sábado, 24 de novembro de 2012

Entrevista e Vídeo: Coletivo Dente de Leão


Áudio/Visual: Graúna Filmes

Seguindo o dever neurônico de trazer questionamentos sociais e apoiar esforços legítimos de transformação do bem-comum tão próprio do Sistema Muito Nervoso, retomamos o tema do repúdio e mobilização contra a violência contra a mulher.

Como vocês já sabem, no último sábado (24) rolou o Ato Pelo Fim da Violência Contra a Mulher, uma flashmob que tomou as ruas da Boca Maldita, em Curitiba, convidando os passantes a refletir sobre a questão das diversas formas de violência.

E pra instigar ainda mais os neurônios da galera, convidamos as militantes do Coletivo Dente de Leão - Direitos Humanos e Cidadania - Fernanda Liana (designer gráfica) e Jussara Cardoso (professora de informática) para uma conversa sobre a importância do trabalho que realizam na organização da manifestação e o impacto disso na sociedade

SMN: Antes de mais nada obrigado pela disponibilidade. Bom, pra começar, explica pra gente a atuação do Coletivo e qual foi a inspiração pra essa marcha nos moldes de uma flashmob:

Liana: O coletivo é um grupo que procura "conversar" com diversos outros movimentos sociais no sentido de organizar diversas ações de repúdio e conscientização contra a violência, homofobia, transfobia e outros temas. O coletivo já tem essa inclinação para abordagens "artísticas" por contar com pessoas do meio integrando o movimento, e foi por isso que escolhemos esse "protesto silencioso" para simbolizar a falta de voz e sofrimento das vítimas da violência. As vezes, uma abordagem diferente se mostra necessária pois com o choque, o indivíduo sai da sua "zona de conforto", de sua percepção saturada e parte para a reflexão.

Jussara: A ideia da flashmob foi representar, por meio de cartazes e caracterização, casos de violência, oferecendo a perspectiva do sofrimento da vítima e a ignorância e covardia do agressor. O objetivo é que essa dualidade cause ainda mais impacto pois espera-se uma espécie de identificação com os fatos ocorridos, levando daí à reflexão e mudança de postura.

SMN: O conceito de violência contra a mulher é bastante abrangente. Pode-se falar de, além de violência física, de violência psicológica e também sexual. Na vida em sociedade, existem outras formas veladas de violência contra a mulher abarcadas pelo ato do último sábado?

Liana: É claro que houveram muitos avanços mas ainda existem muitos aspectos culturais que geram "pequenas violências" a serem extintos. Até mesmo quando uma mulher recebe uma cantada agressiva, por exemplo, existe a ideia errônea de que "o homem tem direito de fazer isso" apenas por ser homem e, dessa forma o corpo feminino faz parte de seu domínio.

Jussara: Essa mentalidade se perpetua desde sempre. A ideia de que a mulher tem de sofrer a violência e permanecer calada. Ou até mesmo transmitir a mesma violência para outras mulheres, quando aceitam uma "brincadeira" que as denigre, refletindo e validando esse tipo de comportamento. Machismo é uma questão cultural, ninguém nasce machista, as pessoas se tornam machistas quando recebem influencias e perpetuam comportamentos.

SMN: Como vocês enxergam a situação da mulher na sociedade atual? Atos como esses tem o poder de alterar circunstancias em um nível macro?

Jussara: Atualmente, os avanços que o feminismo traz para as mulheres são muito pontuais. A mulher tem sim o direito de votar, de trabalhar, mas ainda não é livre para vestir-se como deseja, ser o que deseja sem ser taxada como "vadia". Alguns argumentam que conseguimos maior espaço na política, mas não adianta ter mais mulheres em cargos públicos se as mesmas não estiverem alinhadas com pensamentos igualitários efetivos. Todo e qualquer avanço demora muito tempo para ser percebido pois é difícil mudar toda uma cultura. Nós queremos ajudar a construir na mente das pessoas ideias que já deveriam fazer parte do comportamento comum como: "mulher não é objeto", "violência física contra a mulher, em qualquer circunstância, é condenável"

Liana: O nosso papel é mostrar a realidade que muitas vezes é velada dos olhos da maioria pelo próprio senso comum e racismo. As pessoas procuram não enxergar esse quadro para não ter que confrontá-lo. E achamos isso essencial. Deve-se desconstruir ideias erradas veiculadas pela própria grande mídia, que muitas vezes molda e cristaliza comportamentos.

