terça-feira, 13 de setembro de 2016

Um Adeus Desajeitado

Que sorte temos nós. Tudo aprendemos: andar, falar, correr... Mas amar não, amar já nascemos sabendo. Assim como reconhecer quem nos ama verdadeiramente.

Só assim se explica esse amor construído de tão poucos fragmentos de vivência. Vó Ignês era feita de gestos. Da chimia passada no pon, do bombom para afastar a saudade de casa, da cantoria em italiano depois do jantar. E foi tão fácil amar esses gestos, foi tão fácil dissolver a enorme distância no primeiro abraço...

Um menino da cidade que aprendeu pelas tuas mãos descascar pera. E pelo teu talento culinário a amar polenta (daquelas que se corta com o fio, é bom que se diga). Como queria ter ouvido mais suas canções, como queria tê-la abraçado mais... Ter tido mais tempo para descobrir mais de você em mim, ter tido tempo de ser mais seu neto.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Sobre a fragilidade das relações

O quanto de si mesmo você permite que o mundo veja? Talvez entre alguma fresta imperceptível que resida entre o seu personagem corporativo e os seus múltiplos indivíduos sociais você se permita um fragmento de "verdade". Aceitar essa premissa é quase como admitir que existe uma personalidade primordial em todo ser que se galvaniza e se confunde com as camadas superiores daquilo que se pretende ser na tentativa de sobrevivência dentro da dinâmica de forças sociais. Um "ser-em-sí"

Não é o caso de buscar a metafísica. A indivisibilidade da "alma" é uma construção conceitual fundada na obscuridade - ingênua ou provocada - do entendimento dos processos fisíco-químicos e psicossociais que se acham na base da construção do indivíduo. Pronto, a partir deste momento você já pode me chamar de materialista.

Ou talvez você prefira a abordagem do "papel em branco", onde a medida em que o indivíduo é exposto a uma série de experiências marcantes, capazes de moldar sua personalidade a medida em que, como foi dito, certas marcas se imprimem na estrutura psíquica do ser e passam a integrar sua visão de mundo e a determinar o filtro daquilo que é aceitável expor ao julgo alheio.

Seja como for, o fato é que nunca - ou quase nunca - nos mostramos por completo. Cedendo ao jogo de forças do ambiente social, selecionamos porções de nós mesmos mais adequadas às ocasiões e finalidades que se apresentam externamente, o que torna o discurso padrão sobre "ser verdadeiro" uma espécie de "hipocrisia involuntária" que todos praticamos.

Em face disso, não espanta a fragilidade das relações dentro da contemporaneidade (e na verdade dentro de toda história humana da vida em sociedade). Seja a pós-modernidade liquida ou apenas desinteressante o suficiente a ponto de se tornar incapaz de oferecer atrativos perenes à atenção dos indivíduos, o fato é que, cada vez mais são frágeis os laços que nos fazem reconhecíveis como comunidade, mesmo dentro de uma aldeia global.