terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Como um vaso velho e quebrado...



Aquelas ranhuras? Conheço-as todas. E há muito tempo... escrevem-se, aprofundam-se, rasgam-se em minha alma desde muito...

Não é que não as tenha tentado consertar antes... Tentei sim, aliás, com afinco até. E das mais diferentes formas. Tentei inibí-las com uma postura altiva, um desdém calculado mesmo, para mostrar comando. Como se quizesse dizer: "A minha vontade se sobrepõe a vocês". Até perceber, quando a noite caía, que elas continuavam lá, e a cada vez que certos pensamentos invadiam minha mente, ganhavam em comprimento e espessura.

Tentei cobrí-las... disfarçar seus traços com um sorriso. Anestesiá-las, alterando a consciência...

Cada fenda é uma recusa, uma espectativa frustrada, um sonho desfeito... uma dor que nasce e macula a pureza inicial do meu existir.

Não há pessoa no mundo que não as assemelhe com as próprias, e que, dessa forma, não as entenda. O que muitas vezes mostra-se dificil de entender é o porquê de as carregar pela estrada, entender as razões que nos obrigam a suportá-las e seguir com elas.

A planta que nunca se dobrou ao vento quebra-se na primeira lufada de ar... o vaso que não apresenta ranhuras não está preparado para adornar a vida verdadeiramente. Somos mais fortes quando enfrentamos, resistimos e aprendemos.

Há de se reconhecer (e glorificar) o fato de que esse aprendizado é ainda mais rico quando ocorre com o auxílio de pessoas capazes de lhe compreender e lhe oferecer o apoio necessário para encontrar a maneira certa de olhar para nós mesmos. E enquanto a pureza daqueles olhos azuis me mostrava a imagem de Deus refletida neles, eu desci como um vaso velho e quebrado... E me reergui como um vaso novo...  


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Superego e suas babaquices...

Ligue a televisão. Folheie uma revista. Vá a um show de um artista que lhe agrade. E sinta-se vitorioso se depois disso tudo você ainda for capaz de, simplesmente, ser você mesmo.

Há um mundo de coisas lá fora gritando em nossos ouvidos o quanto somos inaptos e desajustados todos os dias. É tanto discurso reforçando uma porção de pseudo-verdades (e pseudo-valores) que você acredita que a cada segundo tem de reaprender a viver para não ter de ser empoleirado na estante da obsolescência social...

E você comprando, copiando, fingindo, formatando, se vendendo, mutilando suas virtudes originais, iludindo, oprimindo... Nasce aí uma supramente padronizada e coletiva que transforma os homens em meros reflexos redundantes de si mesmos... pois é esse o protocolo. Aceite, e viva (se puder).    

Na fímbria da vida virtual em que fingimos viver, existir não é mais do que administrar simulacros de características residuais 

 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Despojo


Foto: Blog do Mesquita

Batem do corpo a poeira, a fadiga e o sangue,
Mas há na lembrança marcas escritas com fogo
Parasitando-lhes o que sobrou de existência.

O Sol em zênite lhes triplica o fardo.
Nas feridas da carne ardem as súplicas
Enquanto a honra distorcida ignora clemência.

Já não se entoam cânticos sobre este solo
Pois a terra esqueceu seu próprio nome,
E as vozes foram ceifadas com bombas.

Escondem a face mulheres e homens
Pois se fez estéril sua esperança
Diante da mão que sufoca o amanhã.

Dobram os joelhos os filhos de Alá
Resistem ao câncer que os oprime
Que a ganância soprou para o céu do Oriente.

A guerra que desfigurou o rosto do deserto
Agora desvia os olhos e tenta esqucer as marcas.

Quando transformam-se os discursos infecundos
E as fronteiras já não suportam as moléstias
O que sobra é um país transmutado em despojo.

E a águia já não sustenta em voo a própria soberba.






domingo, 11 de dezembro de 2011

Quando você chegar (à Giovana)

Haverá, creio eu, noite de ventos suaves,
E paternais serão as letras da madrugada.

Haverá ainda um caminhar de passos firmes
E o bálsamo simples do cotidiano...

Escolherei, sempre, de pronto o reencontro
E as palavras fluirão dos lábios como antes.

Verei em teus traços muito do que desenhei
E em tua voz reconhecerei meu aconcelhar.

Quando tiveres sono, dormirás ao som de Beatles
Que em voz vacilante (e morna) deitarei ao seu ouvido.

Se um dia tiveres medo, serei a mão e a espada
Farol luzidio, intenso e perene a te guiar.

Serei o riso e o abraço do júbilo
E os olhos fitos da retidão.

E descerão pela face lágrimas de orgulho
A cada mistério do mundo que você desvendar.

Pois será plena enfim minha vida, quando você chegar...