quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Carmim

O vermelho nasceu em teus lábios
Antes mesmo de tocar as retinas do mundo
Fez-se em você e se desprendeu
Não pode haver rubro senão de sua autoria

Recusando Byron - e Bukowski - em uma só contradição e heresia

Há certa beleza na desventura. Não, você não precisa acreditar em mim. Tantos são os escritores românticos e ultrarromânticos que o podem confirmar, fazendo de mil maneiras mais belas (e sôfregas) do que a que sou capaz. Apenas me deparei olhando para essa perspectiva recentemente e precisei dizer - lançando mão dos arabescos que me cabem - que, apesar de conhecer-lhe o brilho dos olhos, vivo bem sem a sua urgência.

Não que não me sinta seduzido pelo simulacro das linhas byronianas, mas penso que não posso (e não devo) condicionar minha escrita à carga emocional que exigiriam de mim. Não estou pronto para me desfazer em nome da palavra.

Bebo de Bukowski mas não de que ele bebeu. Dilacero-me em milhões de "nevermores" mas de Poe carrego lampejos da maneira. Talvez por que me falte pelo que me consumir. E foi por isso que busquei perturbar a água.

Dei matizes ao vermelho forçando o verso, subjugando a rima aos meus propósitos canhestros. Por que foges do verso limpo? Sabendo que as que primeiro morrem são as letras nascidas fora do seu lugar, o que pensas você de si mesmo quando as apaga desse mundo depois de gestadas? Elas são maiores que ti e tu bem sabes...

Mesmo que não lhe sirva o comparativo com os mestres, se recuares sempre dos degraus já postos, não deixarás nunca o posto de aprendiz. Deixai viver tuas obras além dos motivos que as inspiraram, pois elas são você, a melhor parte de você. Se não há pelo que se consumir, com certeza há o que procurar.