O quanto de si mesmo você permite que o mundo veja? Talvez entre alguma fresta imperceptível que resida entre o seu personagem corporativo e os seus múltiplos indivíduos sociais você se permita um fragmento de "verdade". Aceitar essa premissa é quase como admitir que existe uma personalidade primordial em todo ser que se galvaniza e se confunde com as camadas superiores daquilo que se pretende ser na tentativa de sobrevivência dentro da dinâmica de forças sociais. Um "ser-em-sí"
Não é o caso de buscar a metafísica. A indivisibilidade da "alma" é uma construção conceitual fundada na obscuridade - ingênua ou provocada - do entendimento dos processos fisíco-químicos e psicossociais que se acham na base da construção do indivíduo. Pronto, a partir deste momento você já pode me chamar de materialista.
Ou talvez você prefira a abordagem do "papel em branco", onde a medida em que o indivíduo é exposto a uma série de experiências marcantes, capazes de moldar sua personalidade a medida em que, como foi dito, certas marcas se imprimem na estrutura psíquica do ser e passam a integrar sua visão de mundo e a determinar o filtro daquilo que é aceitável expor ao julgo alheio.
Seja como for, o fato é que nunca - ou quase nunca - nos mostramos por completo. Cedendo ao jogo de forças do ambiente social, selecionamos porções de nós mesmos mais adequadas às ocasiões e finalidades que se apresentam externamente, o que torna o discurso padrão sobre "ser verdadeiro" uma espécie de "hipocrisia involuntária" que todos praticamos.
Em face disso, não espanta a fragilidade das relações dentro da contemporaneidade (e na verdade dentro de toda história humana da vida em sociedade). Seja a pós-modernidade liquida ou apenas desinteressante o suficiente a ponto de se tornar incapaz de oferecer atrativos perenes à atenção dos indivíduos, o fato é que, cada vez mais são frágeis os laços que nos fazem reconhecíveis como comunidade, mesmo dentro de uma aldeia global.
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