terça-feira, 28 de maio de 2013

A Luz Presa Nos Ductos

É úmida toda a certeza...
A penumbra mascara a face do mundo
Cuspindo solidão sobre minha inocência

É frio o meu abandono...
Sou tão residual quanto sua consciência
Que se dobra à mão vermelha (e seca) do Estado

É cego o meu tatear...
Procuro os restos de sua humanidade
Por entre os espaços do direito de existir

É surdo o meu implorar...
Mas a luz presa nos ductos
É feita de vida e desejo de lutar

...

Recém-nascido é resgatado com vida de encanamento de vaso sanitário

O bebê, de apenas dois dias, foi libertado duas horas após ser localizado no encanamento de apenas 10 centímetros de diâmetro. Até o momento os pais da criança não foram localizados

Um recém-nascido que caiu dentro do encanamento de um vaso sanitário de um imóvel na província de Zhejiang, na China, foi resgatado com vida pelo serviço de emergência, informou a imprensa local nesta terça-feira (28).

A emissora estatal CFTV mostrou imagens da operação. O bebê, de apenas dois dias, foi libertado duas horas após ser localizado no encanamento de apenas 10 centímetros de diâmetro.

Os moradores do imóvel alertaram a polícia após escutarem o choro de um bebê na segunda-feira (27), informou um jornal de Zhejiang.

As autoridades se deslocaram para o local e constataram que a origem dos gemidos era de um recém-nascido. Em seguida, os bombeiros começaram a quebrar o encanamento para encontrar a criança.

Como retirar o recém-nascido da tubulação no local poderia ser perigoso, o bebê foi levado ainda dentro do encanamento para o hospital para ser libertado. A criança tinha cortes na face e nas extremidades do corpo. Segundo o jornal local, o bebê ainda estava unido à placenta.

O bebê do sexo masculino, com 2,3 quilos, foi transferido para uma incubadora e sua situação é estável. Até o momento os pais da criança não foram localizados.

A polícia abriu uma investigação para saber o que ocorreu e se o bebê foi lançado no vaso sanitário.

As famílias chinesas sofrem uma grande pressão social e financeira em função da política que impõe multas altas para os casais que têm mais de um filho.

Além disso, os bebês nascidos fora do casamento costumam ser abandonados para evitar o estigma social e as dificuldades financeiras.

    

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Coração da Chuva

Quando te põe em sintonia com a chuva
Soam, dentro de ti, os fonemas
A vibrar, a viver, a derramarem-se

Se entrelaçares as letras por entre o gotejar
Nascer-lhas-ão leves, puras
Limpas, desde o primeiro sopro

Se do trovar do vento
extraíres teus ensinamentos
Serás tão forte quanto dele for o cantar

Confia, a rima deixa comungar dos pingos
Pois dança ela como dança a tua alma

Deixa a chuva fecundar o solo do teu verso
Pois fazer-se-á estrofes com cheiro terra
E um poema com gosto de vida.

Façamos nós, do poema, um segredo
Um elo de irmandade, de amor
Pois nele mora o coração da chuva

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Entrevista: Telma Tavares



Há muito tempo a ideia desta entrevista fervilhava em nosso Sistema Muito Nervoso. Trazendo no sorriso o mesmo Sol malemolente que reinava no céu do Rio de Janeiro de quando nos conhecemos, no verão de 2008, a cantora e compositora Telma Tavares fala sobre arte, música e transformação social.

Com a inquietude própria dos grandes talentos Telma desde sempre procurou expressar-se das mais diversas formas: pintura, escultura e, é claro, sua paixão maior, a música. Segundo ela, descobriu a canção ainda durante o período de noviciado - que durou cerca de um ano - e mais que tudo, lhe apontou o caminho das artes.

Teve lições com grandes mestres como Thomas Improta (ao piano), Claudionor Cruz (ao violão), Ângela Hertz (canto) além da inspiração e apoio de nomes como Hermeto Pascoal e Sérgio Ricardo. A invergadura desta ancoragem contribuiu para o florescimento de um talento singular, que trouxe como frutos momentos internacionais memoráveis como uma apresentação em Cuba especialmente para o ex-presidente  Fidel Castro ou ainda para o rei do Marrocos.

