Quais as agruras que torturam sua alma? Quais as circunstâncias que o impulsionam a esse covarde desfecho? A morte é mesmo a única saída? Eram essas as perguntas que pululavam nas mentes dos espectadores da peça, exibida no último domingo (11), no Teatro Reikrauss Benemond, em Curitiba, antes do terceiro sinal.
O impacto inicial é bastante positivo. A "cor local" da trama encontra-se amparada em diversos recursos tecnologicos de projeção e áudio que em muito colaboram para sustentá-la, facilitando a imersão imediata do espectador.
O preâmbulo da trama é projetado em uma tela postada entre a platéia e o ator ja em cena, de modo que os dois discursos coexistem e se complementam. As imagens virtuais respondem, de pronto, a uma das questões levantadas: Sim... para este personagem, a morte é inevitável.
Mesmo de posse desta informação precoce, as dúvidas que envolvem o quadro sustentam a atenção do espectador. Deste modo, a tensão do público - traduzida em profundo silêncio - é palpável, enquanto o protagonista Erick Andrade abandona-se em uma cadeira.
Entra então em cena uma espécie de representação do id autodestrutivo do protagonista - representado pelo ator Treat Serpa. Figura que busca oscilar entre o sofisticado e o burlesco, incita a reflexão na mente do suicida e escarnece da inércia em que o mesmo se deixa estar.
Falta, no entanto, uma acidez mais acentuada (e necessária) em sua atuação, que tropeça também no exagero de gestos e entonações vocais, não consolidando o sarcásmo que em outros momentos tenta atribuir ao seu personagem.
O texto prima por uma linguagem poética porém sem muito brilhantismo. Conduzindo a algumas conclusões que beiram ao lugar-comum, deixa também demasiadamente implícitas as motivações do ato de suicídio, o que nos parece imperdoável, visto que essa é a principal questão que o público esperava ver respondida.
O trabalho de ambientação e a interpretação impecável do ator principal, imerso verdadeiramente no sofrimento de sua personagem, são os principais trunfos do espetáculo. Considerando que o teatro é - sempre - uma obra em construção, reforçar esses pontos talvez seja a resposta para que a peça ganhe o teor de dramaticidade que deveria ter.
Teaser
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