sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Antes do final

Noite alta; calor incomum em terras sulinas e um pensar insone que parece nascer de um chamado das letras. Talvez haja algo de conclusivo no próprio ar de dezembro, algo que não se prende aos calendários, às luas, aos rituais de fim de ciclo. Será esse o impulso que acorda a escrita da madrugada? Se é isso que pede a alma do beletrista, desenho no ar uma breve mesura e ponho a prosa em curso.

Se me volto às pegadas escritas pelo ano que nos deixa, o que vejo é o antagonismo perene da vida a sorrir inabalável... Dono absoluto de seus enredos, titereiro da vontade mestra do universo, de Deus. Como a escrever em nós suas lições, como a destituir-nos de nossas certezas para depois reformulá-las e orientar, iluminar (e as vezes mais que isso) os passos futuros. Provas? Pois bem, vamos a elas.

Antes da despedida de 2013 ser decretada, um outro adeus se mostrou espantosamente inesperado e dolorido. A luta ambientalista perdeu Teresa Urban e nós perdemos o vento que soprava nossas velas, a luz do farol que garantia o singrar certeiro, o primeiro tom da voz que animava nosso berrar... Mas, sempre houve nesta terra sementes bem plantadas, e mesmo agora sinto-me fruto do florescer das palavras da mestra... E em reverência e em respeito ao seu legado, escolhi - e escolho - continuar lutando, pois há os que lutam toda uma vida, e esses são imprescindíveis.

Mas nem só de adeus se fez 2013... Este também foi um ano de início de um reencontro. Seguindo um apelo que há muito pulsava n'alma, tenho procurado um desarmar e um conduzir-me pelo caminho de Deus. Como o filho que volta para casa depois de escolher o afastamento, tenho experimentado o acolhimento suave e esperançoso da casa do Pai, onde sinto que estão minhas raízes. Tenho sentido um novo vibrar do espírito, que se reflete nos passos do cotidiano, no desenhar das minhas letras, no rimar da minha poesia...

Se com a  árdua despedida 2013 me ensinou a manter-me firme e fiel a alguns pilares da vida, com a suavidade e delicadeza do sorriso da Princesa Das Letras Sagradas esse mesmo ano me mostrou, antes do final, que sempre haverá novos e sólidos pilares a serem construídos.

  

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Tesouros de Tolkien





Novas publicações e reedições da fantástica obra de J. R. R. Tolkien vão além dos limites da Terra-Média.

Os fãs de O Senhor Dos Anéis e O Hobbit já podem se preparar para novas jornadas literárias. A editora WMF Martins Fontes trouxe ao público, em novembro deste ano, uma série de lançamentos e reedições das obras de Tolkien que oferecem ao leitor uma experiência de imersão ainda maior no universo dos elfos, hobbits, magos e anões, além de ir além dos limites da Terra-Média.

Entre esses preciosos tesouros está a oitava edição de O Hobbit, que recebeu nova tradução – a partir da quarta edição londrina, publicada em 1991 – e nova capa. Contando ainda com o mapa do universo tolkiano e ilustrações originais do autor. A história narra, sob a perspectiva do hobbit Bilbo Bolseiro, a aventura da comitiva liderada pelo mago Gandalf – o Cinzento e pelo príncipe anão Thorin – Escudo de Carvalho, na tentativa de recuperar as terras e o tesouro de seus ancestrais, roubados pelo temível dragão Smaug, escondido nas sombras da Montanha Solitária.

Já na edição especial O Hobbit – Lá e De Volta Outra Vez a história ganha novas cores e texturas com as singulares ilustrações de Jemima Catlin, acompanhadas de uma capa dura em tecido. Nesta edição, que traz o título sugerido pelo próprio protagonista Bilbo Bolseiro para suas aventuras, o leitor vai encontrar perspectivas gráficas mais proximais do universo infanto-juvenil para cada personagem e evento relevante da jornada, além de destaque para os cantos e poemas característicos de todo o transcorrer da obra.

O terceiro item desse tesouro é baseado nas adaptações de O Hobbit para o cinema, dirigidas pelo diretor Peter Jackson – também responsável pela adaptação da trilogia de O Senhor Dos Anéis. Trata-se de O Hobbit: A Desolação de Smaug – Gua Ilustrado, de autoria de Jude Fischer, que oferece todo um panorama gráfico dos personagens, dos locais que compõem o universo tolkiano, das raças dos seres viventes na Terra-Média, dos eventos que culminaram na jornada de Thorin, Bilbo e seus companheiros de comitiva, sempre seguindo a estética cinematográfica já existente.

Extrapolando os limites da Terra-Média, o livro Árvore e Folha traz um ensaio literário sobre “Contos de Fadas”. Nesta obra, J. R. R. Tolkien, acadêmico conceituado (em 1972 foi agraciado com os títulos de Comendador do Império Britânico e Doutor Honoris Causa em Letras, pela Oxford University), discorre, sob um viés estreitamente linguístico e cientifico, sob a natureza dos Contos de Fada, suas características de construção, sua função social e literária na sociedade da época, o perfil de público-alvo e sua relação com os demais gêneros literários. Ao final do ensaio, para exemplificar suas teorias, o livro traz o pequeno conto Folha, de Migalha, que demonstra de maneira simples todo o processo de criação de um universo pertencente ao que ele chama de Reino Encantado.

E, fechando o baú de tesouros, temos A Queda De Artur, obra editada por Christopher Tolkien – filho do autor e um dos executores de seu espólio – que traz transcrição dos rascunhos do pai para a interpretação de Tolkien da lenda do Rei Artur, um dos principais pilares do folclore europeu. Apesar de incompleta, a obra tem vários aspectos interessantes. Escrita totalmente em verso – em um esquema de métrica e versificação clássica conhecida como poesia aliterante, foi idealizada para a declamação próxima ao canto, ao estilo dos antigos menestréis. A grafia remonta ao inglês arcaico (com fortes influencias do gaélico), cujos originais podem ser lidos ao lado de cada página traduzida.

Após o poema, semguem-se alguns capítulos de redação de Christopher Tolkien referentes ao processo de transcrição e adaptação dos manuscritos do pai, bem como as notas de contextualização histórica na construção do poema, o método entrelaçamento das referências que ajudaram a compor cada um dos quatro Cantos do poema, as possíveis perspectivas de completude da obra, sua relação com o Silmarilion (obra posterior de Tolkien) e uma reflexão à respeito da própria técnica de produção poética dentro do inglês arcaico, o que demonstra toda a seriedade com que o criador desses universos tratava a literatura fantástica, como ele mesmo a definia.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Saudade Pesqueira

O implacável azul deste céu,
onde se banha despótico o
mais celeste dos corpos,

Dá à chuva tons de esperança

E o povo, e a renda,
entre laços de entrelaços...

Dragões dos Mares do cotidiano
Dedilhando vento nas velas...
Patativando palavras soltas
Nas prosas das feiras das praças.

E eu, poeta doutras letras, doutros cantos,

Doutras venetas...

Aprendi, do som da zabumba,
Do deleite do feijão-de-corda,
Do branco da areia da duna...

Como rimar sol com saudade...

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Instante...

E no pretenso castelo das vozes dissonantes
Seu sorriso dança suave, com sublime frescor,
Soprado pelo verde do seu vestido...

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Canto II - Hérick, o Vermelho

Os ventos do Leste sussurram a história
Nas bordas do mundo se fez cavaleiro
Contendas de outrora coberto de glória
De Avallon filho, varão derradeiro.

Brandia nas mãos laminada justiça
De verdes folhas brasão reluzente
Sem par em bravura, algoz da cobiça
No fogo e na fé seu nome é ardente.

Outeiros e vales ecoam seus feitos
Milhas e minhas de águas singradas 
Desconhece desonra, da Távola eleito
Hérick - o vermelho, clarão da alvorada

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Canto I - A Princesa Das Letras Sagradas

Essa noite, Tolkien me trouxe um canto...

