segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

14 coisas (inúteis e outras nem tanto) que 2014 me ensinou

1) Que listas - mesmo as mais escrotas - fazem sucesso na internet

2) Que a "Copa das Copas" se constrói com meia dúzia "I Love Brazil". Enquanto o povo esquece os olhos (e o fuleco) ardendo devido ao gás lacrimogêneo; a constituição rasgada pela Lei Geral da Copa; a copa mais cara do mundo, o legado inútil de estádios destinados a virar presídio... e os gols da Alemanha, claro.

3) Que a distinção entre manifestante e terrorista fica meio "nebulosa" quando os os bastidores (e todos os seus interesses) se movimentam nesse sentido...

4) Que contar "plaquê de 100" vale mais que ter diploma

5) Que "cidadão de bem" é aquele que acorrenta indivíduos nus a postes para melhor aplicar uma justiça que rima perfeitamente com vingança e tortura

6) Que o mundo se divide entre coxinhas e ptralhas

7) Que a Miley Cirus tornou-se incapaz de manter a língua dentro da boca

8) Que o Nestor Cerveró não está derretendo (e nem fazendo cosplay de quadro do Salvador Dalí)

9) Que quem trocou o FGTS por ações da Petrobrás conhece como ninguém o significado da palavra "arrependimento"

10) Que falta d'água só é importante quando é em São Paulo

11) Que o Vladmir Putin governa como se jogasse War

12) Que o Chaves preferiu morrer do que perder a vida

13) Que #somostodosmacacos - como se Darwin já não tivesse cantado essa bola...

14) Que o papa Chiquin é o mais pop ever


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Sintonia

Com as vidas costuradas uma n'outra
Caminham com a certeza das minúcias 
um do outro escritas nas próprias pegadas.

Não há pressa em domar o caminho que se apresenta. 
Os passos já compreenderam as pausas de que é feito 
o tempo, e que a juventude teima em atropelar.

O vigor vive n'alma
Tão fresca, tão furta-cor
Que em nada espelha
os sulcos da pele.

Ele, se foi altivo, agora é solene.
Ela, se foi vaidade, agora é acalanto.
Ambos feitos obséquio pelo vacilar dos passos.

A Formiga Que Lia Leminski

Tateava a mesa até que tocou palavra
Da capa laranja bebeu
Haikai concreto

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Raimundos e as cantigas de um recomeço

Banda volta a Curitiba com disco que resgata as origens. Confira a entrevista com Digão

27/11/2014 - Enrico Boschi





Principais nomes da cena rock dos anos noventa, os Raimundos, legítimos calangos do cerrado, mantém a “vontade de ver o oco” mais viva do que nunca. De volta a Curitiba para o Rock Verão Fest, que acontece nesta sexta (28), no palco do Trézor Eventos, a banda traz na bagagem disco novo e muita distorção (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo). O Caderno G conversou com Digão – guitarrista original que assumiu os vocais com a saída de Rodolfo em 2001 – para saber o que esperar do evento, que tem também Matanza, Motorocker e Madrenegra no line up, do novo disco e muito mais. Confira a entrevista:
O Raimundos tem uma longa história com Curitiba, com alguns shows memoráveis. Essa cidade tem uma “vibe” diferente pra vocês?
Com certeza. Curitiba sempre foi uma cidade muito roqueira, muito “sangue no olho”, sacou? Não é a toa que nós escolhemos gravar nosso primeiro disco ao vivo aí [MTV Ao Vivo Raimundos]. E foi certeiro, os shows são sempre inacreditáveis.

