Sem olhar para as métricas da máquina, me sinto desobrigado a continuar e encerro o simulacro. Enquanto desço do equipamento, o Neil Young se contradiz nos alto-falantes do celular ao cantar que é um homem velho. E nesse momento, penso em lhe fazer coro e dizer: foda-se, eu também sou.
Tenho 39. Sei que o etarismo está fora de moda mas me permito ser honesto comigo mesmo e dizer que jamais trocaria o cultivo e apreciação da escuta contemplativa de uma canção ou álbum conceitual - tão próprio da minha geração - pelo absurdo patológico do áudio em 2x. Existe o curso do tempo e existe a aceleração artificializada da vida, que leva à construção coletiva da ansiedade.
Sento-me no sofá enquanto o Neil Young insiste em dizer agora que gostaria de minerar um coração de ouro. Eu mesmo já me daria por satisfeito se pudesse ter a certeza de que meus átrios e ventrículos vão me fazer a finesse de permanecer uns bons anos ainda desobstruídos e operantes. Não há simbolismo que resista a essa realidade valvulada.
Aliás. se tudo o que sentimos pode ser entendido como estímulos e respostas psicoquímicas que ocorrem dentro do cérebro, por que esse protagonismo simbólico do coração? Se ainda estiver aqui, leitor, sinta-se desobrigado a responder. São só reminiscências de um velho precoce.