quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Entrevista: Telma Tavares



Há muito tempo a ideia desta entrevista fervilhava em nosso Sistema Muito Nervoso. Trazendo no sorriso o mesmo Sol malemolente que reinava no céu do Rio de Janeiro de quando nos conhecemos, no verão de 2008, a cantora e compositora Telma Tavares fala sobre arte, música e transformação social.

Com a inquietude própria dos grandes talentos Telma desde sempre procurou expressar-se das mais diversas formas: pintura, escultura e, é claro, sua paixão maior, a música. Segundo ela, descobriu a canção ainda durante o período de noviciado - que durou cerca de um ano - e mais que tudo, lhe apontou o caminho das artes.

Teve lições com grandes mestres como Thomas Improta (ao piano), Claudionor Cruz (ao violão), Ângela Hertz (canto) além da inspiração e apoio de nomes como Hermeto Pascoal e Sérgio Ricardo. A invergadura desta ancoragem contribuiu para o florescimento de um talento singular, que trouxe como frutos momentos internacionais memoráveis como uma apresentação em Cuba especialmente para o ex-presidente  Fidel Castro ou ainda para o rei do Marrocos.

No Brasil, escursionou como vocalista por 6 anos com Beth Carvalho, um dos maiores nomes do samba nacional, além de comandar dois programas de rádio cuja temática primava por exaltar a Música Popular Brasileira: o Brasil na Veia e Samba de Panela, pela Viva Rio.

Possui também dois trabalhos solos o "Telma Tavares", com participação de Hermeto Pascoal, Chico Buarque e os índios Carajás da ilha do Bananal, e “Veia Mestiça”, um disco autoral  com várias vertentes do samba, com participações de Alcione, Leci Brandão e Roque Ferreira, esse lançado  ano passado no SESC Ginástico.


Feitas as devidas apresentações, segue então a conversa que tivemos com a cantora:

SMN: Telma, antes de mais nada, gostariamos de conhecer um pouco mais sobre a sua visão da arte:

Sempre tive uma identificação com arte em geral,que para mim significa uma forma de comunicação, uma expressão pessoal , um jeito de se apresentar. Adoro mexer com argila, pintura,escultura, mas me expresso profissionalmente com a música. Sou apaixonada por melodias e letras, aquelas que tocam a nossa alma feito algodão doce ou aquelas que  não deixam parados os nossos músculos, tem que tocar na alma da gente.

SMN: O Sistema Muito Nervoso tem em seu DNA a vocação de buscar a relação da arte com a transformação social. Você, como artista, acredita nessa relação?


Totalmente, como disse a arte é uma forma de expressão e muitas comunidades não tinham essa voz, que com a necessidade passou a desabrochar em vários estilos como o Grafite, o Hip Hop, o charme, o pagode e tantos outros diversos segmentos populares, porém a meu modo de ver , a qualidade  musical muitas vezes deixa a desejar, até por falta de oportunidade  do conhecimento mesmo.

Hoje eu faço parte de um projeto chamado “Música Viva” que leva música para a rede estudantil do Rio de Janeiro(patrocinado pelo SESC) onde apresentamos a obra de compositores como:Gonzagão, Gonzaguinha, Vinícius de Morais, Tom Jobim...
Crianças de 5 à 16 anos ficam com os olhinhos brilhando quando escutam “Eu sei que vou te amar” ,  “O que é o que é”, “Baião”...

Estou no projeto  a mais de 2 anos e certamente já cantei para mais de 80 mil crianças
E o que sinceramente interessa para mim é tocar na alma dessas pessoas em formação, se em cada escola eu conseguir tocar ao menos uma criança, já valeu a pena.

SMN: Na escolha da vertente musical que interpreta, qual o peso da importância da MPB como fator de identidade do povo brasileiro tem sobre seu trabalho?

Como tudo está em movimento, a música não é diferente, ela evolui, se mistura, retrocede, ultrapassa... A cultura é a identidade de um povo, na verdade sinto que a MPB é uma criança se procurando a todo tempo, buscando se expressar em sua plenitude.
Não é todo dia que nasce um grande poeta, um músico ou um grande cantor ou compositor .É cíclico, mas eles sempre nascem e a grande questão é:  a oportunidade para que eles apareçam, assim como um craque no futebol.

Eu sou compositora, adoro compor, porém devo admitir que quando escutei o Samba Enredo da Vila Isabel de 2013 percebi o quanto tenho que aprender para ser cada vez melhor, e o quanto devo ainda escutar para saber fazer e mostrar minha expressão com inspiração de alma.

