quinta-feira, 28 de novembro de 2013

"O Iluminado"

Não, esse não é um texto sobre Stanley Kubrick ou sua obra... Então, antes de frustrar suas expectativas, sugiro que nem continue a leitura.

...

Espaço/tempo formam uma teia. E alguns acontecimentos aleatórios à primeira vista podem, em um momento de epifania  - eu simplesmente adoro essa palavra -, se mostrar (estranhamente) conectados.

Este ocorrido tem por volta de dois (ou três) anos, e corresponde ao primeiro fio da teia, sendo composto pelo binário: litoral catarinense (Itapoá)/noite de reveillon. Andávamos pela orla, um primo, um amigo e eu, logo após os fogos - e a chuva, claro. Em meio a algazarra catártica que se instala e inflama o povo de uma esperança tola de melhora sem mudança, própria deste dia em especial, caminhávamos calmamente alheios a esse clima de excessos.

No sentido oposto, se aproxima um senhor de meia idade vestindo branco, com o qual nenhum de nós tinhamos nos deparado antes na vida, me abraça e - para espanto geral - diz a seguinte frase: "Você é um iluminado".

Ainda me refazendo do impacto da frase, agradeço... e procuro entender...

Disse o homem, do qual nunca soubemos o nome, que havia tido um ano muito difícil devido a uma enfermidade desenvolvida pelo filho e que parecia não ter solução. Gostaria muito que pudessem estar juntos naquele momento mas por algum motivo isso não era possível. Aparentemente, abraçar-me era a maneira encontrada pelo homem de sentir-se mais perto do filho. Aceitei o abraço; desejei paz ao homem e saúde a seu rebento; nos despedimos e seguimos pela vida.

No segundo fio, o binário da teia é mais recente: Curitiba Music Hall/cerca de um ano e meio antes da atual data. No palco, se apresentava uma das bandas mais importantes de minha adolescência: Raimundos. Curti o show como quem realiza um sonho púbere. "Bangueando" insanamente e explodindo a garganta em cada letra. Isso é o que eu era. O que eu me moldei para ser.

Ao final do show, enquanto descíamos as escadas do mezanino, minha prima e eu, abordou-nos um "excêntrico" rapaz, com boné de aba reta e expulsando álcool etílico pelos poros. O que se seguiu foi o seguinte:

- Cara, você pode trocar uma ideia comigo? Dois palitos...

(eu) - Claro, falaí brother.

Te vi curtindo o show e achei demais cara... você apavora...

(eu) - Véi, valeu, essa banda é demais! Qual é o seu nome?

- A galera me chama de "Squitch V8"

(eu) - Huahuahua massa, você também mandou bem "Squitch"

Nesse momento ele também me abraça e se emociona...

- Cara, nunca desista de nada, porque a gente não é nada... A gente não é nada...

Espantado...

(eu) - Calma cara, lógico que você é importante... aí, acabou de ganhar um brother

Você é um cara iluminado...

...

Não sei exatamente o porquê dessas duas histórias surgirem na minha mente agora... O fato é que tenho pensado muito na forma como algumas pessoas podem ser instrumentos de mudança na vida de outras, como elas podem apontar os caminhos.

Não posso dizer se a vida dessas pessoas tenha se transformado de fato depois desses encontros mas o que posso dizer com certeza é que naquele ponto de nossas vidas, a teia enlaçou-nos por algum motivo, e através de mim, uma energia muito positiva e edificante fluiu ao encontro deles... Ao mesmo tempo em que pude ser alento em momentos difíceis que por ventura esses indivíduos pudessem estar vivendo, edifiquei para mim uma parte das certezas que carrego agora... Com meus atos eu mesmo me transformo e posso ser também instrumento para que essa energia toque a quem dela necessita...  
             

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