No Brasil, escursionou como vocalista por 6 anos com Beth Carvalho, um dos maiores nomes do samba nacional, além de comandar dois programas de rádio cuja temática primava por exaltar a Música Popular Brasileira: o Brasil na Veia e Samba de Panela, pela Viva Rio.

Possui também dois trabalhos solos o "Telma Tavares", com participação de Hermeto Pascoal, Chico Buarque e os índios Carajás da ilha do Bananal, e “Veia Mestiça”, um disco autoral  com várias vertentes do samba, com participações de Alcione, Leci Brandão e Roque Ferreira, esse lançado  ano passado no SESC Ginástico.


Feitas as devidas apresentações, segue então a conversa que tivemos com a cantora:

SMN: Telma, antes de mais nada, gostariamos de conhecer um pouco mais sobre a sua visão da arte:

Sempre tive uma identificação com arte em geral,que para mim significa uma forma de comunicação, uma expressão pessoal , um jeito de se apresentar. Adoro mexer com argila, pintura,escultura, mas me expresso profissionalmente com a música. Sou apaixonada por melodias e letras, aquelas que tocam a nossa alma feito algodão doce ou aquelas que  não deixam parados os nossos músculos, tem que tocar na alma da gente.

SMN: O Sistema Muito Nervoso tem em seu DNA a vocação de buscar a relação da arte com a transformação social. Você, como artista, acredita nessa relação?


Totalmente, como disse a arte é uma forma de expressão e muitas comunidades não tinham essa voz, que com a necessidade passou a desabrochar em vários estilos como o Grafite, o Hip Hop, o charme, o pagode e tantos outros diversos segmentos populares, porém a meu modo de ver , a qualidade  musical muitas vezes deixa a desejar, até por falta de oportunidade  do conhecimento mesmo.

Hoje eu faço parte de um projeto chamado “Música Viva” que leva música para a rede estudantil do Rio de Janeiro(patrocinado pelo SESC) onde apresentamos a obra de compositores como:Gonzagão, Gonzaguinha, Vinícius de Morais, Tom Jobim...
Crianças de 5 à 16 anos ficam com os olhinhos brilhando quando escutam “Eu sei que vou te amar” ,  “O que é o que é”, “Baião”...

Estou no projeto  a mais de 2 anos e certamente já cantei para mais de 80 mil crianças
E o que sinceramente interessa para mim é tocar na alma dessas pessoas em formação, se em cada escola eu conseguir tocar ao menos uma criança, já valeu a pena.

SMN: Na escolha da vertente musical que interpreta, qual o peso da importância da MPB como fator de identidade do povo brasileiro tem sobre seu trabalho?

Como tudo está em movimento, a música não é diferente, ela evolui, se mistura, retrocede, ultrapassa... A cultura é a identidade de um povo, na verdade sinto que a MPB é uma criança se procurando a todo tempo, buscando se expressar em sua plenitude.
Não é todo dia que nasce um grande poeta, um músico ou um grande cantor ou compositor .É cíclico, mas eles sempre nascem e a grande questão é:  a oportunidade para que eles apareçam, assim como um craque no futebol.

Eu sou compositora, adoro compor, porém devo admitir que quando escutei o Samba Enredo da Vila Isabel de 2013 percebi o quanto tenho que aprender para ser cada vez melhor, e o quanto devo ainda escutar para saber fazer e mostrar minha expressão com inspiração de alma.

Sou professora de canto popular e o que mais encontro são adolescentes  querendo ser clones de artistas famosos, o que busco dentro deles é o EU que eles tem, a força da verdade interior, cada voz é única, cada qual tem a sua digital e apenas  os coloco diante do espelho , isso já os apresenta a si próprio buscando assim seu próprio timbre.
Nossa naturalidade, nosso carinho, africanidade, miscigenação, nossa força, nossa raça nossa voz,  nossos costumes. Trago forte em mim a miscigenação, a herança cultural de que esta tudo junto e misturado e temos que filtrar para evoluir e dar voz ao tom e tom na voz. 

Não abro mão de minha brasilidade, e principalmente de uma qualidade popular. Quero ser popular e não populista. Eu acredito na VOZ de que é de verdade, por isso procuro ser verdadeira com o que crio e canto para ter identidade.




   

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Entrevista: Aldrin Cordeiro - Voluntariado no Nepal





Salve neurônicos!

Começamos 2013 com as melhores vibrações possíveis!

