terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Crítica/Crônica Neurônica: Mera Coincidência

Sua ingenuidade ao mais alto preço


Quanto custa sentar e relaxar em frente a um televisor depois de um dia intenso de trabalho, enquanto o âncora de um jornal de grande abrangência despeja em seu colo a verdade filtrada dos fatos que afetam sua cidade, seu país e o mundo? O filme "Mera Coincidência nos mostra que o preço pode ser a ingenuidade, a credulidade de toda uma nação.

Enquanto no filme uma guerra é forjada - com o auxílio de meios de comunicação de massa habilmente manipulados por homens de confiança do governo americano - para encobrir um escândalo sexual, com vistas a manter as chances de reeleição do presidente em exercício, no plano real da atuação política o combate é também real apesar das motivações igualmente encobertas.

Afeganistão e Iraque fizeram as vezes da Albânia cinematográfica e a guerra ao terror - iniciada após 11 de setembro - para muitos não passou de pretexto para coleta de recursos naturais e avanços militares fronteiriços. Enquanto isso, a população chora os mortos do World Trade Center a cada inauguração de monumento em sua homenagem. Momentos esses largamente transmitidos pela imprensa.

E por falar em imprensa, a que vemos no filme divulgando as manipuladas imagens da sobrevivente albanesa e alçando o soldado fictício "old shoe" ao status de herói nacional, é a mesma que, no mundo real pôde ser observada no processo de demonização e queda de Osama Bin Laden, cuja morte é questionada ainda hoje.

Nos dois casos, cria-se um cenário dicotômico da clássica luta do "bem contra o mal" para manter a população alheia a acontecimentos que poderiam vir a ser desfavoráveis perante a opinião pública ao mesmo tempo em que fortalece a imagem do Estado como instituição moralizadora, protetora dos valores e estilo de vida americanos.

As grandes questões do filme - que também podem ser transportadas para o mundo real - gravitam em torno do relativismo da verdade, do poder da informação e da legitimidade (ou não) da livre ação do Estado em nome da "segurança nacional" e do bem da coletividade.

A verdade aparece como um produto da elaboração argumentativa com vistas a um objetivo previamente determinado. A passividade da população em torno da informação veiculada na televisão garantia a segurança da prática de manipulação e a consolidação dos argumentos perante a opinião pública.

Aqueles que detinham o poder sobre os "fatos" eram capazes de conduzir as reações da população e, consequentemente, o desenrolar das situações.

Finalmente, observa-se a postura do Estado lutando para manter a sua imagem a todo custo. Dinheiro público, a máquina estatal, a mídia... todas essas estruturas mobilizadas para que o domínio vigente permanecesse inalterado. Novamente, em nome de interesses pessoais travestidos de bem-estar público.

A resposta, portanto, sobre o quanto custa seu sossego em frente à TV, levantada no inicio deste texto, pode ser múltipla. Além de, obviamente, recursos monetários, seu lazer não reflexivo pode custar a moralidade de todo um sistema social, onde sua ingenuidade sai pelo preço mais alto possível.

Trailer

Este texto é um trabalho em resposta à solicitação da disciplina de Ética em comunicação do curso de jornalismo 
  

    

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Poeta das coisas tristes

Perturbava a paz do café adormecido
com um microrredemoinho...
Aprendeu, naquela noite, que colheres
e pensamentos não cabem na mesma xícara.

Desejou o agulhar da chuva na janela
Mas aquela palidez escura, asmática e quieta,
Insuportavelmente cravejada de estrelas,
Matava no ventre da mente a poesia.

Era daqueles poetas que precisam do acontecer...

Da chuva triste
Da noite triste
Das coisas tristes

O poeta pedia chuva
... enquanto o verso pedia lágrimas
 


A melhor parte de mim

Que quando eu não mais existir
Teimem ainda minhas letras...

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Patrulha das Araucárias

O movimento Curitiba Verde - que pretende reavivar no cidadão da capital paranaense o compromisso de colaborar para fazer da cidade uma verdadeira "Capital Ecológica". Uma das iniciativas é a criação da Patrulha das Araucárias, através de um mapa colaborativo com fotos e localização dessas árvores em Curitiba e região



 

Acesse: www.facebook.com/cwbverde

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Crítica Neurônica: A Menina Que Roubava Livros (The Book Thief)



(mini) Prólogo

"Quando a morte conta uma história, você tem que parar pra ouvi-la"

The Book Thief

Com direção de Brian Percival, The Book Thief (A Menina Que Roubava Livros) é a adaptação cinematográfica do best-seller de mesmo nome escrito por Markus Zuzak e publicado em 2006. O longa acompanha, sob a perspectiva da morte, a história de Liesel Meminger (Sophie Nélisse), uma jovem que, devido às perseguições aos comunistas da Alemanha de 1939, é entregue para adoção e se vê repentinamente integrando a família Hubermann, composta pelo amistoso pai adotivo Hans e a rigorosa mãe adotiva Rosa. 

A sobriedade da produção (locações, figurinos, figuração), aliada à sutileza da fotografia e da trilha captam toda a cor-local da Heaven Street, onde se constrói a amizade entre Liesel e Rudy Steiner, colega de Juventude Hitlerista e aficionado pela figura de Jesse Owens - velocista negro quatro vezes medalista nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, contrariando o higienismo racial apregoado pelo Führer.

Os livros aparecem na vida da menina sempre atrelados a momentos marcantes (muitas vezes traumáticos), como fontes de ligação com seu passado perdido ou de esperança nos acontecimentos futuros. A leitura é o que forma e consolida o profundo elo familiar entre Hans e Liesel, desde a alfabetização - com um livro "roubado" no velório do irmão biológico - até o dicionário escrito pelo pai nas paredes do porão. 

O envolvimento com as palavras se intensifica quando Max Vandenburg, um refugiado judeu busca abrigo no porão da família Hubermann. Doente e sem perspectivas da vida fora do esconderijo, Max ouve entre delírios as histórias contadas por Liesel, extraídas dos livros que a menina "pega emprestado" da biblioteca de Frau Hermann. Recuperado, Max assinala a importância das palavras num dos diálogos mais tocantes do filme:

"Em minha religião aprendemos que tudo o que existe só é vivo porque possui em si a palavra que dá a vida..."

Diversos acontecimentos vão reforçar a atmosfera de tensão vivida através da guerra (atmosfera essa que é mais branda no livro), e demonstrar como a leitura, a história e a imaginação podem servir de bálsamo para tempos difíceis. O filme conta com diversos pontos emocionantes como o amor sincero de Rudy por Liesel, a solidão de Rosa com o recrutamento do marido, entre outros, que tornam a história cativante.

Sobre o Narrador:

A morte, tanto no filme quanto no livro, é destituída pelo autor de toda a sua carga soturna e pesarosa, é um importante agente de análise e unificação da dura realidade enfrentada por todos os personagens da trama. Ela se comporta não como o emissário punitivo do fim dos dias e sim como um cumpridor do ciclo natural da vida, que se envolve e se solidariza com os humanos. Embora tenha seu papel reduzido na versão para o cinema, é um elemento supraconsciente que traz a moral à tona e enxerga a beleza da dualidade da natureza humana em meio ao caos da guerra.    
               

Trailer: