terça-feira, 11 de novembro de 2014

Urbe

Há esse cansaço no ar. Uma espécie de traquitana de aço fundido presa à aura dos caminhantes urbanos. Rebelam-se nas pequenas coisas e se apequenam nas grandes. Já não escrevem cartas...Já não têm tempo de viver enquanto existem.

Não acorde, mesmo assim enlouqueça...  Pois a cidade chama...

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Escritores vão ao cemitério em busca de inspiração

Projeto itinerante Criaturas Crônicas aproveitou o Dia de Finados para colher histórias, que viraram textos compartilhados em leitura coletiva

Rico Boschi - 04/11/2014 

 Foto: Rafael Pto


No último domingo, Dia de Finados, cerca de 30 escritores se reuniram no Cemitério Municipal de Curitiba. Estavam munidos de bloquinhos e canetas com o objetivo de captar histórias diversas: houve quem retratasse uma família que discutia como a avó – torcedora do Coritiba – poderia, por Deus, ser enterrada ao lado de outro parente, torcedor do Atlético. Houve quem se espantasse com a inocência de uma criança que pedia aos pais: “Quando morrer, quero ganhar uma ‘casa’ tão bonita quanto essa”. A casa, no caso, era um mausoléu pelo qual passava a família.

É assim, em qualquer lugar de grande circulação – mercados, ônibus e cemitérios – e em data, local e horário determinado semanalmente, que o grupo de escritores Criaturas Crônicas de repente se mistura à multidão para simplesmente observar e também se inspirar. Aí, é só escrever. Ali mesmo, na hora.
O período de escrita é sucedido por uma leitura coletiva, realizada também em local público, onde os cronistas têm a chance de comentar a produção de seus companheiros. Trocar experiências com os curiosos acontece quase sempre.

O projeto, idealizado por Fabiano Vianna e Caroline Lemos, surgiu de uma expansão do Croquis Urbanos – grupo de artistas que se reúne para desenhar locais icônicos de Curitiba. Segundo Vianna, “o ponto mais importante é estar próximo da cidade, dos acontecimentos. O objetivo é registrar o cotidiano delirante da urbe porque esta observação, com o escritor na rua, torna propício o surgimento de personagens que podem fazer parte da identidade da cidade”, comenta.

Entre os artistas que participaram está o ilustrador Gustavo Ramos – que também integra o Croquis Urbanos. Ele acredita que o mais interessante do projeto Criaturas Crônicas é aprender a enxergar a cidade por meio do olhar alheio. “É possível identificar e partilhar histórias que talvez de outra forma não nos chamassem a atenção,” afirma.
Os próprios artistas postam seus trabalhos na página do projeto no Facebook (www.facebook.com/criaturascronicas). Um blog (www.criaturascronicas.blogspot.com.br) administrado por Fabiano Vianna também já existe. Um projeto para a compilação desses textos, juntamente com os desenhos do Croquis Urbanos, em um livro, deve sair do papel em breve.

O encontro do último domingo foi o 11.º realizado pelo grupo, e o próximo já tem data e local definidos: sábado, 8, na feira de orgânicos do Passeio Público, a partir das 9h30. O único pré-requisito para quem quiser participar é estar disposto a enxergar a cidade, principal inspiração, com olhos curiosos.

Matéria originalmente publicada na Gazeta do Povo