O Sistema Muito Nervoso traz como primeira postagem do ano uma entrevista muito especial com o jornalista e ativista social Aldrin Cordeiro, que concordou em dividir com os leitores do blog um pouco de sua experiência de voluntariado em Kathmandu, no Nepal, em janeiro deste ano

Para que se possa dimensionar a importância do trabalho humanitário neste país, vale lembrar que sua população é extremamente carente e enfrenta severos problemas sociais. Como exemplo podemos citar o IDH - indicador da ONU que mede o Índice de Desenvolvimento Humano - de cerca de 180 países anualmente. Durante 2011, o Nepal marcou apenas 0.458 pontos, resultado considerado baixíssimo se comparado ao primeiro do ranking no mesmo ano, a Noruega, que chegou ao resultado de 0.943

Consciente deste panorama social e aberto a conhecer novas culturas, como um legítimo cidadão do mundo, Aldrin partiu para uma temporada no país asiático, decidido a extrair mais do que apenas fotografias e memórias turísticas de sua viagem

Segundo ele, através de sua agência de viagens tomou contato com a IDEX Índia, uma organização atuante desde 1999 que oferece experiências de voluntariado, programas de extensão do "ensino médio" (high school), ensino de língua inglesa para crianças e acampamentos de verão nas regiões de Índia e Nepal.

Escolhendo a opção de atuar como professor de língua inglesa, o jornalista conta ter vivido uma experiência bastante intensa, e é sobre o seu voluntariado que conversa a seguir:

...

SMN: Você já tinha alguma experiência de voluntariado antes? Como foi o seu primeiro contato com o programa IDEX Índia?

Eu cheguei a fazer trabalho voluntário na época de faculdade, no Pequeno Cotolengo, e quando era mais novo em projetos comunitários em uma igreja no bairro que morava em Curitiba. O primeiro contato com a IDEX Índia foi feito pela internet mesmo. Vi que uma agência de intercâmbio da capital paranaense tinha os projetos que a IDEX divulgava e me informei sobre eles pelo site oficial e redes sociais.

SMN: Muitos são os locais ao redor do globo – até mesmo em nosso próprio país – onde a demanda por iniciativas sociais se mostra necessária. Muitos também são os programas de voluntariado à escolha. Quais foram as razões que o levaram a escolher este programa específico e este local de atuação?

Escolhi o Nepal porque queria um lugar realmente longe e com uma cultura diferente da nossa. Queria ver coisas que aqui não existem. Pessoas e culturas diferentes. 

SMN: Quais as principais semelhanças e diferenças que você pôde observar com relação às configurações sociais entre os países visitados e o Brasil?

Bem, tudo é diferente. Porque a cultura é outra. A posição que homens e mulheres têm na sociedade é diferente. A religião e a maneira que esta se faz na rotina é diferente. Pra mim, lá é outro mundo. E não digo isso comparando ou que lá seja melhor ou pior. Simplesmente é diferente. É outro olhar da vida.

SMN: Você considera que iniciativas como essas são capazes de oferecer mudanças substanciais para a realidade das pessoas atendidas? E na sua vida, o que mudou?

Acho que se você não acreditar que possa mudar algo, é melhor ficar em casa dormindo mesmo. Acreditar na mudança é algo primordial para fazer um trabalho voluntário. Na minha vida mudou tudo. Agora que voltei, às vezes até acho que estou perdido por aqui. Preciso fazer coisas diferentes - em todos os aspectos da vida. O que mudou mesmo foi que eu realmente percebi que a vida é maior e plural e que podemos fazer e criar muito mais.

SMN: Que conselho você daria para quem quiser se aventurar da mesma maneira?

A pessoa tem que se libertar e abrir o coração. Ter uma vibe "free spirit" e saber que vai aprender muito mais que ensinar. O mais difícil é chegar lá, porque após você não vai querer voltar!    
      

Para acessar a página oficial do programa de voluntariado clique aqui

Namastê
  

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

SMN Indica: Squalidus Johnsons - Parte 1

"Lascas de baqueta espalham no salão,
Você tá indo embora e o show tá um tesão."




E é com esse trecho da mais pura poesia parasita que o Sistema Muito Nervoso tem o prazer de introduzir - mas com carinho - o trabalho de uma das bandas mais insanas de Curitiba: Squalidus Johnsons.

