segunda-feira, 30 de março de 2015

Show de Digão em Curitiba mescla autorais e covers em versões “quase” desplugadas

Foto Michel Campestrini

Quando Digão – vocalista e guitarrista dos Raimundos – deu os primeiros acordes de “By The Way”, do Red Hot Chilli Peppers, no palco do Phoenix American-Mex, onde se apresentou no último sábado (28), nem o fã mais ardoroso sabia o que esperar.
Em uma apresentação de cerca de duas horas, apoiado por uma banda local, o artista mostrou que nem só de pedreira vive o rock, mesclando toda a pegada de “Smells Like Teen Spirit” (Nirvana) com o tom mais intimista de “Losing My Religion” (R.E.M.). Para aqueles que pediam por um repertório mais pesado, Digão respondia com uma sarcástica introdução de “I Want It That Way”, provocando risos da plateia.
O setlist eclético trouxe para o show um público diversificado na mesma medida. As camisetas de banda deixaram de ser maioria, dando lugar a uma pluralidade de estilos no qual todos se sentiam representados. Houve uma tentativa de mosh (um fã querendo pular do palco) mas logo percebeu que a vibe era outra. A música foi o que prevaleceu.
Fechando um ciclo de três apresentações nesse formato, Digão só vê benefícios em shows acústicos: “O principal deles é que junta muito mais mulher”, brinca. “É bom dar uma diversificada no repertório. Essas músicas eu sempre gostei, sempre toquei. Não é só porrada não”, completa.
Mas, para aqueles que não abrem mão da boa e velha distorção nas guitarras, o retorno do artista à Curitiba está previsto para o dia 12 de junho, no Curitiba Master Hall, desta vez acompanhado dos fiéis escudeiros do Raimundos. A banda promove seu disco mais recente “Cantigas de Roda” que deu origem ao DVD “Cantigas de Garagem”.

Originalmente publicado na Gazeta do Povo

sexta-feira, 27 de março de 2015

26 de Março...




Não passa nenhum dia em que não venha visitar o pensamento. Inúmeras vezes, tal qual o artista do origami, dobrei e desdobrei minha visão da realidade para, em uma nesga que fosse, fazê-la assemelhar-se à dela. Mas nunca fui - nem vou ser - tão brilhante. Faltam-me charutos, faltam os pés na terra, histórias de amor e de luta... Falta-me plenitude

Enquanto me escondo por trás do cotiano, tento lembrar do arbóreo senso de liberdade, do fluir da palavra (e das ideias), que me empenhava humildemente em acompanhar... Ah, como a vida ficou mais monocromática sem o azul dos teus olhos, Baptista... Solapado no concreto também das palavras, quase não me sobra tempo de escrever. Escrever de verdade! Por isso esse pequeno atraso

Na verdade, só passei pra dizer que sinto demais sua falta Teresa Urban, de você... E de como o mundo costumava ser... Feliz Aniversário


terça-feira, 10 de março de 2015

Panelaço das gentes mimadas

Foi-se o tempo em que os toques que antecediam um pronunciamento do presidente da nação eram um indicativo de algo que o povo, para o bem ou para o mal, deveria ouvir com (no mínimo) atenção.

Quando durante as palavras de Dilma Roussef em rede nacional, no último domingo (8), algumas pessoas expressaram seu descontentamento com um esmigalhado "panelaço", o fizeram em uma atitude análoga a da criança que, discordando do interlocutor mas sem poder construir bons argumentos em protesto, tampa os ouvidos e procura erguer a voz na tentativa de abafar aquilo que lhe incomoda.

Alguns certamente vão recorrer à acusação de que compactuo com "isso tudo que está aí" e que, tal qual um bom comunista/petralha, desqualifico uma atitude legítima dentro do processo democrático. Não se trata disso.

Não há quem hoje seja imune ao aumento abusivo de tarifas que massacra tantos campos da vida cotidiana. Somente um idealista insano não se sentiria ultrajado diante de toneladas de informação a respeito de escândalos de desvio de dinheiro publico (e tantas outras formas de corrupção) em níveis "nunca antes vistos na história desse país". Sou tão alvo das mentiras lançadas em rede nacional pela presidenta quanto qualquer outro.

Não condeno a legitimidade dos protestos, para toda e qualquer bandeira sempre há de existir aquele que a mantenha em riste. O que ocorre é que o som das panelas batendo, na verdade, preenche um vazio a respeito do funcionamento do processo democrático. O fervor com que a maioria dos que se utilizam do mantra "Fora Dilma" ou "Fora PT" parece crescer na razão inversa da capacidade de compreender o processo de impeachment, o que leva a crer que tamanha hostilidade tem raízes em forças mais bestiais: ignorância e ódio.

Como observador neutro, mantendo inclusive a posição adotada desde o segundo turno da última eleição, o que vejo é uma oposição desconfortável com o atual uniforme, que não habituou suas crianças a estar do lado desfavorecido dentro da luta de classes e que, bem por isso, deixa-se movimentar dos modos mais desajeitados possíveis.

Já a situação, perde seus contornos ideológicos devido às concessões feitas em nome da governabilidade. Sem esse magnetismo moralizante, afloram os interesses individuais que levam à supervalorização dos ganhos econômicos em detrimento da corrosão das estruturas públicas. Em um período prolongado, essa equação expõe o Estado ao maior nível de vulnerabilidade por ele já experimentado.

São tempos difíceis onde resta ao brasileiro a escolha entre os declaradamente incompetentes que atualmente incham a maquina pública enquanto obrigam o povo a engolir um Brasil fantasioso. Ou ainda os opositores - autênticos simpáticos russellianos -, que querem o poder "o brinquedo é deles", sem nem mesmo ser capazes de observar os movimentos do adversário durante a corrida