Jussara: ... porque em briga de marido e mulher se mete a colher sim! Porque tem alguém sofrendo com isso!


Fiquem ligados neurônicos, em breve, imagens do ato e mais material exclusivo!

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Semana de Conscientização Pela Não Violência Contra a Mulher

Imagem: Coletivo Dente de Leão

A brutalidade contra a mulher é, infelizmente, secular. Agressões físicas, psicológicas e sexuais - ainda que veladas - se perpetuam na sociedade, ancoradas por ideais machistas que insistem em colocar o gênero como fator de segregação.

Apesar dessa vergonhosa realidade, esforços significativos têm contribuido para redução das barreiras que cercam o sexo feminino na vida em coletividade. Um exemplo é a resolução da ONU - Organização das Nações Unidas -, de 1999, que estabeleceu o dia 25 de novembro como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência às Mulheres.

Por todo o país, ao longo desta semana, muitas iniciativas em torno desse tema tomam corpo e voz, e é em apoio a uma delas que acontece na capital paranaense que o Sistema Muito Nervoso convoca a todos os Neurônicos a se manifestarem em prol de uma sociedade mais igual e livre de preconceito.

O Coletivo Dente de Leão organiza, para o próximo dia 24, um Ato Pelo Fim da Violência Contra a Mulher, que ocorrerá nos moldes de uma Flashmob, na Boca Maldita, em Curitiba, a partir das 10h30.

Os interessados em integrar a manifestação podem entrar em contato com a organização do ato via Facebook cujo link está aqui ou pelo e-mail www.dentedeleaopr@gmail.com

O Sistema Muito Nervoso vai oferecer cobertura completa do evento, com fotos, vídeos e entrevistas. Aguardem!

Porque Neurônio Bom é Neurônio Ativo!          

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Trilhando...

Essa mania de ler biografias. Essa mania de vestir os óculos dos grandes homens. Comungar de letras, de sons, matizes, sorrisos e lágrimas cosidas de modo a tecer o brilho do intelecto dos gigantes em cujos ombros teimamos em nos apoiar...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Crítica: Agonia - Os Últimos Instantes de Um Suicída

A proposta da montagem seduz logo de cara. Um drama psicológico onde o público é convidado a mergulhar na mente de um anti-herói, um indivíduo que, por razões profundas e nebulosas, vê na morte o único bálsamo para seu sofrimento.

Quais as agruras que torturam sua alma? Quais as circunstâncias que o impulsionam a esse covarde desfecho? A morte é mesmo a única saída? Eram essas as perguntas que pululavam nas mentes dos espectadores da peça, exibida no último domingo (11), no Teatro Reikrauss Benemond, em Curitiba, antes do terceiro sinal.

O impacto inicial é bastante positivo. A "cor local" da trama encontra-se amparada em diversos recursos tecnologicos de projeção e áudio que em muito colaboram para sustentá-la, facilitando a imersão imediata do espectador.

O preâmbulo da trama é projetado em uma tela postada entre a platéia e o ator ja em cena, de modo que os dois discursos coexistem e se complementam. As imagens virtuais respondem, de pronto, a uma das questões levantadas: Sim... para este personagem, a morte é inevitável.

Mesmo de posse desta informação precoce, as dúvidas que envolvem o quadro sustentam a atenção do espectador. Deste modo, a tensão do público - traduzida em profundo silêncio - é palpável, enquanto o protagonista Erick Andrade abandona-se em uma cadeira.

