domingo, 2 de junho de 2013

Versos de quem cala

I

Fiz de mim reminiscência...
A noite desdobra-se em cálida mesura
Novamente, é tempo de poesia

Me abandono...

Senta o silêncio ao meu lado
Do chapéu retira uma carta
A lança no ar, como a interpelar-me

Como a dizer que lê minh'alma

De fato sabe dela mais que sei eu
Pois cada palavra não dita
Cada gesto que morre em essência  

É fragmento que a ele alimenta

E eu, arquejando...
Pra não me deixar consumir
componho versos...

II


Digo do amor que trago em mim
Das matizes azuladas e rosáceas que me traduzem
E que novamente teimam em pintar o impossível.

Confio às letras e ao silêncio
A dor exangue do poeta infecundo
Que ao plantar seus versos
encontra sempre um coração fechado.

E na ausência da plenitude
Caminha com olhos errantes
Fitos nos gracejos do horizonte.

III

Mora no silêncio também a minha busca
Dos Elíseos Campos onde termina a vida
Onde os dignos podem as armaduras deitar

Calam as entranhas dos caminhos
Como muita vez desejei calar a pegada
Do passo escrito em solidão

Andei sozinho, e continuo...
Tendo como fruto e companhia
Apenas os versos de quem cala

Que o silêncio me empurra a escrever...



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