Essa apresentação marca o lançamento do “Cantigas de Roda”, disco novo da banda. O que o público pode esperar do show? Tanto a galera old school quanto os fãs mais novos vão se sentir recompensados?
Esse show vai mostrar o que é o Raimundos hoje. A gente tem o nosso público que conhece as músicas de cabo a rabo, que realmente acompanha a banda e vai além da modinha. Claro que a gente nunca vai deixar de tocar os clássicos como “Eu Quero É Ver O Oco”, ou “Esporrei Na Manivela”, mas esse é um público bastante antenado, que conhece a história da banda e por isso acho que vai dar pra tocar bastante novidade. Vai ser um show bem visceral, com bastante música porrada. Sem os fãs não existe a catarse, a música não tem sentido.

Foi essa proximidade com o público que levou vocês a produzirem e lançarem o disco via financiamento coletivo?
É uma questão de fidelidade. Eu acho importante ter um público fiel, que vai aos shows, que acompanha a banda, que divulgam o trabalho nas redes sociais e abrem a cabeça de muita gente, por isso é tão importante essa participação. A gente escuta bastante eles porque [eles] querem o melhor.
O “Cantigas de Roda” resgata vários elementos da carreira de vocês desde as origens do “forrócore”. Dá pra sentir isso no palco?
Sim. Cara, nesse disco a gente realmente buscou muito as nossas raízes. Nós começamos a ensaiar no mesmo local onde o Raimundos nasceu [Brasilia], revivendo coisas do começo da banda. E isso trouxe o Raimundos de volta à sua essência, como ele tem que ser.

Então agora você pode dizer que o Raimundos tá “calibrado”?
Exatamente. Quando o Canisso voltou à banda em 2007, o pessoal já falava em fazer um disco novo. Eu achei importante ter estrada, se conhecer, ter história. Até para os integrantes novos – Caio na Bateria e Marquinho na guitarra solo – sentirem o que a banda significa e maturar a nossa relação. A carne maturada é mais gostosa (risos). Essas histórias ajudaram muito no processo de composição, com algumas letras autobiográficas que funcionaram muito bem com os fãs. Agora nós estamos trabalhando sem a pressão das gravadoras de ter um disco por ano, fazendo as coisas com calma e ajudando a colocar o rock no seu patamar de destaque.

Essa volta do Raimundos preenche um vácuo de bandas de qualidade atualmente no rock nacional?
Sabe o que eu posso te dizer cara? Eu só considero rock bandas que colocam a distorção no talo. O resto é “pop com guitarra”. Rock mesmo é visceral. Então o que eu posso dizer é que o Brasil tá há muito tempo sem bandas de rock de verdade. A gente tá fazendo o que gosta sem pretensão de preencher lacuna nenhuma e se de fato acontece é consequência.
Voltando ao disco novo, ele traz a participação do Cypresshill na faixa “Dubmundos”. Como foi esse encontro musical?
A gente sempre gostou dessas parcerias. O Sen Dog passou para visitar o processo de gravação – feito em Los Angeles, com Billy do Biohazard como produtor – e a gente curtiu a onda dele fazer uma participação. Também tiveram outras participações que gravamos aqui como a do Cipriano (que além de músico é jogador de basquete na NBB), do Frango [do Galinha Preta], tudo isso traz uma outra atmosfera para o disco. É legal lembrar que nossos álbuns sempre contaram com convidados especiais como o Zenilton, o Nando Reis, o João Gordo, a Érika Martins... A gente gosta de ter os amigos por perto.
Outra novidade é que recentemente vocês disponibilizaram um material novo do dvd “Cantigas de Garagem” para livre visualização no Youtube. Como você vê essa nova relação do público com a música e essas plataformas?
Do ponto de vista financeiro é meio complicado. Mas o artista tem que desapegar e buscar novos caminhos. A música orgânica sempre vai ter seu espaço nos shows na estrada. Não vejo com maus olhos, não. Eu procuro entender que as coisas mudaram mesmo e acompanhar sem ficar pensando no passado. A gente trabalha forte com as mídias sociais em formatos como o “Raimundos TV” e outros modos de interatividade com os fãs. Mas o que importa sempre é a proximidade e a música.

Matéria originalmente publicada na Gazeta do Povo