quinta-feira, 26 de junho de 2014

Adeus Benilda...

Conheci a voz antes de saber do toque. O carinho que me dedicava, mesmo através de tantas linhas do horizonte, era morno e aconchegante como o querer de vó costuma ser... Mesmo antes de ter um rosto para guardar na lembrança, trazia comigo o seu riso franco, o falar cheio de sílabas abertas e convidativas à prosa de vários instantes, que combinavam tão bem com o passe-livre que mantinha em seu coração.

O amor por essa figura - que por tantos anos só pude imaginar como era - nos apresentou ao céu do Rio de Janeiro... à sua gente de andar ritmado, ao samba que reinava em cada esquina, ao ondulado da fala e das formas do carioca, que toma para sí a sinuosidade da topografia que se escreve ao redor e, mesmo que não se dê conta, é praia, é morro, é floresta, é metrópole, tudo amalgamado em um mesmo indivíduo.

E, quando finalmente habitamos o mesmo espaço, vó e neto confirmaram os laços com os olhos e já não havia tempo que não fosse único, já não havia momento que não se fizesse lágrima de alegria...

"Olha, meu neto, quantas bundas nessa praia!", e um riso largo expandiu-se e foi morar no universo... Porque era assim, incontida e alegre, livre e ingênua, com o sol a lhe morenar ainda mais a pele, e o calor a imitar-lhe a quentura do coração.

Se transformo a dor do adeus nestas palavras, é porque sinto que choro e tristeza em nada se ajustam à imagem que para sempre guardarei de ti, minha vó negra. Eis o meu jeito de dizer que amo tudo que me ensinaste apenas existindo e que espero ansioso pelo reencontro...

Que a sua luz ilumine ainda mais o universo!

2 comentários:

  1. emocionante, obrigada pelas palavras, ela é anjo e sempre será.

    ResponderExcluir
  2. minha tia meu amor , minha cúmplice, minha mãe, minha amiga, era tudo simplesmente, cor e alegria,ave e astronave, era a bússola , o agasalho. obrigada Rico rico de amor. Telma Tavares

    ResponderExcluir