sexta-feira, 29 de novembro de 2013

My Wings







"Sempre me disseram que os seres humanos não podiam voar... Porque não tinhas asas. Mas depois que conheci algumas pessoas, percebi que isso é um mero detalhe."

Começava assim um vídeo que fiz sobre mim mesmo na faculdade, como projeto de conclusão de semestre para a disciplina de "Produção Para TV e Cinema", ministrada pela talentosíssima Adalgisa Lacerda.

Minhas asas foram escritas em mim pela vida, muito antes de serem efetivamente tatuadas... E poucos, muito poucos, conhecem o peso de tudo o que representam. Achei mesmo que nunca escreveria sobre elas...

...

Houve um tempo em que as impossibilidades gritaram mais alto que o poder de subjugá-las. Houve um tempo em que a realidade esmagava cada nesga de esperança... e no vórtice insano da dualidade criada entre o sublime - e ao mesmo tempo humano - desejo de liberdade e o caminhar trôpego das curtas distâncias, deixei-me estar - e sentir-me abandonado.

Gradativamente, fui tornando opaco o brilho de tudo o que me orientava. Esqueci as cores do mundo, o acolhimento da família, o cuidado de Deus... Culminando nas impublicáveis linhas "ravenianas" do conto "O Anjo e o Espectro".

Afastei-me da minha natureza, procurei respostas que apenas justificassem minha descrença nascente, enquanto no peito buscava enterrar, o quão fundo fosse possível, a fragilidade de alguns sentimentos incompreendidos.

Fiz das letras rotas de fuga, fiz do exílio condição da existência... Orei - agora vejo - mesmo não querendo orar, através da poesia:

Grito Seu nome com todas as forças
Por que Sua face se esconde de mim?
Quero voltar, mas esqueci o caminho...

                                                      - Versos de "Filho Pródigo", de 2005 


Mas enquanto eu duvidava, houve quem acreditasse. O Homem-Floresta armou seus esteios verdes ao me soprar verdades. Abriu a janela e fez escapar meus versos para o mundo. Encheu meu espírito de seus cantos silvestres e bombadillescos e me devolveu à mão a espada. Me pediu trovas ao invés de lágrimas e me rebatizou guerreiro.

Enquanto minhas letras diziam que anjos caídos não podem voar a Madre-Pássaro me fez lembrar que não há vergonha em cair, mas há covardia em não escolher levantar. Então, quando olhei no espelho, pude vê-las em formação, pluma sobre pluma, alvas no topo e chamuscadas na base. Como a sinalizar ascendência, como a dizer que o fogo dos dias havia passado e que a casa do Pai sempre esteve na direção do meu vôo. 



        

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

"O Iluminado"

Não, esse não é um texto sobre Stanley Kubrick ou sua obra... Então, antes de frustrar suas expectativas, sugiro que nem continue a leitura.

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Espaço/tempo formam uma teia. E alguns acontecimentos aleatórios à primeira vista podem, em um momento de epifania  - eu simplesmente adoro essa palavra -, se mostrar (estranhamente) conectados.

Este ocorrido tem por volta de dois (ou três) anos, e corresponde ao primeiro fio da teia, sendo composto pelo binário: litoral catarinense (Itapoá)/noite de reveillon. Andávamos pela orla, um primo, um amigo e eu, logo após os fogos - e a chuva, claro. Em meio a algazarra catártica que se instala e inflama o povo de uma esperança tola de melhora sem mudança, própria deste dia em especial, caminhávamos calmamente alheios a esse clima de excessos.

No sentido oposto, se aproxima um senhor de meia idade vestindo branco, com o qual nenhum de nós tinhamos nos deparado antes na vida, me abraça e - para espanto geral - diz a seguinte frase: "Você é um iluminado".

Ainda me refazendo do impacto da frase, agradeço... e procuro entender...

Disse o homem, do qual nunca soubemos o nome, que havia tido um ano muito difícil devido a uma enfermidade desenvolvida pelo filho e que parecia não ter solução. Gostaria muito que pudessem estar juntos naquele momento mas por algum motivo isso não era possível. Aparentemente, abraçar-me era a maneira encontrada pelo homem de sentir-se mais perto do filho. Aceitei o abraço; desejei paz ao homem e saúde a seu rebento; nos despedimos e seguimos pela vida.