...

Presenteia a lua com olhar de pérola
Ó doce princesa das letras sagradas
Em suave enlevo seu canto vagueia
Sua voz de sereia em torre encimada.

Derrama na terra seu fértil encanto
Sorriso estandarte de hoste de estrela
De foz cristalina desdobra seu manto
Bondade luzente de Deus a centelha.

Toca o horizonte minh'alva esperança
A palavra descansa na brisa ligeira
Encanta aos ouvidos, convida-te à dança
De um amar infinito de eras inteiras.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

My Wings







"Sempre me disseram que os seres humanos não podiam voar... Porque não tinhas asas. Mas depois que conheci algumas pessoas, percebi que isso é um mero detalhe."

Começava assim um vídeo que fiz sobre mim mesmo na faculdade, como projeto de conclusão de semestre para a disciplina de "Produção Para TV e Cinema", ministrada pela talentosíssima Adalgisa Lacerda.

Minhas asas foram escritas em mim pela vida, muito antes de serem efetivamente tatuadas... E poucos, muito poucos, conhecem o peso de tudo o que representam. Achei mesmo que nunca escreveria sobre elas...

...

Houve um tempo em que as impossibilidades gritaram mais alto que o poder de subjugá-las. Houve um tempo em que a realidade esmagava cada nesga de esperança... e no vórtice insano da dualidade criada entre o sublime - e ao mesmo tempo humano - desejo de liberdade e o caminhar trôpego das curtas distâncias, deixei-me estar - e sentir-me abandonado.

Gradativamente, fui tornando opaco o brilho de tudo o que me orientava. Esqueci as cores do mundo, o acolhimento da família, o cuidado de Deus... Culminando nas impublicáveis linhas "ravenianas" do conto "O Anjo e o Espectro".

Afastei-me da minha natureza, procurei respostas que apenas justificassem minha descrença nascente, enquanto no peito buscava enterrar, o quão fundo fosse possível, a fragilidade de alguns sentimentos incompreendidos.

Fiz das letras rotas de fuga, fiz do exílio condição da existência... Orei - agora vejo - mesmo não querendo orar, através da poesia:

Grito Seu nome com todas as forças
Por que Sua face se esconde de mim?
Quero voltar, mas esqueci o caminho...

                                                      - Versos de "Filho Pródigo", de 2005 


Mas enquanto eu duvidava, houve quem acreditasse. O Homem-Floresta armou seus esteios verdes ao me soprar verdades. Abriu a janela e fez escapar meus versos para o mundo. Encheu meu espírito de seus cantos silvestres e bombadillescos e me devolveu à mão a espada. Me pediu trovas ao invés de lágrimas e me rebatizou guerreiro.

Enquanto minhas letras diziam que anjos caídos não podem voar a Madre-Pássaro me fez lembrar que não há vergonha em cair, mas há covardia em não escolher levantar. Então, quando olhei no espelho, pude vê-las em formação, pluma sobre pluma, alvas no topo e chamuscadas na base. Como a sinalizar ascendência, como a dizer que o fogo dos dias havia passado e que a casa do Pai sempre esteve na direção do meu vôo. 



        

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

"O Iluminado"

Não, esse não é um texto sobre Stanley Kubrick ou sua obra... Então, antes de frustrar suas expectativas, sugiro que nem continue a leitura.

...

Espaço/tempo formam uma teia. E alguns acontecimentos aleatórios à primeira vista podem, em um momento de epifania  - eu simplesmente adoro essa palavra -, se mostrar (estranhamente) conectados.

Este ocorrido tem por volta de dois (ou três) anos, e corresponde ao primeiro fio da teia, sendo composto pelo binário: litoral catarinense (Itapoá)/noite de reveillon. Andávamos pela orla, um primo, um amigo e eu, logo após os fogos - e a chuva, claro. Em meio a algazarra catártica que se instala e inflama o povo de uma esperança tola de melhora sem mudança, própria deste dia em especial, caminhávamos calmamente alheios a esse clima de excessos.

No sentido oposto, se aproxima um senhor de meia idade vestindo branco, com o qual nenhum de nós tinhamos nos deparado antes na vida, me abraça e - para espanto geral - diz a seguinte frase: "Você é um iluminado".

Ainda me refazendo do impacto da frase, agradeço... e procuro entender...

Disse o homem, do qual nunca soubemos o nome, que havia tido um ano muito difícil devido a uma enfermidade desenvolvida pelo filho e que parecia não ter solução. Gostaria muito que pudessem estar juntos naquele momento mas por algum motivo isso não era possível. Aparentemente, abraçar-me era a maneira encontrada pelo homem de sentir-se mais perto do filho. Aceitei o abraço; desejei paz ao homem e saúde a seu rebento; nos despedimos e seguimos pela vida.

No segundo fio, o binário da teia é mais recente: Curitiba Music Hall/cerca de um ano e meio antes da atual data. No palco, se apresentava uma das bandas mais importantes de minha adolescência: Raimundos. Curti o show como quem realiza um sonho púbere. "Bangueando" insanamente e explodindo a garganta em cada letra. Isso é o que eu era. O que eu me moldei para ser.

Ao final do show, enquanto descíamos as escadas do mezanino, minha prima e eu, abordou-nos um "excêntrico" rapaz, com boné de aba reta e expulsando álcool etílico pelos poros. O que se seguiu foi o seguinte:

- Cara, você pode trocar uma ideia comigo? Dois palitos...

(eu) - Claro, falaí brother.

Te vi curtindo o show e achei demais cara... você apavora...

(eu) - Véi, valeu, essa banda é demais! Qual é o seu nome?

- A galera me chama de "Squitch V8"

(eu) - Huahuahua massa, você também mandou bem "Squitch"

Nesse momento ele também me abraça e se emociona...

- Cara, nunca desista de nada, porque a gente não é nada... A gente não é nada...

Espantado...

(eu) - Calma cara, lógico que você é importante... aí, acabou de ganhar um brother

Você é um cara iluminado...

...

Não sei exatamente o porquê dessas duas histórias surgirem na minha mente agora... O fato é que tenho pensado muito na forma como algumas pessoas podem ser instrumentos de mudança na vida de outras, como elas podem apontar os caminhos.

Não posso dizer se a vida dessas pessoas tenha se transformado de fato depois desses encontros mas o que posso dizer com certeza é que naquele ponto de nossas vidas, a teia enlaçou-nos por algum motivo, e através de mim, uma energia muito positiva e edificante fluiu ao encontro deles... Ao mesmo tempo em que pude ser alento em momentos difíceis que por ventura esses indivíduos pudessem estar vivendo, edifiquei para mim uma parte das certezas que carrego agora... Com meus atos eu mesmo me transformo e posso ser também instrumento para que essa energia toque a quem dela necessita...  
             

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Flashback...

Entre conhecerem-se, enamorarem-se, projetarem uma vida juntos e confirmarem os laços de amor, fidelidade e companheirismo diante de Deus e de todos aqueles a quem mais amam... cinco anos lapidando cada detalhe.

Uma flor branca na lapela denotava ao cerimonial minha qualidade de padrinho, mas acho mesmo que, de certo modo, isso foi também lapidado ao longo desse tempo.

Como uma espécie de "espectador privilegiado", dividi a casa com o (insuspeitado futuro) noivo, recém desembarcado sob o céu cinza da capital paranaense em busca de oportunidades. Amigo da vida inteira, pude testemunhar a relativa dificuldade de adaptação, a escolha dos caminhos profissionais e de formação, o reestruturar da prática religiosa, o "acaso" do encontro com a (também insuspeitada futura) companheira e... o nascimento do primeiro encantamento.

