sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Empreendimento imobiliário oferece riscos à Bacia do Rio Tibagi

Matéria originalmente publicada no site do Partido Verde 43


No município de Irati, no Estado do Paraná, um dos últimos remanescentes florestais da região está ameaçado de ser substituído por um loteamento. O projeto, de responsabilidade da empresa Aurora Centennial S/A, prevê a demarcação de 150 lotes na primeira fase, seguidos de outros 50 em uma etapa posterior.

Com licenças de desmate já concedidas pelo IAP – de forma questionável, é preciso que se diga –, essa área (conhecida como Mata do Arroio dos Pereira, ou, mais popularmente, Mata do Gomes) possui aproximadamente 13 hectares, localizada em uma encosta e no fundo do vale está o Arroio dos Pereira, afluente do Rio das Antas, que compõe a Bacia do Rio Tibagi.

A despeito de qualquer argumento econômico de que se possa lançar mão para justificar o empreendimento, é necessário ter em mente que há benefícios incalculáveis ao se manter intacta uma área como essa. É o caso da qualidade dos recursos hídricos, conservação do solo, polinização, amenização de efeitos de intempéries, regulação climáticas, controle de enchentes, entre outros. Sabemos que as interações entre os fatores bióticos e abióticos de um determinado ecossistema formam uma complexa e dinâmica rede de funcionamento da natureza que resulta nos serviços ecossistêmicos. Basicamente, os serviços ecossistêmicos são os benefícios provenientes da natureza e usufruídos pelo ser humano e essenciais à sua sobrevivência.

Com isso em mente, um amplo grupo de cidadãos do município – organizados sob a chancela do movimento Preserva Irati – entende que este remanescente é estratégico para a vida na cidade – inclusive tendo em vista as enchentes terríveis que o município tem enfrentado – e pretende discutir melhor as possibilidades de redirecionamento do pretendido empreendimento. Cabe salientar que o atual prefeito constou de seu programa de Governo de transformar a área em questão num parque (horto) municipal, o que corrobora com a intenção deste movimento local.

Em função de este tema estar sendo ainda discutido, as licenças de desmate concedidas pelo IAP foram sustadas até a data de 28 de julho deste ano. Sem resultados concretos, agora o corte da vegetação pode acontecer à revelia das negociações em curso – inclusive dispensando a conclusão de um inquérito para apurar desmate ilegal. O caso da Mata do Arroio dos Pereiras é um de inúmeros outros casos semelhantes. Mas se a humanidade, com toda sua inteligência e raciocínio privilegiado, inventou cada vez ferramentas mais aguçadas que objetivam o bem viver, porque lidamos diariamente com casos como este? Proteção à natureza comprovada cientificamente e garantida pela legislação e o desmate ocorre travestido de desenvolvimento. Pouco importa o discurso, inclusive, discursos demagogicamente diferentes: sabemos e não é de hoje que é imperativa a proteção aos recursos naturais principalmente em ambientes urbanos.

Bianca de Genaro Blanco é bióloga e integrou a equipe de campo responsável pela vistoria ambiental no local.

Enrico Boschi é membro da juventude do Partido Verde, militante e conservacionista.

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