Entra então em cena uma espécie de representação do id autodestrutivo do protagonista - representado pelo ator Treat Serpa. Figura que busca oscilar entre o sofisticado e o burlesco, incita a reflexão na mente do suicida e escarnece da inércia em que o mesmo se deixa estar.

Falta, no entanto, uma acidez mais acentuada (e necessária) em sua atuação, que tropeça também no exagero de gestos e entonações vocais, não consolidando o sarcásmo que em outros momentos tenta atribuir ao seu personagem.

O texto prima por uma linguagem poética porém sem muito brilhantismo. Conduzindo a algumas conclusões que beiram ao lugar-comum, deixa também demasiadamente implícitas as motivações do ato de suicídio, o que nos parece imperdoável, visto que essa é a principal questão que o público esperava ver respondida.

O trabalho de ambientação e a interpretação impecável do ator principal, imerso verdadeiramente no sofrimento de sua personagem, são os principais trunfos do espetáculo. Considerando que o teatro é - sempre - uma obra em construção, reforçar esses pontos talvez seja a resposta para que a peça ganhe o teor de dramaticidade que deveria ter.

Teaser



         
         

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Tôtatiando - A Música da Palavra




"Aquele que domina a fala, a palavra... É capaz de fazer música"


Quando Zélia Duncan disse a frase acima em meio ao show Tôtatiando, realizado no último sábado (10) em Curitiba, foi como um recado a todos aqueles que ocupavam as cadeiras do Guairinha: hoje, a estrela é a palavra.

Em um espetáculo que flerta deliciosamente com a linguagem teatral, Duncan dá corpo e voz à personagens criados a partir da obra do compositor e linguista Luiz Tatit.Com a direção da atriz Regina Braga, no palco o que se vê é um delicado jogo entre o extraordinário leque semântico da obra de Tatit e a sonorização única da voz da cantora que, extremamente à vontade em cena, trova cada nuance, cada expressão.

Trocas suavez de figurino muitas vezes significavam alterações profundas de postura, de emoção, de entonação nas sílabas da canção/poema/texto que se seguiria. Se para falar de sonho abriu a gaveta da lembrança e transformou o teatro em um céu de estrelas, vestiu sapatos lúdicos para expressar alegria em "Rodopio".

Desde o conflito singelo de "Haikai" até mesmo a felicidade sem sentido de Vera apaixonada, estavam em versos e cantos expressas diversas situações de alcance universal que, na interpretação da artista, tiraram inumeros aplausos do maravilhado público.

Em suma, o espetáculo foi uma espécie de ciclo... Ciclo este que, como aprovaria Tatit, principiou-se pelo meio para ir-se acabar na letra de "Essa é pra acabar", deixando o público em súplica por mais uma, duas, três horas dessa poesia cantada. Pois quando Zélia Duncan agradeceu aos presentes pela vinda ao teatro, os lamentos mostraram o tamanho do encantamento que invadiu os corações.






domingo, 11 de novembro de 2012

Le Des Filles Fantastiques: Uma Intervenção da Moda na Vida Ubana



Em plena Virada Cultural de Curitiba um desfile de moda. Desconexo? Não se a gente disser que ao mesmo tempo em que as modelos desfilavam seus looks - em uma passarela mais que independente - rolava também uma jam que reunia grandes nomes da cena rock local.

Inovador? A galera que transitava pela rua em frente ao atelier Garage, da estilista Lisa Simpson, no último domingo, em Curitiba, também achou. Em poucos minutos de desfile, a Av. Jaime Reis 278 já estava tomada de alternativos (ou não) que apreciavam as criações desconstruídas da design de moda, ao som de um coletivo de artistas formado por integrantes das bandas Uh La La e Audac.

Apoiadora - e uma das idealizadoras do evento - Michelle Kelly, proprietária do Lolitas Salon de Coiffure, afirma que "todas as formas de arte se conversam entre si", e que, a exemplo do que acontece em Londres, onde esteve recentemente, "música e moda devem passar a fazer parte da cultura cotidiana das pessoas no Brasil, pois expressam o contexto histórico de cada época e representam formas livres e independentes de manifestação."

