sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Antes do final

Noite alta; calor incomum em terras sulinas e um pensar insone que parece nascer de um chamado das letras. Talvez haja algo de conclusivo no próprio ar de dezembro, algo que não se prende aos calendários, às luas, aos rituais de fim de ciclo. Será esse o impulso que acorda a escrita da madrugada? Se é isso que pede a alma do beletrista, desenho no ar uma breve mesura e ponho a prosa em curso.

Se me volto às pegadas escritas pelo ano que nos deixa, o que vejo é o antagonismo perene da vida a sorrir inabalável... Dono absoluto de seus enredos, titereiro da vontade mestra do universo, de Deus. Como a escrever em nós suas lições, como a destituir-nos de nossas certezas para depois reformulá-las e orientar, iluminar (e as vezes mais que isso) os passos futuros. Provas? Pois bem, vamos a elas.

Antes da despedida de 2013 ser decretada, um outro adeus se mostrou espantosamente inesperado e dolorido. A luta ambientalista perdeu Teresa Urban e nós perdemos o vento que soprava nossas velas, a luz do farol que garantia o singrar certeiro, o primeiro tom da voz que animava nosso berrar... Mas, sempre houve nesta terra sementes bem plantadas, e mesmo agora sinto-me fruto do florescer das palavras da mestra... E em reverência e em respeito ao seu legado, escolhi - e escolho - continuar lutando, pois há os que lutam toda uma vida, e esses são imprescindíveis.

Mas nem só de adeus se fez 2013... Este também foi um ano de início de um reencontro. Seguindo um apelo que há muito pulsava n'alma, tenho procurado um desarmar e um conduzir-me pelo caminho de Deus. Como o filho que volta para casa depois de escolher o afastamento, tenho experimentado o acolhimento suave e esperançoso da casa do Pai, onde sinto que estão minhas raízes. Tenho sentido um novo vibrar do espírito, que se reflete nos passos do cotidiano, no desenhar das minhas letras, no rimar da minha poesia...

Se com a  árdua despedida 2013 me ensinou a manter-me firme e fiel a alguns pilares da vida, com a suavidade e delicadeza do sorriso da Princesa Das Letras Sagradas esse mesmo ano me mostrou, antes do final, que sempre haverá novos e sólidos pilares a serem construídos.

  

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Tesouros de Tolkien





Novas publicações e reedições da fantástica obra de J. R. R. Tolkien vão além dos limites da Terra-Média.

Os fãs de O Senhor Dos Anéis e O Hobbit já podem se preparar para novas jornadas literárias. A editora WMF Martins Fontes trouxe ao público, em novembro deste ano, uma série de lançamentos e reedições das obras de Tolkien que oferecem ao leitor uma experiência de imersão ainda maior no universo dos elfos, hobbits, magos e anões, além de ir além dos limites da Terra-Média.

Entre esses preciosos tesouros está a oitava edição de O Hobbit, que recebeu nova tradução – a partir da quarta edição londrina, publicada em 1991 – e nova capa. Contando ainda com o mapa do universo tolkiano e ilustrações originais do autor. A história narra, sob a perspectiva do hobbit Bilbo Bolseiro, a aventura da comitiva liderada pelo mago Gandalf – o Cinzento e pelo príncipe anão Thorin – Escudo de Carvalho, na tentativa de recuperar as terras e o tesouro de seus ancestrais, roubados pelo temível dragão Smaug, escondido nas sombras da Montanha Solitária.

Já na edição especial O Hobbit – Lá e De Volta Outra Vez a história ganha novas cores e texturas com as singulares ilustrações de Jemima Catlin, acompanhadas de uma capa dura em tecido. Nesta edição, que traz o título sugerido pelo próprio protagonista Bilbo Bolseiro para suas aventuras, o leitor vai encontrar perspectivas gráficas mais proximais do universo infanto-juvenil para cada personagem e evento relevante da jornada, além de destaque para os cantos e poemas característicos de todo o transcorrer da obra.

O terceiro item desse tesouro é baseado nas adaptações de O Hobbit para o cinema, dirigidas pelo diretor Peter Jackson – também responsável pela adaptação da trilogia de O Senhor Dos Anéis. Trata-se de O Hobbit: A Desolação de Smaug – Gua Ilustrado, de autoria de Jude Fischer, que oferece todo um panorama gráfico dos personagens, dos locais que compõem o universo tolkiano, das raças dos seres viventes na Terra-Média, dos eventos que culminaram na jornada de Thorin, Bilbo e seus companheiros de comitiva, sempre seguindo a estética cinematográfica já existente.

