sexta-feira, 18 de maio de 2012

Souvenir de Brasília

Estamos na reta final de uma das mais importantes campanhas de preservação ambiental já vistas no país, a campanha pelo Veto Total das mudanças no Código Florestal Brasileiro. O que muitos podem não saber é que essa mobilização em defesa das florestas já existe desde muito antes de atores globais aderirem ao #vetadilma, em um tempo em que a sociedade ainda não se via interessada em se posicionar.

O texto que vão ler a seguir é referente a uma manifestação ocorrida em março deste ano em Brasília, quando representantes de cerca de 200 organizações ambientais, científicas, representantes da sociedade civil e estudantes foram à capital federal tentar ser ouvidos. Devido a questões organizacionais, esse texto acabou não sendo publicado na época, mas segue abaixo para reforçar a continuidade dos esforços aplicados.

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Manifestação contra Novo Código Florestal reúne 2 mil pessoas em Brasília.

Enrico L. Boschi

Na última quarta-feira, dia 7 de março, Brasília foi palco de uma grande manifestação contra as propostas de alteração do atual Código Florestal Brasileiro, quando cerca de 2 mil pessoas entre cientistas, ambientalistas de mais de duzentas organizações ambientais, representantes da sociedade civil organizada e estudantes marcharam da Catedral Metropolitana de Brasília até a frente do Congresso Nacional para pedir o veto integral da presidente Dilma Rousseff aos textos em tramitação na Câmara e no Senado.

A data foi escolhida em razão da votação que estava prevista para ocorrer no dia anterior no Senado, e que acabou sendo adiada e remarcada para o próximo dia 13, devido a falta de consenso entre os partidos da base governista em relação a alguns pontos das duas propostas, além da pressão popular em torno do tema.

Um ponto que gera muita discussão e que sofreu forte oposição dos manifestantes presentes no ato em Brasília é retirada, por parte do Senado, dos mangues da categoria de Áreas de Preservação Permanente (beira de rios, mangues, áreas de risco, topos e encostas de morros, que devem ter proteção integral, livres de qualquer tipo de atividade). Desta maneira os mangues teriam, na região amazônica, um percentual de 10% de sua extensão legitimada para a produção da carcinicultura (criação de camarões), além de 30% de área nas demais regiões para o mesmo fim. Grande parte do grupo que compunha a manifestação integra o movimento #omanguefazadiferença, que considera que os riscos sociais e ambientais da ampliação desse tipo de cultura podem representar o fim das áreas de mangue no país, uma vez que essa atividade favorece a monocultura e adota processos agressivos a esse tipo de ambiente natural.

A questão dos mangues entra na pauta dos movimentos sociais e ambientais que refutam o projeto de novo Código Florestal, também em função da especulação imobiliária. Uma vez desprotegidos, esses ambientes, tidos como berçários dos oceanos, ficarão à mercê da construção de grandes empreendimentos imobiliários, como prédios e hotéis. Dessa maneira, afirma o movimento, também pescadores e apanhadores de caranguejos, por exemplo, correriam o risco de serem forçados a deixarem de viver e de sobreviver destas áreas. O movimento não deixa de citar também questões clássicas deste debate, como a ameaça às áreas naturais de florestas e os perigos sociais do projeto referentes, principalmente, à agricultura familiar (movimento que se une à questão dos manguezais).

A representante do Movimento dos Pescadores do Brasil Eleonora afirmou, em audiência com as lideranças dos movimentos que compunham o ato e os deputados Sarney Filho (PV-MA), Ivan Valente (PSOL-SP) e Armando Jordy Figueiredo (PPS-PA), que “A carcinicultura é um processo de criatório de camarão em cativeiro que, no capítulo 4, artigo 12 do texto do novo Código, traz que os carnicicultores que historicamente vem cometendo crimes ambientais, vão ser anistiados e esses empreendimentos, que hoje são ilegais no Brasil, vão receber a mobilidade de funcionar legalmente e ainda terão suas áreas ampliadas”.  

Ao todo, foram 28 alterações propostas ao texto do Senado pelo atual relator do projeto, deputado Paulo Piau (PMDB-MG), contemplando diversos tópicos como a retirada da obrigatoriedade de recuperação de Áreas de Preservação Permanente, além da continuidade da anistia a crimes ambientais que tornam a questão do Código Florestal bastante delicada e controversa, o que traz muita força ao debate e às manifestações como a ocorrida na última semana. A proximidade da Rio + 20, conferência mundial da ONU para assuntos de desenvolvimento sustentável, que ocorrerá entre os dias 13 e 22 de junho no Rio de Janeiro, representa também um fator importante a ser posto na balança do processo decisório em torno das novas leis ambientais, que se aprovadas, vão dificultar o cumprimento dos compromissos assumidos internacionalmente pelo Brasil relativos à diminuição de emissão de poluentes atmosféricos, desmatamento, entre outros pontos importantes para o alcance das “Metas do Milênio”.    

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