Sou professora de canto popular e o que mais encontro são adolescentes  querendo ser clones de artistas famosos, o que busco dentro deles é o EU que eles tem, a força da verdade interior, cada voz é única, cada qual tem a sua digital e apenas  os coloco diante do espelho , isso já os apresenta a si próprio buscando assim seu próprio timbre.
Nossa naturalidade, nosso carinho, africanidade, miscigenação, nossa força, nossa raça nossa voz,  nossos costumes. Trago forte em mim a miscigenação, a herança cultural de que esta tudo junto e misturado e temos que filtrar para evoluir e dar voz ao tom e tom na voz. 

Não abro mão de minha brasilidade, e principalmente de uma qualidade popular. Quero ser popular e não populista. Eu acredito na VOZ de que é de verdade, por isso procuro ser verdadeira com o que crio e canto para ter identidade.




   

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Entrevista: Aldrin Cordeiro - Voluntariado no Nepal





Salve neurônicos!

Começamos 2013 com as melhores vibrações possíveis!

O Sistema Muito Nervoso traz como primeira postagem do ano uma entrevista muito especial com o jornalista e ativista social Aldrin Cordeiro, que concordou em dividir com os leitores do blog um pouco de sua experiência de voluntariado em Kathmandu, no Nepal, em janeiro deste ano

Para que se possa dimensionar a importância do trabalho humanitário neste país, vale lembrar que sua população é extremamente carente e enfrenta severos problemas sociais. Como exemplo podemos citar o IDH - indicador da ONU que mede o Índice de Desenvolvimento Humano - de cerca de 180 países anualmente. Durante 2011, o Nepal marcou apenas 0.458 pontos, resultado considerado baixíssimo se comparado ao primeiro do ranking no mesmo ano, a Noruega, que chegou ao resultado de 0.943

Consciente deste panorama social e aberto a conhecer novas culturas, como um legítimo cidadão do mundo, Aldrin partiu para uma temporada no país asiático, decidido a extrair mais do que apenas fotografias e memórias turísticas de sua viagem

Segundo ele, através de sua agência de viagens tomou contato com a IDEX Índia, uma organização atuante desde 1999 que oferece experiências de voluntariado, programas de extensão do "ensino médio" (high school), ensino de língua inglesa para crianças e acampamentos de verão nas regiões de Índia e Nepal.

Escolhendo a opção de atuar como professor de língua inglesa, o jornalista conta ter vivido uma experiência bastante intensa, e é sobre o seu voluntariado que conversa a seguir:

...

SMN: Você já tinha alguma experiência de voluntariado antes? Como foi o seu primeiro contato com o programa IDEX Índia?

Eu cheguei a fazer trabalho voluntário na época de faculdade, no Pequeno Cotolengo, e quando era mais novo em projetos comunitários em uma igreja no bairro que morava em Curitiba. O primeiro contato com a IDEX Índia foi feito pela internet mesmo. Vi que uma agência de intercâmbio da capital paranaense tinha os projetos que a IDEX divulgava e me informei sobre eles pelo site oficial e redes sociais.

SMN: Muitos são os locais ao redor do globo – até mesmo em nosso próprio país – onde a demanda por iniciativas sociais se mostra necessária. Muitos também são os programas de voluntariado à escolha. Quais foram as razões que o levaram a escolher este programa específico e este local de atuação?

Escolhi o Nepal porque queria um lugar realmente longe e com uma cultura diferente da nossa. Queria ver coisas que aqui não existem. Pessoas e culturas diferentes. 

SMN: Quais as principais semelhanças e diferenças que você pôde observar com relação às configurações sociais entre os países visitados e o Brasil?

Bem, tudo é diferente. Porque a cultura é outra. A posição que homens e mulheres têm na sociedade é diferente. A religião e a maneira que esta se faz na rotina é diferente. Pra mim, lá é outro mundo. E não digo isso comparando ou que lá seja melhor ou pior. Simplesmente é diferente. É outro olhar da vida.

SMN: Você considera que iniciativas como essas são capazes de oferecer mudanças substanciais para a realidade das pessoas atendidas? E na sua vida, o que mudou?

Acho que se você não acreditar que possa mudar algo, é melhor ficar em casa dormindo mesmo. Acreditar na mudança é algo primordial para fazer um trabalho voluntário. Na minha vida mudou tudo. Agora que voltei, às vezes até acho que estou perdido por aqui. Preciso fazer coisas diferentes - em todos os aspectos da vida. O que mudou mesmo foi que eu realmente percebi que a vida é maior e plural e que podemos fazer e criar muito mais.

SMN: Que conselho você daria para quem quiser se aventurar da mesma maneira?

A pessoa tem que se libertar e abrir o coração. Ter uma vibe "free spirit" e saber que vai aprender muito mais que ensinar. O mais difícil é chegar lá, porque após você não vai querer voltar!    
      

Para acessar a página oficial do programa de voluntariado clique aqui

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