No segundo fio, o binário da teia é mais recente: Curitiba Music Hall/cerca de um ano e meio antes da atual data. No palco, se apresentava uma das bandas mais importantes de minha adolescência: Raimundos. Curti o show como quem realiza um sonho púbere. "Bangueando" insanamente e explodindo a garganta em cada letra. Isso é o que eu era. O que eu me moldei para ser.

Ao final do show, enquanto descíamos as escadas do mezanino, minha prima e eu, abordou-nos um "excêntrico" rapaz, com boné de aba reta e expulsando álcool etílico pelos poros. O que se seguiu foi o seguinte:

- Cara, você pode trocar uma ideia comigo? Dois palitos...

(eu) - Claro, falaí brother.

Te vi curtindo o show e achei demais cara... você apavora...

(eu) - Véi, valeu, essa banda é demais! Qual é o seu nome?

- A galera me chama de "Squitch V8"

(eu) - Huahuahua massa, você também mandou bem "Squitch"

Nesse momento ele também me abraça e se emociona...

- Cara, nunca desista de nada, porque a gente não é nada... A gente não é nada...

Espantado...

(eu) - Calma cara, lógico que você é importante... aí, acabou de ganhar um brother

Você é um cara iluminado...

...

Não sei exatamente o porquê dessas duas histórias surgirem na minha mente agora... O fato é que tenho pensado muito na forma como algumas pessoas podem ser instrumentos de mudança na vida de outras, como elas podem apontar os caminhos.

Não posso dizer se a vida dessas pessoas tenha se transformado de fato depois desses encontros mas o que posso dizer com certeza é que naquele ponto de nossas vidas, a teia enlaçou-nos por algum motivo, e através de mim, uma energia muito positiva e edificante fluiu ao encontro deles... Ao mesmo tempo em que pude ser alento em momentos difíceis que por ventura esses indivíduos pudessem estar vivendo, edifiquei para mim uma parte das certezas que carrego agora... Com meus atos eu mesmo me transformo e posso ser também instrumento para que essa energia toque a quem dela necessita...  
             

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Flashback...

Entre conhecerem-se, enamorarem-se, projetarem uma vida juntos e confirmarem os laços de amor, fidelidade e companheirismo diante de Deus e de todos aqueles a quem mais amam... cinco anos lapidando cada detalhe.

Uma flor branca na lapela denotava ao cerimonial minha qualidade de padrinho, mas acho mesmo que, de certo modo, isso foi também lapidado ao longo desse tempo.

Como uma espécie de "espectador privilegiado", dividi a casa com o (insuspeitado futuro) noivo, recém desembarcado sob o céu cinza da capital paranaense em busca de oportunidades. Amigo da vida inteira, pude testemunhar a relativa dificuldade de adaptação, a escolha dos caminhos profissionais e de formação, o reestruturar da prática religiosa, o "acaso" do encontro com a (também insuspeitada futura) companheira e... o nascimento do primeiro encantamento.

Lembro de ter ouvido: "Cara, ela gosta de animes!" E isso, para geeks como nós, era - e ainda é - muito mais do que se podia sonhar. Descobrimos, com o tempo, que a lista de similaridades era imensamente maior: Senhor dos Anéis (OK); Games (talvez melhor que nós... tá, nem tanto, mas OK); Música (um OK ao som de Foo Fighters); RPG - de mesa E card-game (um gigantesco OK); Livros (de Harry Potter à Guia do Mochileiro das Galáxias - OK); Formação: Sistemas de Informação (a mesma do insuspeitado noivo - OK Combo Kill - PERFECT). Não raro se ouvir nos círculos sociais: "ela é quase uma 'versão feminina dele', e vice-versa".

E tudo isso não é, nem de longe, o mais importante...

Mesmo se nada do exposto acima fosse verdade, ainda haveria o cuidado, o carinho, a cumplicidade, o desejo de acolher, de tornar a vida do outro melhor e de aprender e evoluir juntos... O que torna, a meu ver, qualquer eventual diferença insignificante.        

...