Lembro de ter ouvido: "Cara, ela gosta de animes!" E isso, para geeks como nós, era - e ainda é - muito mais do que se podia sonhar. Descobrimos, com o tempo, que a lista de similaridades era imensamente maior: Senhor dos Anéis (OK); Games (talvez melhor que nós... tá, nem tanto, mas OK); Música (um OK ao som de Foo Fighters); RPG - de mesa E card-game (um gigantesco OK); Livros (de Harry Potter à Guia do Mochileiro das Galáxias - OK); Formação: Sistemas de Informação (a mesma do insuspeitado noivo - OK Combo Kill - PERFECT). Não raro se ouvir nos círculos sociais: "ela é quase uma 'versão feminina dele', e vice-versa".

E tudo isso não é, nem de longe, o mais importante...

Mesmo se nada do exposto acima fosse verdade, ainda haveria o cuidado, o carinho, a cumplicidade, o desejo de acolher, de tornar a vida do outro melhor e de aprender e evoluir juntos... O que torna, a meu ver, qualquer eventual diferença insignificante.        

...

Voltando para o dia "D" - só quem os conhece sabe que não poderia haver definição melhor - enquanto ele esperava a entrada dela na igreja para enfim selar a união e, como disse alguém que inspirou este texto, fazer com que seus corações batessem no ritmo das batidas do coração de Deus, tentava esconder em vão o nervosismo e as lágrimas. E eu, também extremamente tocado, senti o quão privilegiado era por poder ter acompanhado o crescimento de tão sinceros sentimentos desde a semente... e quão admirável é a escolha deste caminho...

As melhores energias sempre! 
  

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

[...]

Um mundo explodindo n'alma...
Sou infinito

... mas sou também silêncio

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Comida, diversão e arte. Tudo junto e misturado

O Guia Gazeta do Povo foi procurar lugares que oferecem o combo perfeito para quem quer se divertir e comer bem. Confira alguns estabelecimentos da cidade que misturam gastronomia e cultura 


Rico Boschi - 05/11/2013

Editora/Livraria/Café
Arte & Letra
Foto: Divulgação

Um dos legados dos Titãs (e dos anos 80) para a humanidade – pelo menos para a parte brasileira dela – é a certeza de que “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. Então, para te ajudar a encontrar aquilo que você realmente quer, o Guia Gazeta do Povo fez uma lista de lugares em Curitiba que oferecem essa mistura para animar seu happy hour.

Dona Dulce

A paixão do chef Fernando Alves por cinema trouxe para o restaurante muito mais do que os temperos da culinária brasileira, sua especialidade. Foi dele a ideia que deu origem ao evento Cine Gourmet, projeto onde a cada 2ª segunda-feira do mês acontece a exibição de uma obra cinematográfica – escolhida via enquete pelos participantes –, acompanhada de um jantar temático cujos pratos são todos inspirados na obra em exibição. Para tornar a experiência ainda mais saborosa, o evento conta ainda com os comentários do crítico cinematográfico Marden Machado, além de um bate-papo com o chef a respeito dos ingredientes e preparo dos pratos. A terceira edição do Cine Gourmet acontece no próximo dia 11 de novembro, com custo de R$ 25 por pessoa, e o filme escolhido é “Vatel” (do diretor Roland Joffé), que foi precedido dos filmes “Estômago” (Marcos Jorge) e “Chocolate” (Lasse Hallströn) sucessivamente.

SESC Paço da Liberdade
Esse espaço reúne uma extensa gama de ambientes que possibilitam experiências culturais, culinárias e pedagógicas ao público. Edifício histórico, construído em 1916 para abrigar a primeira sede da prefeitura de Curitiba, foi reinaugurado 93 anos depois, em 2009, já com essa proposta. Abriga em suas instalações desde o Café do Paço – onde além de degustar opções de pâtisserie e cafeteria o cliente pode assistir apresentações de pianistas e pocket-shows de artistas acústicos – até o CinePensamento – sala de exibições de películas cinematográficas, com destaque para produções não comerciais, que oferece ainda um núcleo de estudos sobre cinema. Destaque também para o “LAB_Paço”, um laboratório para artes eletrônicas que oferece todo o aparato tecnológico para o desenvolvimento de projetos no campo audiovisual; a biblioteca, que reúne cerca de 6 mil títulos voltados à arte, cultura e comunicação, e ainda o Espaço das Artes, idealizado para proporcionar novas experiências em artes visuais e eletrônicas.

Serviço: os cafés variam entre R$4 a R$ 15 e os pratos de R$ 6 a R$ 10.

Restaurante e Espaço Cultural Alberto Massuda
Um local totalmente idealizado para homenagear o artista plástico Alberto Massuda, natural do Egito e radicado em Curitiba até o ano 2000, ano de seu falecimento. Em seus três ambientes, telas e murais adornam as paredes deste que também é uma construção tombada pelo Patrimônio Histórico. O cardápio também traz ilustrações do artista, o que contribui para a atmosfera refinada do local.

Serviço: os pratos variam de R$ 12 a R$ 40.

Wonka Bar
O Wonka Bar sempre flertou bem de perto com a arte. Seja na decoração – que conta com quadros de artistas contemporâneos locais – ou nas noites temáticas como a Wonka Jazz que traz a música como protagonista. Mas há um projeto em especial que merece os holofotes: o Vox Urbe (voz da cidade, em latim). Todas as terças-feiras rolam sarais (encontros) temáticos que convergem música e poesia local. Projeto coordenado por Ricardo Pozzo, o Vox Urbe já contemplou, na última edição, por exemplo, musicalizações de obras de Vinícius de Morais, Cecília Meirelles, feitas por Haroldo Machado e Rafael Dauer. O espaço também já abrigou lançamentos de obras literárias como “Liturgia do Sangue”, de Renato Bittencourt Gomes.

Serviço: a média de preço por pessoa varia de R$ 10 a R$ 30.

Café Teatro Toucher La Lune
Lar da companhia de teatro CemCulpas (responsável por montagens como “Eu Estou No
Mesmo Lugar Que a Pessoa Mais Longe de Mim”, “Petite Mort”, entre outras) o espaço, fundado em 2012, além de abrigar as montagens da trupe é também reduto de bandas locais que procuram condições acústicas ideais para ensaio e gravação, poetas como os do grupo Auripoetas Do Céu Sonoro e Profundamente Azul, que organizam sarais com poesia e música. Há lugar também para exposições de artes visuais como “Reisen”, que reuniu pinturas, colagens e gravuras do artista Israel Dalí Munhoz e esteve no local durante todo o mês de agosto. A decoração do ambiente do Café faz referência ao universo do teatro, sendo a especialidade os drinks que misturam cafés com ingredientes alcoólicos.

Serviço: os cafés variam de R$ 5 a R$ 15.

Arte e Letra
Se você, assim como o Djavan, estiver à procura de um bom lugar pra ler um livro nos dias frios – e nos quentes também – de Curitiba, pode encerrar a sua jornada. Idealizada para ser um autêntico espaço multicultural, a editora/livraria Arte e Letra, tocada pelos irmãos Frederico e Thiago Tizzot, é um espaço que une um ambiente aconchegante – anexo à Casa de Pedra do Batel – com publicações que vão desde Tolstói a escritores contemporâneos como Luiz Felipe Leprevost, além do aroma convidativo de um Café com mesas ao ar livre. Diversos escritores como Cristovão Tezza e Miguel Sanches Neto já fizeram da Arte e Letra palco para o lançamento de suas obras. Do mesmo modo, artistas plásticos e fotógrafos expõem constantemente seus trabalhos, como é o caso de Nego Miranda que, durante todo o mês de novembro, comanda a mostra “Puxando Fios: Histórias de Armarinhos”, que traz as fotografias que compuseram o livro de mesmo nome, lançado este ano em parceria com a jornalista Teresa Urban, falecida em junho, três meses antes da publicação.

Serviço: os cafés variam de R$ 15 a R$ 20.

