sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Há algo de intransponível no multiaromático instante
Nem mesmo todas as vozes sobrepõem-se ao desejo
solitário de escrever...

Existe glória, mesmo que fugaz, nas pétalas da solidão?
Derramam-se as letras por sobre estas linhas esguias
Como a querer abrandar a acidez de alguns pensamentos...

O quão densas são tuas partículas, oh desajustado instante?
De onde nasces? Que nome tens? Mostra-me a face
E desvenda o mistério de sua dissolução.  

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Broken Man

On the night road, his drunk steps kisses the full moon on the lips...

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Conselhos do Mar amanhecido



Acordou cedo e foi ter com o Mar em suas primeiras horas... Com os pés descalços na areia da manhã sentia-se invasivo e temeroso ao perturbar o bocejar translúcido de um gigante em pleno abrir de olhos.

Era, como sempre, encantamento. Mas, naquele domingo, era também pesar. Mostrou respeito, no entanto, pela cumplicidade construída... Ao aproximar-se das águas, juntou as mãos e inclinou o corpo em sinal de reverência. O Mar, por sua vez, veio tocar-lhe os pés como se dissesse em seu marulhar: "Senta, meu velho amigo, faço gosto em vê-lo, conta-me tuas histórias".

Desarmou-se com a receptividade. Começou dizendo que nada no mundo lhe fazia tanta falta nos dias cotidianos quanto o devir eterno das ondas, o movimento, o renovar-se constante... Que o mundo entre paredes e prédios não tem a mesma vida.

"Aqui estou para devolver-lhe as forças", escreveu o Mar em sua escuma.

Continuou confidenciando que com o cair de agosto lhe havia escapado também a poesia. Embora quisesse poder culpar a Falkland pela frieza que crescera em seu mundo terrestre, bem sabia que o emudecimento de suas letras nascia da angústia de não ser capaz de trazer de volta a calmaria daquele sorriso para as águas nas quais escolheu navegar. Não importava que força impusesse aos remos, em que direção apontasse a proa da embarcação, nem quão essencial e ensolarado se mostrasse o horizonte daquela amizade, os ventos teimavam em seguir desfavoráveis...

"Observa o mister da onda por um instante, meu pequeno beletrista. Sabiamente se entrega ao vento para se fazer grande... Depois, volta, com humildade, a amiudar-se na areia, para logo então recomeçar o ciclo. Nada importa o formato que a onda pode assumir, nem a força com que pode avançar... É ainda - e sempre será - parte da minha essência e do meu ciclo. Deixa cumprir também teu ciclo, amigo meu, não luta contra o que te impulsiona. Se mantiveres letra e essência pura, naturalmente serão cristalinas as tuas águas. E todo aquele que olhar em teus olhos terá o desejo mais sincero de sorrir".