Extrapolando os limites da Terra-Média, o livro Árvore e Folha traz um ensaio literário sobre “Contos de Fadas”. Nesta obra, J. R. R. Tolkien, acadêmico conceituado (em 1972 foi agraciado com os títulos de Comendador do Império Britânico e Doutor Honoris Causa em Letras, pela Oxford University), discorre, sob um viés estreitamente linguístico e cientifico, sob a natureza dos Contos de Fada, suas características de construção, sua função social e literária na sociedade da época, o perfil de público-alvo e sua relação com os demais gêneros literários. Ao final do ensaio, para exemplificar suas teorias, o livro traz o pequeno conto Folha, de Migalha, que demonstra de maneira simples todo o processo de criação de um universo pertencente ao que ele chama de Reino Encantado.

E, fechando o baú de tesouros, temos A Queda De Artur, obra editada por Christopher Tolkien – filho do autor e um dos executores de seu espólio – que traz transcrição dos rascunhos do pai para a interpretação de Tolkien da lenda do Rei Artur, um dos principais pilares do folclore europeu. Apesar de incompleta, a obra tem vários aspectos interessantes. Escrita totalmente em verso – em um esquema de métrica e versificação clássica conhecida como poesia aliterante, foi idealizada para a declamação próxima ao canto, ao estilo dos antigos menestréis. A grafia remonta ao inglês arcaico (com fortes influencias do gaélico), cujos originais podem ser lidos ao lado de cada página traduzida.

Após o poema, semguem-se alguns capítulos de redação de Christopher Tolkien referentes ao processo de transcrição e adaptação dos manuscritos do pai, bem como as notas de contextualização histórica na construção do poema, o método entrelaçamento das referências que ajudaram a compor cada um dos quatro Cantos do poema, as possíveis perspectivas de completude da obra, sua relação com o Silmarilion (obra posterior de Tolkien) e uma reflexão à respeito da própria técnica de produção poética dentro do inglês arcaico, o que demonstra toda a seriedade com que o criador desses universos tratava a literatura fantástica, como ele mesmo a definia.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Saudade Pesqueira

O implacável azul deste céu,
onde se banha despótico o
mais celeste dos corpos,

Dá à chuva tons de esperança

E o povo, e a renda,
entre laços de entrelaços...

Dragões dos Mares do cotidiano
Dedilhando vento nas velas...
Patativando palavras soltas
Nas prosas das feiras das praças.

E eu, poeta doutras letras, doutros cantos,

Doutras venetas...

Aprendi, do som da zabumba,
Do deleite do feijão-de-corda,
Do branco da areia da duna...

Como rimar sol com saudade...

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Instante...

E no pretenso castelo das vozes dissonantes
Seu sorriso dança suave, com sublime frescor,
Soprado pelo verde do seu vestido...

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Canto II - Hérick, o Vermelho

Os ventos do Leste sussurram a história
Nas bordas do mundo se fez cavaleiro
Contendas de outrora coberto de glória
De Avallon filho, varão derradeiro.

Brandia nas mãos laminada justiça
De verdes folhas brasão reluzente
Sem par em bravura, algoz da cobiça
No fogo e na fé seu nome é ardente.

Outeiros e vales ecoam seus feitos
Milhas e minhas de águas singradas 
Desconhece desonra, da Távola eleito
Hérick - o vermelho, clarão da alvorada

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Canto I - A Princesa Das Letras Sagradas

Essa noite, Tolkien me trouxe um canto...

...

Presenteia a lua com olhar de pérola
Ó doce princesa das letras sagradas
Em suave enlevo seu canto vagueia
Sua voz de sereia em torre encimada.

Derrama na terra seu fértil encanto
Sorriso estandarte de hoste de estrela
De foz cristalina desdobra seu manto
Bondade luzente de Deus a centelha.

Toca o horizonte minh'alva esperança
A palavra descansa na brisa ligeira
Encanta aos ouvidos, convida-te à dança
De um amar infinito de eras inteiras.