Na cena independente há cerca de dez anos, o quarteto formado por Marcelo Dallegrave (Dall Johnsons - vocal), Daniel Dias (Chuck Johnsons-Bronsons - batera), Téo (Bernie Johnsons - baixo) e Elenton (Mindux Johnsons - Guitarra) faz as cordas do punk rock vibrarem em busca de "Sexo, drogas e desejos uterinos", nas palavras de uma grande fã da banda.

Segundo os caras, tudo começou “parasitando” o equipamento dos brothers da Bad Folks, uma banda “inimiga” que costumava ensaiar em um local lendariamente conhecido como a “Casa dos Caras”, onde uma galera se reunia para jams de improviso.

Originalmente contando com até doze integrantes, pela estrada ficaram nomes como Zé (Alex Johnson - vocal original) e Sheikman, primeiro baixista que, segundo relatos, vive hoje na Espanha administrando a renda de seus dias de glória Squalida.

As primeiras composições são verdadeiras pérolas como Tiom Kim, Pudim e Muito Menos, sempre mantendo a linha sacana e bem-humorada já característica do jeito Squalidus de fazer música.

Acordes Squalidus

O processo de gravação efetiva começou de fato no período de 2010/2011, no próprio local de ensaio da banda – Estúdio Underock – com os próprios integrantes cuidando dos aspectos técnicos.

Mas talvez o mais impressionante seja mesmo o modo como tomam forma as composições. “Geralmente, vem o título da música primeiro” – comenta Dallagrave “ou uma frase, como no caso de ‘Você Já Foi Com Essa Camisa Pra Escola’, completa.

“A gente têm um processo bem livre. Quando o Daniel morava numa república, a galera durante as festas costumava montar frases com imãs de geladeira, e essas frases estão em diversas músicas.”, lembra Mindux. “Inclusive a letra completa de “Irma Fuma” saiu dessa geladeira... Temos que dar os créditos a ela (risos)”, completa Dallagrave.

O fim do Mundo

O disco, com 22 faixas e lançamento previsto para 2013, é, segundo os integrantes da banda, um misto de rock/hardcore e metal com “Rock piada”, “rock jingle” e “rock rural”, com influências que vão desde Ramones a Raul Seixas.

“Esse mix é o que chama a atenção, tem essa coisa do humor e também tem o som que vai agradar o cara que gosta das mesmas coisas que a gente gosta, porque as influencias são muito próximas com as do nosso público”, afirma Daniel. Como uma espécie de preview, a banda tem soltado algumas músicas na página da banda no Facebook. Até agora, duas canções já estão disponíveis: “Padaria” e “Tobias” que você pode conferir aqui e aqui


E, antes do fim do mundo, ainda rola mais surpresa, fiquem ligados na página da banda... No próximo post da série, um vídeo com a banda, aguardem!


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

"Cut Me Some Slack"



Salve Neurônicos!! Todos vivos?

Depois de ontem  - 12/12/12 - nós do Sistema Muito Nervoso ainda estamos nos refazendo... É por causa da "força cósmica" dessa data cabalística? Não, é muito mais.

Quem assistiu (seja pela internet ou pessoalmente) o Concert for Sandy Relief, no Madson Square Garden, em Nova York, teve a certeza de que se os Maias estiverem certos e esse for mesmo o ano em que essa porra toda vai pro vinagre... DANE-SE, pois eles viram Eric Clapton, Bruce Springsteen, The Who, Rolling Stones e uma caralhada de gente foda no mesmo palco!!! E isso nem foi o mais insano...

Acontece que neste Olimpo estava também Sir. McCartney que, em um iluminado momento convidou ao palco Dave Grohl, Krist Novoselic e Pat Smear (Sim, os remanescentes do NIRVANA) para tocarem juntos pela primeira vez desde o trágico fim de Kurt Cobain (que dispensa apresentações).

Dave e Pat tocam juntos no Foo Fighters e Krist colaborou em uma das faixas do mais recente disco dos ex-companheiros de banda mas, no palco, os três não pisavam juntos há anos... O que fez desse um momento histórico!

O resultado você confere abaixo:



sábado, 24 de novembro de 2012

Entrevista e Vídeo: Coletivo Dente de Leão


Áudio/Visual: Graúna Filmes

Seguindo o dever neurônico de trazer questionamentos sociais e apoiar esforços legítimos de transformação do bem-comum tão próprio do Sistema Muito Nervoso, retomamos o tema do repúdio e mobilização contra a violência contra a mulher.

