quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Sons da varanda

Fecho os olhos. Ofereço meu rosto e meus pensamentos ao vento. Então, as cores dos sons penetram o imaculado instante pelas frestas auriculares. Frequências pululantes preenchem os vãos da imaginação e me conduzem pela mão ao mais harmônico existir.

São gorjeares rosáceos, volatas lufantes multimatizadas... e um pretenso cego à deriva, alçando e imergindo, entre cristas e vales, abandonando-se docemente por entre os graves e sustenidos que emanam das pedras e das aves.

De repente, um farfalhar ciano-amarelo se desprende das folhas chorosas do salgueiro, e derrama-se, suplicante, nas gotas do ar. Ouve-se um pisar obsequioso e avermelhado por sobre as gramíneas cantantes, como a anunciar a vida em movimento. Pachorrentos, dormem os decibéis indolentes por sobre o frescor do orvalho da manhã.

Silvando silvestre, se levanta, despótico, o titânico alaranjado multitônico do Sol. A estender seus raios sobre a Terra e a despejar no amanhecer infras e ultravioletas sônicas, esparsamente consonantes.

Abro os olhos, e em cada partícula, em cada sibilar de leptons e hádrons oscilantes... Vejo Deus a reger esta orquestra.            

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