sábado, 2 de abril de 2016

Matheus Nachtergaele se deixa refletir nos poemas da mãe


Foto: Reprodução Facebook

O fato é implacavelmente doloroso. Mas é através da poesia que o ator Matheus Nachtergaele escolhe encerrar o luto pelo suicídio da mãe. a escritora Maria Cecilia Nachtergaele, durante a peça "Processo de Conscerto do Desejo", em cartaz no Teatro da Reitoria, neste sábado (2) e domingo (3), como parte da programação do Festival de Curitiba.

Vestindo um vestido preto - uma referência ao traje que a mãe usaria no dia do batizado do filho, ao qual não chegou a estar presente - o ator vai mais fundo e busca vestir também as emoções da poetiza. Desnuda segredos e, através da palavra materna, reflete também a si mesmo em um espelho postado no palco.

Com as mãos, desata os nós do assunto intocado enquanto oferece ao público uma carga emocional gigantesca, que contrasta com luz e sombra, enlevadas pelos acordes do violonista Luã Belik e do violinista  Henrique Rohrmann. Em trinta poemas, o ator passeia cuidadosamente entre as nuances do existencial lírico, entrecortadas pelo pragmatismo - muitas vezes constrangedoramente cômico do cotidiano maternal.

Carregado de saudade, Matheus desenha os sentimentos por sobre a superfície espelhada, como se transbordando e dividindo com os espectadores a profundidade de cada experiência. Há também o processo lento da superação. O direito à ingenuidade da infância, os traços marcantes da madrasta, o esconder a dor - ou amortizá-la - nos afazeres que se assomam, a libertação da expressão pela arte.

Nas mudanças de andamento das músicas, as oscilações performáticas eram retratos do humor e do expurgo das causalidades. Não mais o personagem, mas o próprio individuo Matheus Nachtergaele vai se recompondo diante dos olhos encantados da plateia, que o vê percorrer as fileiras para declarar-se livre da busca pessoal pela clareza. Depois de tamanha entrega e coragem, resta apenas ao público o mais sincero aplauso.     

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