No município de Irati, no Estado do Paraná, um dos últimos remanescentes florestais da região está ameaçado de ser substituído por um loteamento. O projeto, de responsabilidade da empresa Aurora Centennial S/A, prevê a demarcação de 150 lotes na primeira fase, seguidos de outros 50 em uma etapa posterior.
Com licenças de desmate já concedidas
pelo IAP – de forma questionável, é preciso que se diga –, essa área
(conhecida como Mata do Arroio dos Pereira, ou, mais popularmente, Mata
do Gomes) possui aproximadamente 13 hectares, localizada em uma encosta e
no fundo do vale está o Arroio dos Pereira, afluente do Rio das Antas,
que compõe a Bacia do Rio Tibagi.
A despeito de qualquer argumento
econômico de que se possa lançar mão para justificar o empreendimento, é
necessário ter em mente que há benefícios incalculáveis ao se manter
intacta uma área como essa. É o caso da qualidade dos recursos hídricos,
conservação do solo, polinização, amenização de efeitos de intempéries,
regulação climáticas, controle de enchentes, entre outros. Sabemos que
as interações entre os fatores bióticos e abióticos de um determinado
ecossistema formam uma complexa e dinâmica rede de funcionamento da
natureza que resulta nos serviços ecossistêmicos. Basicamente, os
serviços ecossistêmicos são os benefícios provenientes da natureza e
usufruídos pelo ser humano e essenciais à sua sobrevivência.
Com isso em mente, um amplo grupo de
cidadãos do município – organizados sob a chancela do movimento Preserva
Irati – entende que este remanescente é estratégico para a vida na
cidade – inclusive tendo em vista as enchentes terríveis que o município
tem enfrentado – e pretende discutir melhor as possibilidades de
redirecionamento do pretendido empreendimento. Cabe salientar que o
atual prefeito constou de seu programa de Governo de transformar a área
em questão num parque (horto) municipal, o que corrobora com a intenção
deste movimento local.
Em função de este tema estar sendo ainda
discutido, as licenças de desmate concedidas pelo IAP foram sustadas
até a data de 28 de julho deste ano. Sem resultados concretos, agora o
corte da vegetação pode acontecer à revelia das negociações em curso –
inclusive dispensando a conclusão de um inquérito para apurar desmate
ilegal. O caso da Mata do Arroio dos Pereiras é um de inúmeros outros
casos semelhantes. Mas se a humanidade, com toda sua inteligência e
raciocínio privilegiado, inventou cada vez ferramentas mais aguçadas que
objetivam o bem viver, porque lidamos diariamente com casos como este?
Proteção à natureza comprovada cientificamente e garantida pela
legislação e o desmate ocorre travestido de desenvolvimento. Pouco
importa o discurso, inclusive, discursos demagogicamente diferentes:
sabemos e não é de hoje que é imperativa a proteção aos recursos
naturais principalmente em ambientes urbanos.
Bianca de Genaro Blanco é bióloga e integrou a equipe de campo responsável pela vistoria ambiental no local.
Enrico Boschi é membro da juventude do Partido Verde, militante e conservacionista.
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