Voltando para o dia "D" - só quem os conhece sabe que não poderia haver definição melhor - enquanto ele esperava a entrada dela na igreja para enfim selar a união e, como disse alguém que inspirou este texto, fazer com que seus corações batessem no ritmo das batidas do coração de Deus, tentava esconder em vão o nervosismo e as lágrimas. E eu, também extremamente tocado, senti o quão privilegiado era por poder ter acompanhado o crescimento de tão sinceros sentimentos desde a semente... e quão admirável é a escolha deste caminho...

As melhores energias sempre! 
  

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

[...]

Um mundo explodindo n'alma...
Sou infinito

... mas sou também silêncio

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Comida, diversão e arte. Tudo junto e misturado

O Guia Gazeta do Povo foi procurar lugares que oferecem o combo perfeito para quem quer se divertir e comer bem. Confira alguns estabelecimentos da cidade que misturam gastronomia e cultura 


Rico Boschi - 05/11/2013

Editora/Livraria/Café
Arte & Letra
Foto: Divulgação

Um dos legados dos Titãs (e dos anos 80) para a humanidade – pelo menos para a parte brasileira dela – é a certeza de que “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. Então, para te ajudar a encontrar aquilo que você realmente quer, o Guia Gazeta do Povo fez uma lista de lugares em Curitiba que oferecem essa mistura para animar seu happy hour.

Dona Dulce

A paixão do chef Fernando Alves por cinema trouxe para o restaurante muito mais do que os temperos da culinária brasileira, sua especialidade. Foi dele a ideia que deu origem ao evento Cine Gourmet, projeto onde a cada 2ª segunda-feira do mês acontece a exibição de uma obra cinematográfica – escolhida via enquete pelos participantes –, acompanhada de um jantar temático cujos pratos são todos inspirados na obra em exibição. Para tornar a experiência ainda mais saborosa, o evento conta ainda com os comentários do crítico cinematográfico Marden Machado, além de um bate-papo com o chef a respeito dos ingredientes e preparo dos pratos. A terceira edição do Cine Gourmet acontece no próximo dia 11 de novembro, com custo de R$ 25 por pessoa, e o filme escolhido é “Vatel” (do diretor Roland Joffé), que foi precedido dos filmes “Estômago” (Marcos Jorge) e “Chocolate” (Lasse Hallströn) sucessivamente.

SESC Paço da Liberdade
Esse espaço reúne uma extensa gama de ambientes que possibilitam experiências culturais, culinárias e pedagógicas ao público. Edifício histórico, construído em 1916 para abrigar a primeira sede da prefeitura de Curitiba, foi reinaugurado 93 anos depois, em 2009, já com essa proposta. Abriga em suas instalações desde o Café do Paço – onde além de degustar opções de pâtisserie e cafeteria o cliente pode assistir apresentações de pianistas e pocket-shows de artistas acústicos – até o CinePensamento – sala de exibições de películas cinematográficas, com destaque para produções não comerciais, que oferece ainda um núcleo de estudos sobre cinema. Destaque também para o “LAB_Paço”, um laboratório para artes eletrônicas que oferece todo o aparato tecnológico para o desenvolvimento de projetos no campo audiovisual; a biblioteca, que reúne cerca de 6 mil títulos voltados à arte, cultura e comunicação, e ainda o Espaço das Artes, idealizado para proporcionar novas experiências em artes visuais e eletrônicas.

Serviço: os cafés variam entre R$4 a R$ 15 e os pratos de R$ 6 a R$ 10.

Restaurante e Espaço Cultural Alberto Massuda
Um local totalmente idealizado para homenagear o artista plástico Alberto Massuda, natural do Egito e radicado em Curitiba até o ano 2000, ano de seu falecimento. Em seus três ambientes, telas e murais adornam as paredes deste que também é uma construção tombada pelo Patrimônio Histórico. O cardápio também traz ilustrações do artista, o que contribui para a atmosfera refinada do local.

Serviço: os pratos variam de R$ 12 a R$ 40.

Wonka Bar
O Wonka Bar sempre flertou bem de perto com a arte. Seja na decoração – que conta com quadros de artistas contemporâneos locais – ou nas noites temáticas como a Wonka Jazz que traz a música como protagonista. Mas há um projeto em especial que merece os holofotes: o Vox Urbe (voz da cidade, em latim). Todas as terças-feiras rolam sarais (encontros) temáticos que convergem música e poesia local. Projeto coordenado por Ricardo Pozzo, o Vox Urbe já contemplou, na última edição, por exemplo, musicalizações de obras de Vinícius de Morais, Cecília Meirelles, feitas por Haroldo Machado e Rafael Dauer. O espaço também já abrigou lançamentos de obras literárias como “Liturgia do Sangue”, de Renato Bittencourt Gomes.