Bistronomix
Oui Monsieur! Pra fechar esta lista trouxemos um lugar que mescla toda a sofisticação culinária dos bistrôs da França, aliada com a efervescência da pintura, também característica daquele país. Atualmente, quem visitar o local poderá conferir, além dos sabores do cardápio, as obras da artista plástica Leila Muniz, feitas a partir de colagens e recortes, aplicados sobre pinturas em tela. Na agenda estão programadas participações em festivais culinários – como o Festival Soho Batel –, além de novas exposições como a da artista plástica e estilista Giovana Lago, que utiliza o espaço para mostrar seu trabalho com ilustrações, cuja abertura está prevista para o dia 23 de novembro. Giovana é notória por seu trabalho que mescla roupas e alimentos, com a utilização de leguminosas e outros elementos culinários na confecção das peças.

Serviço: os pratos variam de R$ 10 a R$ 30.

Matéria originalmente publicada no Guia Gazeta do Povo

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O que é "O Estado"?



"Em nossos dias, a relação entre o Estado e a violência é particularmente íntima. Em todos os tempos, os agrupamentos políticos mais diversos - a começar pela família - recorrem à violência física, tendo-a como instrumento normal de poder. Em nossa época, entretanto, devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território - a noção de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado - reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física. É, com efeito, próprio de nossa época o não reconhecer, em relação a qualquer outro grupo ou aos indivíduos, o direito de fazer uso da violência, a não ser nos casos em que o Estado o tolere: o Estado se transforma, portanto, na única fonte do "direito" à violência."

WEBER, Max Ciência e Política - Duas Vocações - Cultrix 2011
Original: Wussencraft Als Beruf e Politik Als Beruf - Dunker e Hunblot 1967/68

Incrivelmente atual, não? 

domingo, 27 de outubro de 2013

Muito além da degustação de cervejas

Rico Boschi - 01/10/2013

Shows, tours por fábricas e até a possibilidade de fazer a própria cerveja estão entre os muitos atrativos criados pelos fabricantes para conquistar o público



De técnico de futebol - e mestre cervejeiro - todo brasileiro tem um pouco. A famosa bebida a base de água, lúpulo, malte de cevada e leveduras sempre foi uma paixão nacional, porém nos últimos anos, devido à acirrada concorrência, essa relação se sofisticou.
VÍDEO: Confira o vídeo do evento Saturday Way


Não basta mais descer redondo, o consumidor de cerveja tem se mostrado cada vez mais curioso e exigente a respeito do processo de produção da bebida, possibilidades de harmonização gastronômica e criatividade no momento da degustação.
Conscientes desse novo papel do cliente, marcas e estabelecimentos investem em oferecer novas experiências relacionadas ao produto, com o objetivo de consolidar no país uma cultura de apreciação da cerveja. Shows, tours por fábricas e até a possibilidade de fazer a própria cervejaestão entre os muitos atrativos criados pelos fabricantes para conquistar o público.
Conheça a seguir algumas das melhores opções para quem deseja aprimorar-se na nobre arte da degustação cervejeira e aproveitar a bebida de maneira criativa:
Bares
Hop’ n Roll Beer Club
Além de privilegiar marcas nacionais de fabricação artesanal, o estabelecimento possibilita ao cliente fabricar e consumir a própria bebida. Mediante agendamento, ficam à disposição equipamentos semiprofissionais e ingredientes para a elaboração da cerveja idealizada pelo consumidor, com orientação de um profissional especializado. O produto final é servido fresco e sem nenhum conservante, podendo inclusive passar a compor o cardápio da casa.
Clube do Malte 
Estabelecimento que reúne restaurante, bar e cervejaria coloca a disposição do cliente cerca de 150 rótulos de cervejas nacionais e estrangeiras. Investe fortemente em harmonização gastronômica tendo em seu cardápio pratos especialmente elaborados para ter a cerveja como acompanhamento.
Outro diferencial do Clube do Malte é o sistema Beer Pack onde o cliente paga uma assinatura mensal e recebe em domicílio um kit temático contendo informações sobre escolas cervejeiras – ou sobre o país de origem, dependendo do tema - brindes e exemplar para degustação.
“Criação de uma cultura cervejeira” – é esse o “mantra” do Templo da Cerveja. Além de oferecer uma variedade de cerca de 200 rótulos da bebida, a casa investe consistentemente na disseminação de informações a respeito do universo cervejeiro, através de palestras, workshops e eventos relacionados. Além disso, mantem diversas publicações sobre o tema para consulta dos clientes ou mesmo para venda. Destaque ainda para os pacotes personalizados para presente, elaborados com base na personalidade do cliente.
Cervejarias
A cervejaria Klein realiza visitas guiadas pré-agendadas para grupos de, no máximo, 10 pessoas. Suas receitas são inspiradas em escolas cervejeiras de diversas partes do mundo, podendo ser degustadas pelos clientes ao final da excursão pela fábrica.
Cervejaria Bier Hoff 
Seguindo a mesma ideia de aplacar a curiosidade dos consumidores sobre o processo de produção da cerveja, a Bier Hoff também abre as portas das suas instalações para visitação. Uma rodada de debate e degustação ao final da visita ajuda a esclarecer as dúvidas dos apreciadores ao final do processo.
Cervejaria Wensky Beer 
Uma microcervejaria com 9 rótulos de fabricação própria, a Wenski também expõe ao público suas instalações. Em uma loja anexa à fábrica, o cliente pode degustar e comprar as cervejas que mais lhe agradarem. Um aspecto interessante desta marca é a nomenclatura de suas cervejas, inspirada em espécies nativas dos locais de onde a receita é oriunda, além de homenagear o folclore brasileiro em uma linha alternativa.
Eventos
Saturday Way
A cervejaria Way Beer eleva a visitação a um novo patamar. Periodicamente, além de abrir as portas de suas instalações, organiza o Saturday Way, evento que reúne cerveja, gastronomia e música para embalar a degustação. Diversas tendas de estabelecimentos parceiros do evento são armadas nas dependências da fábrica para oferecer opções gastronômicas harmonizadas com as cervejas produzidas pela casa, ou de microcervejarias participantes. Além disso, bandas convidadas se apresentam no palco montado especialmente para o evento, garantindo a atmosfera alternativa da iniciativa. Como o próprio nome indica, o evento acontece sempre aos sábados, das 12h às 18h, em datas pré-agendadas.
Wikibier 2013
O Wikibier é um dos principais eventos relacionados ao universo cervejeiro do país. Esta edição reúne cerca de 150 rótulos em diversos stands de produtores oferecendo possibilidades de negócios e degustação. Estão à disposição do visitante também barraquinhas com diversas opções gastronômicas para harmonização com a cerveja. Nesta edição, durante todo o evento acontecem apresentações de bandas convidadas como: Trio Quintina, U2 Cover, Roberto e Carlos Band, Gente Boa da Melhor Qualidade e Zé Rodrigo Apresenta Rock n' Roll Celebration
A Bier Hoff abriga também a festa de premiação do Segundo Concurso Paranaense de Cerveja Feita Em Casa, que acontece neste sábado (4), das 12h às 18h
Matéria e vídeo originalmente publicada no Guia Gazeta do Povo

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Em torno do mestre



Para aquele cujo olhar não estivesse disposto a agudar-se propriamente, jamais seria capaz de penetrar a aparente neblina e enxergar de fato os laços verdes, arbóreos, algáceos, florifáunicos e naturalescos que uniam e impulsionavam os viajantes enquanto buscavam os portais do mestre.

Sobre os ombros pendiam desejos rubros de fazer-se semente das palavras do sábio e, através delas, fecundar não apenas terra, mas também ar, água, vidas marinhas, terrestre e, principalmente, espíritos humanos... Estes últimos, já há muito estéreis e opacos, perdidos na ilusão egoísta do individualismo.