Outro aspecto singular do evento é a experimentação sonora de elementos presentes na atmosfera da moda para oferecer maior conexão com a música. Foi com isso em mente que Cassiano Fagundes, músico, guitarrista e responsável pela amplificação e equalização do áudio do desfile, revela que a eletrificação de uma máquina de costura foi uma das alternativas para compor a ambientação, e que esta é uma iniciativa em constante transformação, pois rola muito improviso, o que faz de cada apresentação única.

Durante os dois dias de Virada Cultural em Curitiba, vários locais foram palcos de desfiles semelhantes, oferecendo uma espécie de "virada paralela" por onde passaram nomes como Só o Soul Salva, Vinil Velho, Skadophenia Sound System, Chuva entre outros, fazendo um som ao mesmo tempo em que rolava um bazar de roupas e customização de peças em tempo real.  

 Você pode acessar o perfil do projeto no facebook aqui

Álbum completo de fotos do evento aqui        

Fotos: Aline Maria   

terça-feira, 6 de novembro de 2012

31 de outubro? Festa do Saci

Texto originalmente publicado no Blog do Caderno G do jornal Gazeta do Povo
Link aqui




Na última quinta-feira, 31 de outubro, comemorou-se mundo afora – principalmente nos Estados Unidos -- o Halloween, tradicional festa que celebra a véspera do Dia de Todos os Santos. Durante o evento, é costume, principalmente entre as crianças, pedir doces e vestir fantasias para “afugentar os espíritos” que, segundo a crença vinda do folclore Celta, vagam livremente durante esta noite especial. No Brasil, onde é conhecido como “Dia das Bruxas”, o evento vem ganhando popularidade ano a ano.

O que poucos sabem é que na mesma data se comemora do Dia do Saci-Pererê, uma das mais importantes figuras do folclore brasileiro. Representada por um menino negro e travesso, todos sabem: o saci tem apenas uma perna, fuma cachimbo e usa capuz vermelho. Foi com o intuito de reavivar e reverenciar essa tradição genuinamente brasileira que a comunidade umbandista da Associação Espiritualista Zélio Fernandino de Morais - Terreiro de Umbanda Caboclo Tupinambá - CECATU organizou o evento “Festa do Saci”, na sede temporária da entidade.

A festa, que também pretendia arrecadar fundos para a aquisição de uma cede própria para o CECATU, convidava o público a se fantasiar sim, mas dando preferencia para figuras que guardassem relação com a cultura brasileira. Segundo Bruno Klammer, um dos organizadores do evento, “há um enorme descaso com a cultura brasileira, com o folclore nacional, que é deixado de lado em face de uma celebração que é apenas plástica [o Halloween], mas que vende. Isso é o que explica o fato de quase a totalidade das pessoas não conhecer a comemoração do Dia do Saci”, lamenta.

Como não poderia deixar de ser, vários outros elementos da cultura brasileira compuseram o clima do evento. A banda Síncope trouxe sonoridades experimentais, com músicas autorais, e a banda Paranambuco, especializada em clássicos de ritmos regionais como o forró e a música baiana, subiram ao palco para animar a noite dos que ocupavam a pista de dança. Klammer também fala desta pluralidade de manifestações culturais dentro da Festa do Saci: “A nossa bandeira, além do trabalho social do próprio terreiro, é revelar tudo o que tem de belo no Brasil, música brasileira, dança brasileira, vestimenta brasileira. As nossas raízes precisam ser valorizadas pra auxiliar o país a crescer”, explica.

Tanto o Halloween quanto a Festa do Saci refletem, a seu modo, aspectos fundamentais dos povos que os preservam, sendo este talvez o maior ponto em comum entre os dois eventos. A questão mais importante talvez seja a da importância de preservar os aspectos que identificam um povo e garantam a ele sua unidade essencial, pois é ela que deve sobreviver aos anos e transfigurar-se em tradição.