Foi-se o tempo em que os toques que antecediam um pronunciamento do presidente da nação eram um indicativo de algo que o povo, para o bem ou para o mal, deveria ouvir com (no mínimo) atenção.
Quando durante as palavras de Dilma Roussef em rede nacional, no último domingo (8), algumas pessoas expressaram seu descontentamento com um esmigalhado "panelaço", o fizeram em uma atitude análoga a da criança que, discordando do interlocutor mas sem poder construir bons argumentos em protesto, tampa os ouvidos e procura erguer a voz na tentativa de abafar aquilo que lhe incomoda.
Alguns certamente vão recorrer à acusação de que compactuo com "isso tudo que está aí" e que, tal qual um bom comunista/petralha, desqualifico uma atitude legítima dentro do processo democrático. Não se trata disso.
Não há quem hoje seja imune ao aumento abusivo de tarifas que massacra tantos campos da vida cotidiana. Somente um idealista insano não se sentiria ultrajado diante de toneladas de informação a respeito de escândalos de desvio de dinheiro publico (e tantas outras formas de corrupção) em níveis "nunca antes vistos na história desse país". Sou tão alvo das mentiras lançadas em rede nacional pela presidenta quanto qualquer outro.
Não condeno a legitimidade dos protestos, para toda e qualquer bandeira sempre há de existir aquele que a mantenha em riste. O que ocorre é que o som das panelas batendo, na verdade, preenche um vazio a respeito do funcionamento do processo democrático. O fervor com que a maioria dos que se utilizam do mantra "Fora Dilma" ou "Fora PT" parece crescer na razão inversa da capacidade de compreender o processo de impeachment, o que leva a crer que tamanha hostilidade tem raízes em forças mais bestiais: ignorância e ódio.
Como observador neutro, mantendo inclusive a posição adotada desde o segundo turno da última eleição, o que vejo é uma oposição desconfortável com o atual uniforme, que não habituou suas crianças a estar do lado desfavorecido dentro da luta de classes e que, bem por isso, deixa-se movimentar dos modos mais desajeitados possíveis.
Já a situação, perde seus contornos ideológicos devido às concessões feitas em nome da governabilidade. Sem esse magnetismo moralizante, afloram os interesses individuais que levam à supervalorização dos ganhos econômicos em detrimento da corrosão das estruturas públicas. Em um período prolongado, essa equação expõe o Estado ao maior nível de vulnerabilidade por ele já experimentado.
São tempos difíceis onde resta ao brasileiro a escolha entre os declaradamente incompetentes que atualmente incham a maquina pública enquanto obrigam o povo a engolir um Brasil fantasioso. Ou ainda os opositores - autênticos simpáticos russellianos -, que querem o poder "o brinquedo é deles", sem nem mesmo ser capazes de observar os movimentos do adversário durante a corrida
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