O conselho

Tomou seu lugar à mesa o Homem-Floresta. Robustos, feitos de sangue e seiva, seus ideais - firmes e indomáveis - extrapolavam os poros e impregnavam o ar de um aroma silvestre. Os olhos eram pedras de rio. A risada era tempestade de trópico, reverberando no espírito dos aventureiros que de suas trilhas seguiam as pegadas.

A seu lado pairou a Melíade da Brisa Dourada.Viva e intensa no assoviar dos pensamentos, suave e serena no soprar das atitudes. A pele alva trazia em subtexto matizes de todas as cores, no mel dos olhos o gosto da vida. 

Ao som de tambores, a Filha da Mata fez reverência. Ao sábio, e somente a ele, oferecia a joia de sua atenção. Vibrava em elevada frequência, trazendo o céu nos olhos e a floresta a lhe pulsar no peito. Quando da voz entoava o argumento, a sussuarana lhe rosnava no espírito.

E, incontrolavelmente sísmica, completou o Conselho a Deusa Vulcânica do Breu Perolado. Sua inquietude fremente era puro entusiasmo, energia multipolarizada em consonância com o mais galvânico limiar de movimento terrestre.

O sábio

Trazia a alma de Gaia por entre os dedos. Com a floresta aprendeu a lufar seus ensinamentos como a brisa leve que passeia entre as folhas, respeitando a fluidez de tudo o que se movimenta, o pulsar de tudo o que vive.

Sua voz era cadência marinha, marulhar sereno que de muitas luas, frias como prata, e sóis, vermelhos como fogo, se fez espelho.

Seu olhar era flecha de povo nativo, ponta de lança que rasgava o veio da intenção humana desvendando a mão por traz da foice, a fagulha que lambe a mata e o futuro, a moeda-veneno que apodrece as vidas e almas humanas.

O escriba

Em silêncio, ao canto da sala, o escriba - de dedos ágeis e ouvidos curiosos - toma nota do momento único que sente estar vivendo. Tão titânicas potencialidades reunidas em torno do mestre em busca de direcionamento e iluminação. Observa, maravilhado, o quanto todos os que compõem o Conselho se complementam em suas visões, o quão natural passa a lhe parecer a individualidade coletiva que, naquele instante (e em nenhum outro lugar) se estabelece.

O quanto se elevam aqueles seres, o quão sublime é essa interação! Sente, o reles "escrivinhador", que nada que vira em suas andanças pode a isso se equiparar. O universo responde aos movimentos... A realidade se transforma pelas ações desenhadas nesta mesa... São ativos, são dinâmicos todos os esforços... São indizíveis as possibilidades!

No entanto, no ápice do interlóquio, evapora o sábio por considerar seu tempo findo e a semente plantada.

A partir daí, o que os olhos do escriba veem é um Conselho sem fé em si mesmo... Espanta-se ao observar que, mesmo ainda de posse das mesmas potencialidades, e guardando em si cada ensinamento, os integrantes da mesa não se mostram mais capazes de enxergar a importância de se manterem como um. Esqueceram, ou não mais desejam lembrar que comungam da mesma semente... Que tem dever sobre a memória do Sábio e, antes de tudo, é essa união que o preserva.

Em torno do mestre estiveram por longos instantes, de sua centelha cada um levou parte impressa em si. A esse escriba, que lamenta por suas letras, só resta continuar, mesmo sabendo que nunca escreverá como antes se o vazio estiver no horizonte...               
          

                      

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Há algo de intransponível no multiaromático instante
Nem mesmo todas as vozes sobrepõem-se ao desejo
solitário de escrever...

Existe glória, mesmo que fugaz, nas pétalas da solidão?
Derramam-se as letras por sobre estas linhas esguias
Como a querer abrandar a acidez de alguns pensamentos...

O quão densas são tuas partículas, oh desajustado instante?
De onde nasces? Que nome tens? Mostra-me a face
E desvenda o mistério de sua dissolução.  

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Broken Man

On the night road, his drunk steps kisses the full moon on the lips...

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Conselhos do Mar amanhecido



Acordou cedo e foi ter com o Mar em suas primeiras horas... Com os pés descalços na areia da manhã sentia-se invasivo e temeroso ao perturbar o bocejar translúcido de um gigante em pleno abrir de olhos.

Era, como sempre, encantamento. Mas, naquele domingo, era também pesar. Mostrou respeito, no entanto, pela cumplicidade construída... Ao aproximar-se das águas, juntou as mãos e inclinou o corpo em sinal de reverência. O Mar, por sua vez, veio tocar-lhe os pés como se dissesse em seu marulhar: "Senta, meu velho amigo, faço gosto em vê-lo, conta-me tuas histórias".

Desarmou-se com a receptividade. Começou dizendo que nada no mundo lhe fazia tanta falta nos dias cotidianos quanto o devir eterno das ondas, o movimento, o renovar-se constante... Que o mundo entre paredes e prédios não tem a mesma vida.

"Aqui estou para devolver-lhe as forças", escreveu o Mar em sua escuma.

Continuou confidenciando que com o cair de agosto lhe havia escapado também a poesia. Embora quisesse poder culpar a Falkland pela frieza que crescera em seu mundo terrestre, bem sabia que o emudecimento de suas letras nascia da angústia de não ser capaz de trazer de volta a calmaria daquele sorriso para as águas nas quais escolheu navegar. Não importava que força impusesse aos remos, em que direção apontasse a proa da embarcação, nem quão essencial e ensolarado se mostrasse o horizonte daquela amizade, os ventos teimavam em seguir desfavoráveis...

"Observa o mister da onda por um instante, meu pequeno beletrista. Sabiamente se entrega ao vento para se fazer grande... Depois, volta, com humildade, a amiudar-se na areia, para logo então recomeçar o ciclo. Nada importa o formato que a onda pode assumir, nem a força com que pode avançar... É ainda - e sempre será - parte da minha essência e do meu ciclo. Deixa cumprir também teu ciclo, amigo meu, não luta contra o que te impulsiona. Se mantiveres letra e essência pura, naturalmente serão cristalinas as tuas águas. E todo aquele que olhar em teus olhos terá o desejo mais sincero de sorrir".

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Pilares

É incrível como a vida trabalha sempre pra nos mostrar o caminho. Em um momento de emoções conturbadas, indefinições e redefinições, lembrei-me ontem de aconselhamento antigo vindo de um grande amigo, discípulo da tartaruga.

Dizia ele, com toda a calma que lhe é peculiar, enquanto desenhava uma ilha no paintbrush, que a vida apenas se sustenta enquanto estiver apoiada em múltiplos - e sólidos - pilares, pois quando um desses não mostrar a rigidez necessária - e, não se iluda, hão de haver dias assim - estará ainda a estrutura assegurada pelos demais que lhe sirvam de pontos de distribuição da carga.

Mergulhado nos dilemas púberes da época não tive a maturidade para absorver o completo teor do ensinamento. No entanto, alguns anos parecem ter-me clareado os sentidos e, lentamente, começo a entender do que falava meu interlocutor.

Talvez a função dos últimos acontecimentos tenha sido mesmo trazer de volta a questão sobre quais são os meus pilares. Sobre o que se edifica a minha vida? Será que tudo pelo qual tenho empenhado minha energia nos últimos tempos tem mesmo razão de ser? Merece esse esforço?

Claro, existe o incontestável. Deus (em minha livre interpretação), minha família, a militância ambientalista, as minhas letras... São faces que vejo como indissociáveis do individuo em que me reconheço e o qual me orgulho de ser. Muitos foram os acertos - e maiores ainda os erros - que moldaram esses pilares mas, com certeza, são centrais em minha estrutura.

No entanto há aqueles cuja relevância tem de ser reafirmada todos os dias, cuja função na estrutura não parece clara ou mesmo cujo peso se mostra insustentável. São adendos construídos pela vaidade, pela ilusão, pela juventude.

