integram a conferência da ONU para o desenvolvimento sustentável, a Cúpula dos Povos
é com certeza a que melhor aproxima a atmosfera de pluralidade que
paira sobre o evento como um todo do cidadão. Caminhando por entre as
centenas de tendas armadas no Aterro do Flamengo,
interagem representantes de organizações ligadas à proteção e
preservação ambiental, porta-vozes de organizações políticas ou da
sociedade civil, disseminadores de iniciativas culturais, empresários
interessados em soluções ambientalmente responsáveis para suas empresas,
representantes de povos indígenas diversos, turistas de todas as partes
do globo ou apenas aqueles que desejavam um passeio tendo a Baía de Guanabara como pano de fundo.
Em cada espaço da Cúpula, ocorrem debates autogestionados sobre temas
sociais, políticos e ambientais inter-relacionados, de modo a
contemplar os três pilares sobre os quais o evento foi concebido:
denunciar as causas da crise socioambiental, apresentarmos soluções
práticas e fortalecer movimentos sociais do Brasil e do mundo.
Foi o que se pode observar efetivamente, no último sábado (16), no
estande onde se concentraram diversas organizações e personalidades
atuantes na questão da resistência contra as mudanças do Código Florestal Brasileiro.
Alguns pontos foram unanimidade nos discursos, como o valor efetivo
da preservação das florestas e dos instrumentos legais disponíveis para o
freio do desmatamento, além da cobrança de posicionamentos firmes dos
Chefes de Estado em prol da conservação ambiental, uma vez que
participarão da Rio +20 para elaborar e votar propostas que culminarão
no novo documento de compromisso das nações signatárias com os
indicadores do que está sendo chamado de “economia verde” e com as Metas do Milênio.
Dialogue Days
Paralelamente à Cúpula dos Povos, os Dialogue Days
fazem parte da agenda principal da Rio +20. Constituem-se em painéis
temáticos com a participação de representantes da sociedade civil que
após um debate elaboram propostas a serem enviadas aos chefes de Estado,
como contribuição da parcela da sociedade que representam para o
documento final da conferência.
Nossa delegação teve a oportunidade de participar do diálogo ocorrido
no dia 17 de junho, que tinha como foco a preservação das florestas.
Entre os panelistas estavam figuras como o CEO da Natura Cosméticos Guilherme Leal; a Doutora Yolanda Kakabadse, diretora da World Wide Fund for Nature (WWF); o Dr. Klaus Toepfer, fundador e diretor executivo do Institute for Advanced Sustainability Studies (IASS); além de diretor executivo de Meio Ambiente das Nações Unidas (1998-2006), entre outros.
De todas as falas, a que talvez tenha sido mais incisiva para o
governo brasileiro foi a do alemão Toepfer, quando disse que os
instrumentos de proteção consolidados em conferências e iniciativas
anteriores – como a Eco 92 – não deveriam ser modificados, sob
possibilidade de se retroceder em questões já anteriormente debatidas, o
que levou à questionamentos sobre o Código Florestal Brasileiro.
Após essas e outras ponderações, os panelistas elaboraram dez
propostas de artigos a serem enviados aos chefes de Estado para compor o
documento final da Rio +20, e, em seguida, iniciou-se uma votação entre
todos os presentes (mesa e expectadores) para definir os pontos de
maior relevância.
O primeiro tópico foi aprovado por unanimidade entre os componentes
da mesa e o terceiro teve 54% de aprovação. Após a votação, a mesa
decidiu abrir o debate para que os expectadores pudessem lançar
sugestões ou questionamentos, em uma clara manifestação do espírito de
colaboração que norteia toda a Rio +20.
A questão da criação de um tribunal internacional para julgar crimes
ambientais foi levantada – e amplamente endossada pelos componentes da
mesa – pelo parlamentar brasileiro Cristóvão Buarque
(PDT-DF), ideia que os panelistas consideraram estar inclusa nos tópicos
anteriormente levantados. A demarcação total das terras indígenas no
Brasil, bem como a participação das lideranças desses povos no processo
de decisão da conferência também teve sua voz, sendo uma das colocações
mais aplaudidas.
Além do documento gerado neste debate, outros mais serão elaborados e
enviados às lideranças nacionais presentes no evento de elaboração do
registro final da conferência, o que demonstra um esforço bastante
assertivo de representar também a sociedade civil dentro deste processo.
link original
http://www.gazetadopovo.com.br/gaz/mix/um-fim-de-semana-na-rio-20/
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