quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Filhos da terra




No céu um vazio seco...
E uma esperança que já nasce esqualida,
Escorrendo pelos sulcos torturados da face.
 
O presente é desespero, pó e fome
O futuro não é senão um sonho
É gota de chuva com gosto de lágrima. 

Nem a carne lhes abraça os ossos
Os pés já não sustentam o caminhar
Escrevem pálida a existência no horizonte.

São anjos os filhos da terra
São seiva que teima em vingar
Vida que brota dolorosa e incerta

Das entranhas esquecidas do Chifre da África...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Epifanias de banheiro (reload)



Suficientemente torturados pela curiosidade, queridos leitores? Retomo hoje (finalmente) o tema das epifanias iniciado no primeiro post da série. Liquidemos então essa fatura...

Aspecto importante dessas divagações de banheiro é que as ideias se conectam de forma irregular. Lembro de ter interrompido a nossa prosa na questão do vácuo como expressão (ou não) do nada. Retornando ao meu banheiro, tenho que dizer que, neste ponto, o meu sistema muito nervoso, fanfarrão que é, escorregou para o centro do vácuo e o fez novo foco da reflexão.

Com a mente no vácuo (hã?), ou melhor, com o vácuo em mente, pensava agora sobre as distancias no universo. Pensava que mesmo que o parâmetro para medir o espaçamento entre corpos celestes seja a "distancia que a luz é capaz de percorrer em um ano" (ano/luz), e que o referencial é sempre a distancia terrena, essa notação, essencialmente virtual, expressa algo que realmente existe. Pois isso sim pode ser calculado. E uma vez de posse de um telescópio, é necessário o conhecimento dessas dastancias e deslocamentos e orbitas, para que seja possível apontar as lentes para o ângulo correto e visualizar os entes celestes.

Agora, se os entes celestes orbitam em trajetos recorrentes, e o vácuo é o que comporta as distancias siderais, o vácuo existe de fato e, definitivamente, não é a expressão do nada. Mas nasce então outra pergunta: Se o vácuo existe e é nele que estão contidos todos os corpos celestes que compõem o universo, o vácuo não deveria existir mesmo antes do Big Bang?

Milésimos de segundos depois das sinapses nervosas percorrerem a minha rede particular de conexões, um feixe de luzes cresceu em meu intelecto e refletiu-se multidirecionalmente sobre as superfícies espelhadas que recobrem as paredes do meu banheiro. E, se nesse momento a minha vida pudesse contar com um narrador lírico, ele diria em tons agudos e oscilantes de voz: "eis aí uma legítima epifania!".

Óbvio, se em dado momento da história do universo toda a matéria estave concentrada em um "átomo original" extremamente denso, esse átomo constituiu o primeiro corpo celeste que existiu. Concluiu-se antes que todos os corpos celestes estão situados no vácuo. Desse modo, é necessário que o vácuo já desempenha-se essa função para suportar o átomo original. Provamos anteriormente que o vácuo de fato existe. Logo, o vácuo já existia antes mesmo de se existir TODA a matéria do universo. Então, é possível dizer que o vácuo (que algumas pessoas acreditam ser o nada), um dia já foi tudo! 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Migalhas

Um fato intrigante sobre as estrelas que vemos no céu é que elas (na maioria das vezes) já não estão de fato lá. E seu brilho é... Um vício de nossos olhos acostumados com a luminescencia que outrora os encantou. Sabe-se que nascem anãs. Brancas, lindas, puras, luzidias imaculadas pelo breu que as envolve e as tenta escurecer... Com o passar do tempo, porém, perdem o vigor inicial e, para convencerem a si mesmas de que ainda possuem certa majestade, agregam matéria em torno de si e multiplicam seu tamanho em um comportamento compensatório desesperado. Mais adiante, enraivessem-se com a iminência do fim, tornam-se rancorosas e vermelhas, explodindo como um pedido último de atenção.

Ao universo cabe apenas recolher suas migalhas...