Posso dizer da necessidade de reconhecimento, por exemplo, que nasce da vaidade de desejar ser bem visto aos olhos alheios, de receber os louros pela escrita bem elaborada, pelo ativismo orientado de forma coerente, pelo potencial produtivo pluralista que todos somos obrigados a desenvolver. Devo admitir porém que essa mentalidade é fruto da ideologia capitalista dominante que massacra os agentes sociais e os impõem competições de escala hierárquica que não tem outra função senão manter o status quo enquanto produz uma massa de derrotados.

... nada incomum quando infiltrações deste pilar produzem abalos sobre os demais, porém é preciso lembrar que todo o concreto aqui é metafórico e que somos todos humanos, demasiadamente humanos.

Talvez mais inconsistente ainda seja a necessidade de responder à imposição social que coloca o amor romântico como condição única da felicidade plena. A ideia de que no mundo existe a pessoa capaz de lhe completar não é senão um mito, um eufemismo social que abranda a necessidade real de autocorreção do indivíduo, que projeta no outro o vislumbre daquilo que desejaria ver fortalecido em si mesmo.

É neste ponto em que entro em confronto com minha própria produção recente. Se o leitor tiver interesse - e paciência - em buscar alguns dos últimos posts deste blog entenderá perfeitamente. Embora nunca tenha me utilizado das letras para dizer uma só coisa  que não fosse absolutamente verdade, embora estivesse sob influência do mais nobre dos sentimentos quando pus-me a escrever algumas linhas anteriores, deixei de considerar o quanto aquelas palavras exerceriam influência sobre os demais pilares da estrutura, de modo que a razão agora grita pela retomada.

Ergui, com todo o esmero característico dos poetas, o mais belo dos pilares. Fiz reluzir entalhes da mais perfeita maestria. Fiz colorir-se de tons únicos cada detalhe do acabamento. No entanto esqueci de atentar para o fato de que suas bases apenas se confirmavam em meu querer ilusório, em um desejo solitário que impunha à mesma forma pedra e vento.

E, antes que me fosse dado perceber, estava colocando em xeque algumas fundações incontestáveis...

Novamente, embora tenha sido impulsionado pelo mais verdadeiro dos sentimentos, não me é permitido deixar de notar que o esforço que compreendia para me fazer notório e "digno", em verdade me afastava da liberdade de pensamento intrínseca em todos os demais pilares, e, antes de somar em segurança, trazia à estrutura a incerteza da solidez das bases.

Nunca, jamais vi com maus olhos a prática de buscar novas perspectivas, novos ângulos para o entendimento daquilo que me constitui, inclusive já há muito considero este o mais valido dos empenhos. No entanto passei a perceber que não importava o quão longe eu estivesse disposto a ir, simplesmente nunca me enquadraria nas expectativas visadas, simplesmente porque me parecem agora demasiadamente lacunosas, incompletas.

Tive de fato um "reencontro" com a espiritualidade que pode (ou não) ser expressa na figura de Deus, provou-se benéfica a recomposição de seu nome no cerne da construção. Estive sim em Sua presença mas os olhos com que me olhou eram antes de júbilo do que reprovação a essa postura antidogmática que sempre assumi e que não mais pretendo abandonar. Entendi que não importa aos olhos de quem essas palavras vão parecer verdadeiras desde que possam vibrar em sintonia com essa "energia".

... pois ao longe, muitos pilares ainda necessitam ser construídos e cabe a mim - e só a mim - conhecer os que realmente se encaixam em minha estrutura

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Certezas...

Ontem, exibia cada convicção minha com tal resplandecência... Pulsavam no peito qual medalhas de uma vida cheia de cicatrizes. Achava-me pleno de uma autossuficiência moral/intelectual/afetiva tão sólida que bastava seguir caminhando...

Aprendi com as dificuldades a cuspir autoconfiança nos olhares inquisidores do mundo e, apesar dos passos trôpegos, destinos familiares e horizontes bem-delineados curvavam-se ao longo da estrada.

Cada traço, cada gesto, cada sentimento estava em seu lugar. Num molde hermético erguido pela necessidade de enfrentamento da hostilidade do mundo. Construi sim amizades sinceras mas antes, certezas metálicas, e uma visão que me obrigava a nunca desviar os olhos, a nunca buscar forças fora de mim, a caminhar sozinho o quão mais a jornada permitisse.

O que era Deus? E porque é que ele parece nunca olhar pra mim? - Me perguntava, sempre me perguntei...

...

Acontece que, de repente, do mesmo modo como invertem-se as correntes do vendo, resolveu a vida trazer pra perto de mim um sorriso... O mais lindo de todos, aquele tão próximo de Deus que não houve como não se sentir tocado por suas emanações. Enamorei-me dele, quis conhecer cada detalhe de tudo o que o compõe... E, lentamente, pude sentir (e ainda posso) um iluminar balsâmico preenchendo os veios da minha armadura, libertando o meu espírito e me mostrando as respostas que desde sempre procurei.

Imperfeito que sou, vez por outra encaro a dúvida, o erro mas, diferente de antes, agora há sempre uma luz morna e acolhedora para orientar os passos do caminheiro e reforçar as bases do compromisso firmado. Tenho consciência de que a evolução é um processo diário e que há um mundo de coisas a aprender antes que possa alcançar o entendimento do porque algumas coisas são como são - ou foram como foram.  O que importa é que agora começa a se construir a paz que sempre faltou em minha alma.

 ... e o que são as certezas senão conceitos passíveis de eterna reformulação? O que é a evolução senão a substituição de certezas incompletas por valores plenos? É isso, e apenas isso, que me atrevo a continuar buscando.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O beletrista sem palavras

Nunca pensei que viveria o dia em que me faltariam as palavras... Eu, beletrista incorrigível, que de cor sempre fiz verso; que de som sempre fiz música... Descubro-me mudo diante de ti. Não é que não haja o que ser dito, há um mundo de palavras querendo ganhar teus ouvidos, há um infinito de gestos represados em mim, sonhando em escrever-se no ar e viajar ao teu encontro... Sou eu, que de tanto amar - e de um amor tão novo - não encontro forma de expressá-lo que seja digna de você.

Meu silêncio não é mais do que reverência contemplativa... Da perfeição dos teus traços; do iluminar do teu sorriso; do oceano de tua pureza. Como perturbar a placidez de tuas águas com meus desarranjados sentimentos? Como encontrar o verbo que alcance uma fagulha de tudo o que guardo em mim?

Desde que tive sobre mim as joias negras do teu olhar, envergonharam-se minhas palavras, pois nunca hão de brilhar tão intensas, nunca terão mesma vida e estarão fadadas a apenas copiar sua luz por toda a eternidade.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Cada detalhe...

A lua me pede versos. Começo a formá-los n'alma quando percebo, não sem surpresa, que, nesta noite, as letras não desejam dançar comigo. Querem, antes, ouvir... Procuram assento ao pé de mim e como amigas de toda uma vida - o que de fato são - pedem prosa. Não me sinto no direito de recusar... Prosa então.

Depois de tentar dois ou três floreios, não pude evitar de trazer ao pensamento aquela que dá sentido a toda e qualquer palavra minha; aquela que guarda o infinito no ondular da voz; aquela cujos olhos encerram os segredos de toda a pureza.

Tento dizer às minhas letras que não há outros caminhos, e, mesmo que houvesse, os reescreveria a todos para que culminassem sempre em teu sorriso. Para que serve a escrita senão para acariciar você, amada minha? De que valem os versos, brancos ou multimatizados, se não forem eles capazes de mostrar o quanto o seu existir me faz melhor?

Esta noite, sirvo-me da mesma pureza porque necessito dizer que todos os castelos que ergui, todas as armaduras que carreguei se desfazem diante de teu sorriso; que, sublime como nunca antes, encontro-me disposto a transformar cada detalhe da minha vida, cada rima da minha poesia com o único propósito de tocar seu coração, simplesmente porque não há como desfrutar de dois segundos de sua companhia sem que a alma deseje uma vida inteira deste mesmo iluminar.