Serviço: a média de preço por pessoa varia de R$ 10 a R$ 30.

Café Teatro Toucher La Lune
Lar da companhia de teatro CemCulpas (responsável por montagens como “Eu Estou No
Mesmo Lugar Que a Pessoa Mais Longe de Mim”, “Petite Mort”, entre outras) o espaço, fundado em 2012, além de abrigar as montagens da trupe é também reduto de bandas locais que procuram condições acústicas ideais para ensaio e gravação, poetas como os do grupo Auripoetas Do Céu Sonoro e Profundamente Azul, que organizam sarais com poesia e música. Há lugar também para exposições de artes visuais como “Reisen”, que reuniu pinturas, colagens e gravuras do artista Israel Dalí Munhoz e esteve no local durante todo o mês de agosto. A decoração do ambiente do Café faz referência ao universo do teatro, sendo a especialidade os drinks que misturam cafés com ingredientes alcoólicos.

Serviço: os cafés variam de R$ 5 a R$ 15.

Arte e Letra
Se você, assim como o Djavan, estiver à procura de um bom lugar pra ler um livro nos dias frios – e nos quentes também – de Curitiba, pode encerrar a sua jornada. Idealizada para ser um autêntico espaço multicultural, a editora/livraria Arte e Letra, tocada pelos irmãos Frederico e Thiago Tizzot, é um espaço que une um ambiente aconchegante – anexo à Casa de Pedra do Batel – com publicações que vão desde Tolstói a escritores contemporâneos como Luiz Felipe Leprevost, além do aroma convidativo de um Café com mesas ao ar livre. Diversos escritores como Cristovão Tezza e Miguel Sanches Neto já fizeram da Arte e Letra palco para o lançamento de suas obras. Do mesmo modo, artistas plásticos e fotógrafos expõem constantemente seus trabalhos, como é o caso de Nego Miranda que, durante todo o mês de novembro, comanda a mostra “Puxando Fios: Histórias de Armarinhos”, que traz as fotografias que compuseram o livro de mesmo nome, lançado este ano em parceria com a jornalista Teresa Urban, falecida em junho, três meses antes da publicação.

Serviço: os cafés variam de R$ 15 a R$ 20.

Bistronomix
Oui Monsieur! Pra fechar esta lista trouxemos um lugar que mescla toda a sofisticação culinária dos bistrôs da França, aliada com a efervescência da pintura, também característica daquele país. Atualmente, quem visitar o local poderá conferir, além dos sabores do cardápio, as obras da artista plástica Leila Muniz, feitas a partir de colagens e recortes, aplicados sobre pinturas em tela. Na agenda estão programadas participações em festivais culinários – como o Festival Soho Batel –, além de novas exposições como a da artista plástica e estilista Giovana Lago, que utiliza o espaço para mostrar seu trabalho com ilustrações, cuja abertura está prevista para o dia 23 de novembro. Giovana é notória por seu trabalho que mescla roupas e alimentos, com a utilização de leguminosas e outros elementos culinários na confecção das peças.

Serviço: os pratos variam de R$ 10 a R$ 30.

Matéria originalmente publicada no Guia Gazeta do Povo

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O que é "O Estado"?



"Em nossos dias, a relação entre o Estado e a violência é particularmente íntima. Em todos os tempos, os agrupamentos políticos mais diversos - a começar pela família - recorrem à violência física, tendo-a como instrumento normal de poder. Em nossa época, entretanto, devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território - a noção de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado - reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física. É, com efeito, próprio de nossa época o não reconhecer, em relação a qualquer outro grupo ou aos indivíduos, o direito de fazer uso da violência, a não ser nos casos em que o Estado o tolere: o Estado se transforma, portanto, na única fonte do "direito" à violência."

WEBER, Max Ciência e Política - Duas Vocações - Cultrix 2011
Original: Wussencraft Als Beruf e Politik Als Beruf - Dunker e Hunblot 1967/68

Incrivelmente atual, não?