Como vocês já sabem, no último sábado (24) rolou o Ato Pelo Fim da Violência Contra a Mulher, uma flashmob que tomou as ruas da Boca Maldita, em Curitiba, convidando os passantes a refletir sobre a questão das diversas formas de violência.

E pra instigar ainda mais os neurônios da galera, convidamos as militantes do Coletivo Dente de Leão - Direitos Humanos e Cidadania - Fernanda Liana (designer gráfica) e Jussara Cardoso (professora de informática) para uma conversa sobre a importância do trabalho que realizam na organização da manifestação e o impacto disso na sociedade

SMN: Antes de mais nada obrigado pela disponibilidade. Bom, pra começar, explica pra gente a atuação do Coletivo e qual foi a inspiração pra essa marcha nos moldes de uma flashmob:

Liana: O coletivo é um grupo que procura "conversar" com diversos outros movimentos sociais no sentido de organizar diversas ações de repúdio e conscientização contra a violência, homofobia, transfobia e outros temas. O coletivo já tem essa inclinação para abordagens "artísticas" por contar com pessoas do meio integrando o movimento, e foi por isso que escolhemos esse "protesto silencioso" para simbolizar a falta de voz e sofrimento das vítimas da violência. As vezes, uma abordagem diferente se mostra necessária pois com o choque, o indivíduo sai da sua "zona de conforto", de sua percepção saturada e parte para a reflexão.

Jussara: A ideia da flashmob foi representar, por meio de cartazes e caracterização, casos de violência, oferecendo a perspectiva do sofrimento da vítima e a ignorância e covardia do agressor. O objetivo é que essa dualidade cause ainda mais impacto pois espera-se uma espécie de identificação com os fatos ocorridos, levando daí à reflexão e mudança de postura.

SMN: O conceito de violência contra a mulher é bastante abrangente. Pode-se falar de, além de violência física, de violência psicológica e também sexual. Na vida em sociedade, existem outras formas veladas de violência contra a mulher abarcadas pelo ato do último sábado?

Liana: É claro que houveram muitos avanços mas ainda existem muitos aspectos culturais que geram "pequenas violências" a serem extintos. Até mesmo quando uma mulher recebe uma cantada agressiva, por exemplo, existe a ideia errônea de que "o homem tem direito de fazer isso" apenas por ser homem e, dessa forma o corpo feminino faz parte de seu domínio.

Jussara: Essa mentalidade se perpetua desde sempre. A ideia de que a mulher tem de sofrer a violência e permanecer calada. Ou até mesmo transmitir a mesma violência para outras mulheres, quando aceitam uma "brincadeira" que as denigre, refletindo e validando esse tipo de comportamento. Machismo é uma questão cultural, ninguém nasce machista, as pessoas se tornam machistas quando recebem influencias e perpetuam comportamentos.

SMN: Como vocês enxergam a situação da mulher na sociedade atual? Atos como esses tem o poder de alterar circunstancias em um nível macro?

Jussara: Atualmente, os avanços que o feminismo traz para as mulheres são muito pontuais. A mulher tem sim o direito de votar, de trabalhar, mas ainda não é livre para vestir-se como deseja, ser o que deseja sem ser taxada como "vadia". Alguns argumentam que conseguimos maior espaço na política, mas não adianta ter mais mulheres em cargos públicos se as mesmas não estiverem alinhadas com pensamentos igualitários efetivos. Todo e qualquer avanço demora muito tempo para ser percebido pois é difícil mudar toda uma cultura. Nós queremos ajudar a construir na mente das pessoas ideias que já deveriam fazer parte do comportamento comum como: "mulher não é objeto", "violência física contra a mulher, em qualquer circunstância, é condenável"

Liana: O nosso papel é mostrar a realidade que muitas vezes é velada dos olhos da maioria pelo próprio senso comum e racismo. As pessoas procuram não enxergar esse quadro para não ter que confrontá-lo. E achamos isso essencial. Deve-se desconstruir ideias erradas veiculadas pela própria grande mídia, que muitas vezes molda e cristaliza comportamentos.

Jussara: ... porque em briga de marido e mulher se mete a colher sim! Porque tem alguém sofrendo com isso!


Fiquem ligados neurônicos, em breve, imagens do ato e mais material exclusivo!