Se há de fato uma bênção guardada para todos os caminheiros é justo dizer que és a minha, que me devolveste, menina, à casa a que sempre pertenci, e que por meio do amor que sinto, pude encontrar luz onde não mais pensei que houvesse.

... pois no mar onde sempre me obriguei a navegar sozinho, cada detalhe seu se fez farol em meu caminho  


Teus Caminhos

(Para meu grande irmão Glauco Laufer)

Agarra os calcanhares do vento
que se escreve sobre teu rosto
Faz dele tuas asas e voa...

Desvenda a ti mesmo
Ou, se desejares,
Redesenha-te.

De novos traços delineia o horizonte
De novos passos alimenta os sonhos

... e novas cores faz pulsar sobre os caminhos!

domingo, 28 de julho de 2013

... ou rouba-me o sono

Noite alta, breu do mundo
Recolhe, Morfeu, as jóias
Que esta noite o céu chorou

Dá-me, em sonho, o rosto dela
Os diamantes do seu sorriso
Ou rouba-me o sono, não me oponho
Pois o adormecer é inimigo de todos que amam

domingo, 21 de julho de 2013

Carta de um amor (des)esperado

Uma grande amiga me disse certa vez, inspirada pelas ideias de André Comte-Sponville, que a verdadeira felicidade é aquela que não se espera, que nasce da ausência de expectativas e do contentamento com aquilo de concreto que já se possui. Nem preciso dizer que tal conselho escreveu-se em mim de forma indelével, e que sua veracidade vem se comprovando inúmeras vezes na medida em que o tempo passa.

Sendo felicidade e amor espécie de "irmãos siameses por afinidade" sempre me pareceu natural a extensão desta ideia, de modo a enlaçar os dois e tornar menos nebulosas algumas estradas pelas quais os sentimentos me levam a caminhar.

Clareza e intensidade porém nunca foram grandezas intimamente ligadas e, embora conserve relativa nitidez a respeito da postura (des)esperada a se manter diante de um amor (sim, admito, amor) que, embora se encontre pleno em cada fração da minha alma e em cada letra da minha escrita, não tem se mostrado possível, de modo algum o vejo esmaecendo, nem mesmo com a possibilidade da distância, que hoje vem bater à minha porta.

Consciente da importância do esforço de "não esperar", não posso, no entanto, fugir da necessidade que sinto de expressar o quão assustadora é essa perspectiva. Aprendi a necessitar daquele sorriso no momento em que se abriu pra mim, e, em todos os dias que se seguiram, nunca houve nada que quisesse mais do que apenas viver para vê-lo novamente. Se de fato os ventos continuarem soprando na direção do planalto central, deixarei nos pinheirais muito do que sou agora, a melhor parte do que sou agora.

Compreendo que o fato de enxergarmos o mundo de forma diferente tem muitas vezes nos afastado mas como já diziam os chineses:  "a verdade é um vaso quebrado do qual todos nós temos apenas fragmentos" e é por isso que sinto que cresço muito quando busco me aproximar das suas referências e imagino eu que, sob alguns aspectos (que só você pode dizer quais), haja alguma espécie de recíproca.

A verdade é que hoje se define uma parte importante do meu futuro e não poderia dar esse passo sem dizer que, seja como for, você representa muito mais do que sempre fui capaz de demonstrar e que, embora os versos deste poeta não tenham sido capazes de tocar seu coração, seu nome é a rima mais bonita que já contruí em toda minha poesia

terça-feira, 16 de julho de 2013

Quando ela se vestiu de lágrimas



Escondia o olhar felino por detrás de agruras calculadas...
Trêmulo, o abraço cínico ocupava os veios da ausência,
Enquanto suplicava complacência dos corações feridos.

Escrevia a dor na face com extrema maestria
Nos lábios a displicência das palavras ensaiadas
Dobrou-se em mesuras, se fez honrarias
Pôs na boca a palavra antes maculada

Vestiu-se de lágrimas, se fez condolência
Lamentou o tempo, a ofensa trocada
Embora mostrasse copiosa clemência
A torpe consciência mantinha intocada

sexta-feira, 12 de julho de 2013

A Batalha de Cada Um


" Nada é mais imbecil do que desperdiçar todas as energias em uma guerra. A força espiritual do homem manifestada em tempos de guerra certamente é impressionante, mas porque não usar essa energia em outra coisa? Seria inimaginável começar uma guerra por motivos econômicos. No momento, com a benevolência de sua majestade, estou desfrutando de uma vida aprimorada em seu Império, e se sua majestade me ordenasse ir para a guerra, eu não me recusaria, pois considero que minha mente não é tão frágil a ponto de ser esmagada pela guerra. Mas eu haveria de me pronunciar definitivamente como pacifista. Farei tudo que estiver ao meu alcance para deter essa guerra"
Hachiro Sasaki, 18 anos - Tokio, 15 de Dezembro de 1941  

- Trecho do livro "Éramos Jovens Na Guerra", de Sarah Wallis e Svetlana Palmer

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Adeus à Isla Negra..



Da pele, o sal marinho das tuas letras
penetra os veios do sangue e busca
irmandade com a alma do teu aprendiz.

Generoso, Neruda, permitistes mergulhar os pés
na fonte do teu verso e, como tú, passar
a ser terra, a ser jade, a ser onda, a ser Chile. 

Aprendi, dos teus ouvidos, o som da reza vermelha
do povo araucano, o tilintar fino das agulhas chuvosas e
persistentes, desenhando-se sobre tua capa negra de poeta.

Tive na boca o gosto do trigo...
Das multicolores frutas do Mercado 
... dos seios de Singapura

Mas, também como tú, amei Matilde...
seu amor pelo mar, pela lua, pela areia,
Seu suave entrelaçar de pernas ao dançar

Senti a morte nos lábios quando a Espanha
Rasgou de Lorca o peito e calou suas letras...
Em Granada, saltei-lhe o esquife em honraria

Estive dormindo em tuas reminiscências
Ó copíhue branco do Bosque Chileno
Dividi contigo a barca para Isla Negra...

E, depois de sorrir, amar, morrer contigo
Só resta a mim dizer adeus...  
      

terça-feira, 9 de julho de 2013

Temperando...


Fragrantes, entrelaçados os aromas do meio-dia.
Plácidos, em seus berços poliméricos,
abelhudam os tubérculos...
Segredando o cozer da vida.

Não há sussurro que não se enrede
em fios macarronados...


Nem tempero que falte às anedotas,
Brevemente marinadas em fatos cotidianos.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Veludo e pimenta

Na porta, o homem-átrio se desfez na galhofa do poeta  

Miles Davis, do alto de sua pixelialidade fotográfica,
Vertia mudas blue notes que se derramavam pela parede azul
e morriam sem pairar, sem fluir, sem impregnar o ar...

Curvas de luzes quentes crivavam o chão
de ínfimos e caóticos sóis verdes-rubros...
Ensinando pés ondulantes a dançar.

Almodóvar exibia suas mulheres para o nada
Enquanto os furos loucos e oculares da cantora
agrediam o microfone com seus erres metralhados

No castelo etílico, dourados cachos afogavam as bocas dos copos
Que, como escudeiros, sorviam antes a pimenta
e o veneno duo-colorado. Uma, duas, quatro doses...
E a pista nos convidou a dançar  

E dançamos, vezes molengos, vezes frenéticos
Vezes Vesúvios... Mas sempre poéticos.

Escreve, a morena, seu corpo por entre os espaços
O líder-floresta deixa-se desarmar e abraça a música
O guerreiro-infante costura os primeiros laços de veludo


Enquanto os olhos do poeta transformam veludo e pimenta

Em poesia...               


