Há muito tempo a ideia desta entrevista fervilhava em nosso Sistema Muito Nervoso. Trazendo no sorriso o mesmo Sol malemolente que reinava no céu do Rio de Janeiro de quando nos conhecemos, no verão de 2008, a cantora e compositora Telma Tavares fala sobre arte, música e transformação social.
Com a inquietude própria dos grandes talentos Telma desde sempre procurou expressar-se das mais diversas formas: pintura, escultura e, é claro, sua paixão maior, a música. Segundo ela, descobriu a canção ainda durante o período de noviciado - que durou cerca de um ano - e mais que tudo, lhe apontou o caminho das artes.
Teve lições com grandes mestres como Thomas Improta (ao piano), Claudionor Cruz (ao violão), Ângela Hertz (canto) além da inspiração e apoio de nomes como Hermeto Pascoal e Sérgio Ricardo. A invergadura desta ancoragem contribuiu para o florescimento de um talento singular, que trouxe como frutos momentos internacionais memoráveis como uma apresentação em Cuba especialmente para o ex-presidente Fidel Castro ou ainda para o rei do Marrocos.
No Brasil, escursionou como vocalista por 6 anos com Beth Carvalho, um dos maiores nomes do samba nacional, além de comandar dois programas de rádio cuja temática primava por exaltar a Música Popular Brasileira: o Brasil na Veia e Samba de Panela, pela Viva Rio.
Possui também dois trabalhos solos o "Telma Tavares", com participação de Hermeto Pascoal, Chico Buarque e os índios Carajás da ilha do Bananal, e “Veia Mestiça”, um disco autoral com várias vertentes do samba, com participações de Alcione, Leci Brandão e Roque Ferreira, esse lançado ano passado no SESC Ginástico.
Feitas as devidas apresentações, segue então a conversa que tivemos com a cantora:
SMN: Telma, antes de mais nada, gostariamos de conhecer um pouco mais sobre a sua visão da arte:
Sempre tive uma identificação com arte em geral,que para mim significa uma forma de comunicação, uma expressão pessoal , um jeito de se apresentar. Adoro mexer com argila, pintura,escultura, mas me expresso profissionalmente com a música. Sou apaixonada por melodias e letras, aquelas que tocam a nossa alma feito algodão doce ou aquelas que não deixam parados os nossos músculos, tem que tocar na alma da gente.
SMN: O Sistema Muito Nervoso tem em seu DNA a vocação de buscar a relação da arte com a transformação social. Você, como artista, acredita nessa relação?
Totalmente,
como disse a arte é uma forma de expressão e muitas comunidades não
tinham essa voz, que com a necessidade passou a desabrochar em vários
estilos como o Grafite, o Hip Hop, o charme, o pagode e tantos outros
diversos segmentos populares, porém a meu modo de ver , a qualidade
musical muitas vezes deixa a desejar, até por falta de oportunidade do
conhecimento mesmo.
Hoje
eu faço parte de um projeto chamado “Música Viva” que leva música para a
rede estudantil do Rio de Janeiro(patrocinado pelo SESC) onde
apresentamos a obra de compositores como:Gonzagão, Gonzaguinha, Vinícius
de Morais, Tom Jobim...
Crianças de 5 à 16 anos ficam com os olhinhos brilhando quando escutam “Eu sei que vou te amar” , “O que é o que é”, “Baião”...
Estou no projeto a mais de 2 anos e certamente já cantei para mais de 80 mil crianças
E
o que sinceramente interessa para mim é tocar na alma dessas pessoas em
formação, se em cada escola eu conseguir tocar ao menos uma criança, já
valeu a pena.
SMN:
Na escolha da vertente musical que interpreta, qual o peso da
importância da MPB como fator de identidade do povo brasileiro tem sobre
seu trabalho?
Como
tudo está em movimento, a música não é diferente, ela evolui, se
mistura, retrocede, ultrapassa... A cultura é a identidade de um povo, na
verdade sinto que a MPB é uma criança se procurando a todo tempo,
buscando se expressar em sua plenitude.
Não
é todo dia que nasce um grande poeta, um músico ou um grande cantor ou
compositor .É cíclico, mas eles sempre nascem e a grande questão é: a
oportunidade para que eles apareçam, assim como um craque no futebol.
Eu
sou compositora, adoro compor, porém devo admitir que quando escutei o
Samba Enredo da Vila Isabel de 2013 percebi o quanto tenho que aprender
para ser cada vez melhor, e o quanto devo ainda escutar para saber fazer
e mostrar minha expressão com inspiração de alma.
Sou
professora de canto popular e o que mais encontro são adolescentes
querendo ser clones de artistas famosos, o que busco dentro deles é o EU
que eles tem, a força da verdade interior, cada voz é única, cada qual
tem a sua digital e apenas os coloco diante do espelho , isso já os
apresenta a si próprio buscando assim seu próprio timbre.
Nossa
naturalidade, nosso carinho, africanidade, miscigenação, nossa força,
nossa raça nossa voz, nossos costumes. Trago forte em mim a
miscigenação, a herança cultural de que esta tudo junto e misturado e
temos que filtrar para evoluir e dar voz ao tom e tom na voz.
Não abro
mão de minha brasilidade, e principalmente de uma qualidade popular. Quero ser popular e não populista. Eu acredito na VOZ de que é de verdade, por isso procuro ser verdadeira com o que crio e canto para ter identidade.
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