segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Crítica Neurônica: A Menina Que Roubava Livros (The Book Thief)



(mini) Prólogo

"Quando a morte conta uma história, você tem que parar pra ouvi-la"

The Book Thief

Com direção de Brian Percival, The Book Thief (A Menina Que Roubava Livros) é a adaptação cinematográfica do best-seller de mesmo nome escrito por Markus Zuzak e publicado em 2006. O longa acompanha, sob a perspectiva da morte, a história de Liesel Meminger (Sophie Nélisse), uma jovem que, devido às perseguições aos comunistas da Alemanha de 1939, é entregue para adoção e se vê repentinamente integrando a família Hubermann, composta pelo amistoso pai adotivo Hans e a rigorosa mãe adotiva Rosa. 

A sobriedade da produção (locações, figurinos, figuração), aliada à sutileza da fotografia e da trilha captam toda a cor-local da Heaven Street, onde se constrói a amizade entre Liesel e Rudy Steiner, colega de Juventude Hitlerista e aficionado pela figura de Jesse Owens - velocista negro quatro vezes medalista nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, contrariando o higienismo racial apregoado pelo Führer.

Os livros aparecem na vida da menina sempre atrelados a momentos marcantes (muitas vezes traumáticos), como fontes de ligação com seu passado perdido ou de esperança nos acontecimentos futuros. A leitura é o que forma e consolida o profundo elo familiar entre Hans e Liesel, desde a alfabetização - com um livro "roubado" no velório do irmão biológico - até o dicionário escrito pelo pai nas paredes do porão. 

O envolvimento com as palavras se intensifica quando Max Vandenburg, um refugiado judeu busca abrigo no porão da família Hubermann. Doente e sem perspectivas da vida fora do esconderijo, Max ouve entre delírios as histórias contadas por Liesel, extraídas dos livros que a menina "pega emprestado" da biblioteca de Frau Hermann. Recuperado, Max assinala a importância das palavras num dos diálogos mais tocantes do filme:

"Em minha religião aprendemos que tudo o que existe só é vivo porque possui em si a palavra que dá a vida..."

Diversos acontecimentos vão reforçar a atmosfera de tensão vivida através da guerra (atmosfera essa que é mais branda no livro), e demonstrar como a leitura, a história e a imaginação podem servir de bálsamo para tempos difíceis. O filme conta com diversos pontos emocionantes como o amor sincero de Rudy por Liesel, a solidão de Rosa com o recrutamento do marido, entre outros, que tornam a história cativante.

Sobre o Narrador:

A morte, tanto no filme quanto no livro, é destituída pelo autor de toda a sua carga soturna e pesarosa, é um importante agente de análise e unificação da dura realidade enfrentada por todos os personagens da trama. Ela se comporta não como o emissário punitivo do fim dos dias e sim como um cumpridor do ciclo natural da vida, que se envolve e se solidariza com os humanos. Embora tenha seu papel reduzido na versão para o cinema, é um elemento supraconsciente que traz a moral à tona e enxerga a beleza da dualidade da natureza humana em meio ao caos da guerra.    
               

Trailer:


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