   

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Infinito de minuto



Pediu um café. Sentou-se à mesa.
Trazia as lembranças emaranhadas
nos fios de cabelo.

A cidade cuspia suas súblicas
Enquanto ele, se bastando, pleno de si,
Orquestrava o próprio infinito.

Café...
... com aroma de devaneio

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Os olhos da Baptista


  
Foto: Alexandre Mazzo
Fonte: Portal Imprensa

(Em memória de Teresa Urban)

Refletia o mundo no azul dos olhos
E eram canção, eram sorriso, e eram luta,
e eram inquietude, e eram pensamento

De clareza tal, além do existir...
Capaz de transpassar, heroica, o mais
espesso e plúmbico capítulo da história

E escrever-se - incólume - na alma da gente.

Nasceram destes olhos tuas crianças
E também deles aprenderam a Berrar
Para não consentir...

E, quando partem,
Novamente nos ensinam...

A ter coragem, a seguir a
luz que fez brilhar nas florestas
do teu legado.

Viva Baptista! Sempre!
Pois em nossos olhos arde
a mesma esperança...

A mesma chama que nos ergue
e nos impede de calar.

Pois como aprendemos contigo:

"Quem cala consente, por isso Berramos"



  

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Sobre as manifestações...




O povo brasileiro se levantou. Na dura realidade da exploração diária orquestrada pelo Estado finalmente se reconheceram como iguais e, em diversos atos de coragem, coletividade e ânsia de se fazer ouvir, deram voz a um descontentamento amorfo (e nem por isso menos concreto) de múltiplas origens, que ecoa nas ruas e reverbera nos ideais adormecidos (ou em formação) de uma geração que passa a entender a responsabilidade que possuem.

Quando mil, dez mil, cem mil tomam as ruas para esbravejar aos ouvidos do poder público que O Brasil Acordou, mostram a ele e ao mundo que a passividade com que costumavam lidar com a realidade política e social do país começa a dar lugar a uma efervescência crescente do desejo de libertação de um Brasil de potencialidades convenientemente incubadas pela corrupção, pelo descaso, ineficiência das estruturas de governo e manipulação midiática da informação.

Se a faísca responsável pela explosão dos protestos foi a repressão violenta de um protesto legítimo pelo aumento da tarifa de ônibus em São Paulo, outros tumores corroem há tempos a fé do brasileiro na administração pública, de forma lenta e silenciosa. Os impostos mais elevados do planeta ainda assim não são convertidos em escolas, hospitais, serviços públicos de qualidade, antes, transmutam-se em verba capaz de comprar apoio político, propina para atravancar engrenagens jurídicas ou ainda produto de obras  superfaturadas - inclusive as da Copa - para enriquecimento alheio.

Tais desvios - de dinheiro e de caráter - reiterados acabam sempre por cair sobre os ombros dos que trabalham, e a indignação oriunda desta realidade é o que vai compor o tal do descontentamento amorfo que naturalmente impele o povo a buscar mudanças, como estamos vendo atualmente nas ruas de todo o Brasil.

É lógico que em um universo tão vasto e heterogêneo de indivíduos coexistem diversas leituras a respeito da postura que as manifestações devem assumir. Há os que tentam vincular suas ideologias partidárias a este que é por essência um movimento livre deste tipo de orientação, há os que cobram lideranças deste que é o primeiro levante de tal magnitude organizado sob a horizontalidade, difusão e abrangência do universo virtual. E há ainda os que justificam os pequenos focos de vandalismo observados como uma resposta "na mesma moeda" ao vandalismo cotidiano que o Estado perpetra contra o cidadão, sem entender que se um dos cernes da questão é justamente a desoneração de tributos abusivos (como os que incidem sobre a passagem de ônibus e a encarece) praticados pelo governo, a recuperação da coisa pública depredada vai agir contra esse objetivo, uma vez que acarreta novos custos.

Todos estes pontos porém não diminuem o fato de que as movimentações atuais representam um marco histórico para a participação popular na política brasileira, pois mostram que democracia pode e deve ser muito mais do que comparecer às eleições nas datas programadas, que a cultura da manifestação pela mudança deve sim se transformar em uma ferramenta poderosa de alcance do bem-comum nas mais diversas esferas de atuação social. À frente manifestantes! Tomem nas mãos o dever de tornar a revolução cotidiana e transformar de forma indelével os rumos deste país     

domingo, 16 de junho de 2013

SMN: Friends - Dublagem Curitiba - Encerramento



Salve Neurônicos!

Antes de vocês esbravejarem por causa da quebra na sequência dos posts, nós do Sistema Muito Nervoso temos um recadinho para os mais indignados: That's life, my dears! O nome disso é quebra de expectativas, e o post de hoje tem tudo a ver com isso.

Quem acompanha essa série desde o início sabe que, em quase todos os posts, a gente fez algum tipo de referência ao Toy Story 3 que, segundo o cronograma original, seria o filme que marcaria "a formatura" do primeiro módulo do nosso curso de dublagem. Pois bem, o mundo gira, as coisas mudam e, muitas vezes - como nessa, por exemplo - mudam pra melhor!

Já no primeiro dia de curso as palavras "essa turma é muito rápida" expressavam o contentamento da nossa sagaz professora Mônica Placha com relação ao desempenho dos novatos que, deslumbrados com um mundo de descobertas a nossa frente, sorvíamos cada detalhe, cada ensinamento. Sem demagogia, o empenho foi geral... E os frutos vieram com a mesma velocidade.

Ao invés de seguirmos dublando uma animação - como estava previsto - em uma atitude arrojada, a professora decide fechar o curso com um seriado de humor (não qualquer seriado de humor mas "O" seriado de humor), que, em circunstancias normais, costuma aparecer lá pelo módulo 3...  O já experimentado (e muito desafiador) Friends.

Então, todos munidos da milenar arte do Unagi, entramos no aquário com o desafio de captar o timing de comédia perfeito de Chandler Bing; a fala insanamente acelerada de Monica Geller; as entonações inconfundíveis de Ross Geller; o Smelly Cat de Phoebe Buffay, o non-sense de Joey Tribiani... E toda a imensa "sem gracisse" da Rachel (sei-lá-o-que).

Como aluninhos aplicados que fomos, fizemos marcações no texto acentuando pausas, acelerações, reações, adaptando os diálogos. Durante a cena procuramos sincronizar nossas falas com as batidas labiais dos personagens ao mesmo tempo em que observávamos o Time Code em busca do momento certo de fazer a entrada e o encaixe das frases. Também nos preocupamos com a intenção dos diálogos, sempre de olho na melhor interpretação dos mesmos para fazer jus às excelentes piadas dos seis amigos.

Teria sido ótimo dublar Toy Story (sim) mas quando dissemos que esta mudança na escolha do filme foi pra melhor é porque tivemos fortes razões pra isso. Friends reflete muito do clima de amizade que se criou também dentro do estúdio. Durante uma semana, o Sistema Muito Nervoso conviveu com pessoas incríveis, totalmente abertas ao novo, ao desafio, e que enfrentaram os erros com as melhores vibrações possíveis, sempre com aquele sorriso no rosto que só quem ama o que está fazendo sabe como é.

Aprendemos muito com a superação de cada um. Com a doçura das lindas Ariane Wisnieviski, Lê Beck, Cláudia Gobor, Cristina Fergutz, Cristiana Monteiro, Cristina Polakoski e Ketrim (trim) Mascarello. Nos divertimos com as vozes caricatas do Fernando Jr. Nos inspiramos na juventude de Jonathan Duarte e no vigor de Paulo Henrique Amaral. Somente a palavra fantástica define essa turma!

Apesar de o Sistema Muito Nervoso não poder acompanhar a galera no próximo módulo, lembramos de um trecho da música de abertura do Friends que diz "I'll be there for you"  porque a gente sabe que amizade é pra sempre! Valeu e até o próximo post